Arquivo diário: 2 de Maio de 2019

EDITORIAL Nº 753 – 1/5/2019

patrao
Caro leitor,
Agora ou nunca, mas já é tarde.
É tarde para ser Padre, Médico, Advogado, Engenheiro ou outra profissão, mas nasci essencialmente para ser o que sou. Cada um nasce e torna-se artista, carpinteiro, bailarina, escultor, poeta, cantor, cientista e tantos outros papéis. Tudo o que Deus entende fazer falta neste mundo é criado.
Recordar muito o passado e sonhos que desapareceram com o tempo só nos faz parecer que não só sobrevivemos sem eles, como vivemos e prosperámos com outros sonhos que apareceram com o tempo. A distância, o tempo e a saudade deram-nos vida, amor e verdades, enquanto descobrimos que os sonhos passados são uma memória distante. Descobrimos que já é tarde.
Nas memórias de menino, recordo o sonho de um dia querer conseguir vencer na vida. Com esse propósito em mente fiz quase tudo: agricultor, pedreiro, carpinteiro, resineiro, vendedor, tropa, Guarda Fiscal, de novo construção, empresário, jornalista, político, agente funerário e até marido, pai e avô. Para outras aventuras, já é tarde.
Dou a vez aos meus filhos, que me são muito queridos, de continuarem os seus projetos. Para mim é já um pouco tarde para abraçar novos. Mas não faz mal, nem me apoquenta, porque nunca é tarde para construir amor, para isso nunca é tarde.
É tarde para a nova Universidade, mas nunca é tarde para concluir a Universidade a que me propus. Uma universidade de transparência, honestidade, dedicação e carinho verdadeiro que coloquei em tudo a que me propus, mesmo que ás vezes tenha colhido ódios. Vivo a olhar o Sol.
Nunca é tarde demais para acordar e para viver, assim como nunca é tarde demais para reconhecer que o fizemos.
Viva a Liberdade que nos permite fazê-lo todos os dias, a minha e a de cada um.

Abraço amigo,

A INFANTILIDADE DO POVO

Humberto Pinho da Silva
Admirava-se Demóstenes, que a multidão, delirasse ao escutar marinheiros ignorantes, que subiam à tribuna, e não ouvisse, com o mesmo entusiasmo, seus discursos, que eram literariamente perfeitos.
Ao lamentar-se a ator, seu amigo, este disse-lhe: para recitar poemas de Eurípedes ou Sófacles.
Demóstenes recitou alguns poemas Em seguida, Sátiro, declamou, e nem pareciam os mesmos….
Desde então, Demóstenes, convenceu-se: que para seu ouvido, com entusiasmo, não bastava construir bem as frases; mas, era necessário falar com convicção e ardor.
Isolou-se num subterrâneo, para que não fosse ouvido, e metendo seixos, na boca (era um pouco gago,) lia e discursava para as paredes.
E nunca mais deixou de cuidar da forma como se exprimia; acompanhando os discursos com gestos, e diferentes intuições.
Certa vez, estando a tratar assuntos de Estado, aos atenienses, verificou que pouca atenção prestavam.
Aproveitou o momento para demonstrar, que o povo não passa de criança-adulta, principalmente quando está em multidão.
E, interrompendo a importante dissertação, disse-lhes:
- “Lembrei-me, agora, de caso, e vou contar-vos, antes que o esqueça”.
Todos os olhos se cravaram no orador.
- “ Um homem alugou um burro, para ir a Atenas. O dono do burro acompanhava-o a pé. O calor era diabólico. Não havia sombras. Tudo fervia. Então, o homem, desmonta, e senta-se na beira da estrada, à sombra do burro. O dono do burrico, que sufocava de tanto calor, protestou, dizendo: “ Aluguei o burro, e não a sombra!”. Retorquia o outro, argumentando: “ Alugando o jerico, aluga, também, a sombra dele! …”
Demóstenes, suspendeu, com elegância, a capa, e desceu do púlpito.
A multidão reclamou, excitada:
- “ Queremos ouvir o resto da história! …”
Mas o orador, voltando-se para aquele mar de gente curiosa, rematou:
-” Para vós é mais importante a história de um burro, o que os negócios de Atenas! …”
Esta perícope, lembra-me o povo do nosso tempo: escuta com mais atenção o corrupto, o ambicioso, do que o virtuoso, cuidador do bem da Nação.
O povo não passa de criancinha, de memória curta; de cata-vento, que vira, consoante sopra a última brisa.
Sempre foi assim, e assim será… porque não há nada mais volúvel, que o ser humano.

REFLEXÕES

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GRUMAPA - Grupo Mangualdense de Apoio e Protecção dos Animais
Contributos para a história de Mangualde
Estávamos já bem dentro de 1997 e nós a braços com mais problemas. Não podíamos perder a oportunidade de conseguir o novo terreno. Permuta…permuta… Sem a colaboração da Autarquia não víamos nenhuma hipótese. Agendamos então uma reunião com o senhor Presidente, ao tempo senhor Engenheiro Barreiros. A nossa abordagem deixou-o estarrecido! Não lhe passava pela cabeça tamanho “disparate”!! A Câmara colaborar na aquisição de um terreno para uma associação que pretendia proteger animais ?!!! Mas como!!! “todos os dias há pessoas a subirem estas escadas a pedirem-me apoio para o arranjo de casas degradadas, de caminhos, de espaços públicos nas povoações, etc etc…. vêm agora pedir para os animais? Era só já o que faltava”!… Bom, a nenhuma receptividade não nos desiludiu, porque nós sabíamos bem, como muitas pessoas estavam a ser exigentes para terem, ao menos, um mínimo de bem - estar nas suas vidas. Sabíamos bem que as verbas não se multiplicavam nos cofres autárquicos e compreendíamos que a posição de um chefe autárquico seria, de imediato, não ceder a propostas que entendia não se coadunarem com as exigências da comunidade. Não ficamos por isso desiludidos. Sabíamos, sim, que teríamos de insistir tantas vezes quantas fossem necessárias, para provarmos que esta causa também reflectia grande sensibilidade e sentido de compaixão pelos que sofrem, quaisquer que sejam … E tantas vezes batemos à porta do Gabinete e com tantos argumentos, que o descoroçoado Presidente percebeu que teria mesmo de nos atender o pedido, para salvação da sua sanidade mental…! Nesse dia o sol nasceu duas vezes para nós.
E aqui chegados, começamos a movimentar-nos para desenvolver todo o processo que antevíamos moroso. A par disto continuámos a acudir dentro das possibilidades aos inúmeros animais que a cada passo eram encontrados num estado físico deplorável. Eram instalados na minha própria casa, em todos os espaços possíveis que me permitiam dar- lhes conforto e prestar todos os cuidados de saúde e alimento a expensas próprias, já que não havia vislumbre de colaboração de ninguém…
Entrámos entretanto em 1998. Ano de eleições. E as nossas negociações iam-se arrastando, até que finalmente o acordo foi firmado - Grumapa, Junta de Freguesia da Mesquitela, Câmara Municipal – entrava o nosso primeiro terreno, a venda pela Junta de Freguesia dos pinheiros ardidos e a participação da autarquia, aos poucos, consoante as necessidades. Finalmente! Foi um alívio!
Entretanto chegam as eleições e os destinos do Concelho mudaram de mãos. Entrou para Presidente o Dr. Soares Marques. Éramos colegas no IPV e mantínhamos um óptimo relacionamento. Sempre gratos ao Presidente cessante, ia começar para nós mais uma importante etapa. E as forças ainda não nos faltavam…
Abril 2019

IMAGINANDO

francisco cabral
PARTE 57
Lei da Atração-Continuação
O que é a Ressonância Harmónica?
Pode interpretar-se por adquirir à Onda eletromagnética toda a transferência de informação, onde estão passado, presente e futuro. É um continuum, porque tudo está aí. O Ego ao não oferecer resistência permitindo a permebialização pelo Cortex e Neo cortex assimila-a. Será uma escolha, um caminho para atingir o ponto alto do objetivo. Aí será o imediato. No entanto e por livre arbítrio, o Ego poderá oferecer resistência não querendo por “determinado tempo” assimilar essa transferência de informação, continuando outras experiências levando quase uma Eternidade o percurso da sua caminhada. Mas seja qual fôr o processo, com  mais ou menos tempo, todos havemos de lá chegar.
Quem precisa de informação deve fazer a ressonância, porque é uma ferramenta que nos oferece uma transferência de informação. Tudo no Universo é informação e energia ao mesmo tempo. Passado, presente e futuro são uma coisa só. Tudo o que acontece sintetizando, todas as nossas experiências, ficam gravadas para sempre nas respetivas frequências ou camadas do Universo. É o registo da soma de todas as nossas experiências. Dependendo de certas condições podemos acessar a elas. Também temos a possibilidade de transferir determinadas informações para uma pessoa especificamente personalizada. Todas as informações estão Nessa Onda.(Hélio Couto).
Estimados Leitores;
Ao longo destas semanas dediquei todo o meu saber a matérias que por vezes sendo consideradas incomuns, comunicam no nosso dia a dia. Sem interferir no pensamento de cada um de vós, transmiti o que aprendi ao longo dos meus anos.
Julgo ter cumprido uma missão.
Oportunamente lançarei um livro com todas estas matérias, desenvolvendo-as mais ao pormenor.
Irei continuar a colaborar com este Jornal noutros temas.
Quero  expressar os meus agradecimentos à redação do Renascimento, na pessoa do Exmº. Sr. Serafim Tavares, que permitiu dar voz à minha intuição.
Aproveito para desejar aos colaboradores do Jornal e a todos os seus Leitores, uma Feliz Páscoa.
fjcabral@sapo.pt

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UMA ALDEIA

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OS PÁTIOS RURAIS
Quintas airosas, ávidas de luz, sorvedoras de sóis que faziam arreganhar os ouriços dormentes em tempo de estio, lugarejos inóspitos ou aldeias rústicas, ruralizadas, alpendoradas na mansidão viçosa dos planaltos. Nenhuma existia que não tivesse seu pátio rural. Amplos e solarengos ou de reduzidas dimensões onde sempre um sol sorridente tinha oportunidade de beijar uma palha dourada, o milho e o feijão grados amontoados em rima servindo também para guardar os utensílios da lavoura; palcos mágicos onde gozando de uma liberdade pacificadora andavam á solta alguns animais domésticos, que com seus grunhidos, roncos, arrulhos, cacarejos e latidos reconheciam a mão que lhes dava o alimento. Pelos verdes anos da minha meninice e juventude navegaram sonhos eternos, vendo a ronda infinita das imagens bailar na minha lúcida memória. Apenas um pátio ainda preenche os meus devaneios, exalta a minha memória pelo seu enlevo, tamanho e carisma: o da tia Rosinha. Carinhosamente conhecida pela sua benevolência em acolher todos os mendigos e viajantes. Era um pátio interior, enorme, amplo, circundado por vários corrais para o gado, os porcos, os bois, as galinhas, um forno para cozer o pão, a broa de milho espelhada, bem cozida, estaladiça, e um lagar num granito aparelhado para pisar as uvas. Contíguo á casa de habitação uma enorme adega repleta de pipas e tonéis perfilados como exército de bravos guerreiros. No afago de um olhar como sonho ilusório de primavera batido pela réstea luminosa de um sol em declínio vislumbrava-se um amplo telheiro, espaçoso, coberto com telha vã onde se guardava o feno e a cana de milho para alimentar o gado no Inverno; a lenha era um amontoado de grossas cavacas de pinho seco dos pinheiros serrados na mata de “corrais“ e rachados com robustos machados e rijos pulsos, que iriam manter a lareira acesa alegre e crepitante nos gelados dias de Inverno. Também lá se resguardava o carro de bois do temporal e os utensílios da lavoura. No centro uma rima de milho para descascar (seria numa noite de animada desfolhada), do outro lado um monte de grão de bico para arrepenar e malhar, e mais além junto ao muro sólido, em pedra granítica assente pela mestria dos nossos pedreiros, mais duas rimas uma de chícharos, outra de feijão para debulhar. Durante o dia ao sol secavam-se os figos e as peras que fariam as delicias Natalicias, e o “mata-bicho“ nas ceifas e “arrancas“. No Inverno e aproveitando o tempo frio procedia-se á matança do porco: colocava-se o carro de bois no centro do pátio e aí se matava e limpava o porco, sevado lustroso e gordo criado durante o ano com as hortaliças criadas no “lameiro”. As galinhas e os seus pintos depenicavam frenéticamente as ervas que iam crescendo e os grãos esquecidos e espalhados pelo chão do pátio. Ali também as crianças aprendiam a dar os primeiros passos e gozavam de total liberdade nas suas brincadeiras. Sazonalmente abrigando-se das agruras do tempo era porto de abrigo temporário de “saltimbancos“ e “farrapeiros“. Por altura da feira dos Santos quando o frio já começava a fazer lacrimejar os olhos das plantas os ventos frios perpassavam as ramagens e caíam já alguns pingos de chuva, arribavam então “os burriqueiros“ com suas enormes récuas que nos próximos dias iriam vender na Feira dos Santos, chegando á hora em que já se via por trás da luz a escuridão, cansados e ali se albergavam durante alguns dias e noites. Outras casas de dimensões mais reduzida tinham os seus logradouros, outras as quintãs que eram pequenos espaços de terreno arável que ainda davam para plantar pequenas hortas. Era esta a minha aldeia, terra que meus sonhos enverdece, e onde eu, árvore humana, criei raízes e ramagens que abraçam as estrelas e que maternalmente me trouxe ao colo e me cantou melodiosas canções para eu adormecer.

SANFONINAS

dr. jose
A alpercata da ‘selfie’
Ainda hoje, por mais que a oiçamos, nos enternecemos com a criação de Paulo de Carvalho: «Os meninos à volta da fogueira…». Toda uma ternura, uma inocência, um auspicioso mundo de sonho que esperam os adultos venham a lograr construir!...
Atira-nos para um tempo antigo, em que o pedaço de ferro da grossura de um dedo, arranjado nas obras, podia ser soldado e se tornava no arco, que uma gancheta, também ela por ali obtida, mas mais fina, empurrava à perfeição!... E o carro de assalto feito de um carro de linhas dos grandes, cujo círculo se golpeava para ser roda dentada, movida pelo lento desenrolar do elastrinho que um pau de fósforo ajudara a ser mola propulsora.... E a bola, feita dos trapos arrebanhados aos pés das moças da costura e metidos numa meia velha… E a forqueta bem ajeitada, com dois elásticos cortados a preceito, de uma câmara-de-ar de bicicleta, atados de um lado e doutro de um pedaço de sola (qual funda) e … e lá estava a fisga para ir aos pássaros ou para desafios de pontaria…
Tudo isso se atafulhou de supetão na minha cabeça, quando vi a imagem, hoje mui justamente a correr mundo e a despertar sorrisos. Sim, que outras reacções não há possíveis no imediato: sorrir e… partilhar! E, claro, louvar quem captou a cena, quer a tenha encenado, quer ela se lhe tenha deparado assim, de repente, ingénua e sorridente, como a vemos.
Louvado seja, de facto e com inteira justiça, quem se lembrou, o adulto ou a criança. Aquela criança, aquelas crianças… Temos mesmo de parar e de olhar!...
Se não erro, terá surgido pela primeira vez, a 28 de Fevereiro, numa página da Internet, «linda de mais para não ser vista por todo mundo» – escreveu-se de imediato. E Manuela Augusto comentou: «Fiquei emocionada com esta foto. Será que estas crianças, na sua humildade, não são mais felizes do que as nossas, que, logo de bebés, usam o telemóvel? Estas inventam, brincam com o que têm e, pelas caras, estão encantadas». Quem fez a fotografia «mostra a grandeza da alma e da generosidade para com os outros. Grande exemplo!».
Aquela alpercata, artisticamente enganchada na mão, representa para os meninos o gozo maior, a pirraça aos adultos que eles ainda não são e sonham ser, e que, neste momento, estão certamente muito mais felizes e despreocupados e ricos de emoções do que a maior parte de nós quando tira uma selfie, só porque… se tem de tirar!... A alpercata assim empunhada não será, afinal, bem significativo libelo?

ESCRAVATURA

juiz
A escravatura traduz-se numa prática social em que um ser humano se arroga direitos sobre outro que mantém na sua dependência absoluta e incondicional.
É possível surpreender, ao longo da História, várias formas e modalidades de escravatura nos diversos povos que a praticaram. Quando a escravidão era integral, o escravo era juridicamente considerado uma coisa, o que dava ao respetivo dono a possibilidade de fazer dele o que quisesse, ou seja, exatamente o mesmo que lhe seria permitido fazer com qualquer objeto seu.
A condição jurídica do escravo segundo o Código de Hamurabi é traçada da seguinte forma: “era considerado como um bem móvel entre os metais preciosos e os animais domésticos, podendo ser vendido, trocado ou depositado como garantia”.
Os escravos podiam ser vendidos ou comprados sem que pudessem manifestar qualquer oposição. O preço de cada um variava conforme a idade, a compleição física, a habilidade profissional, etc. Porém, em Esparta, os hilotas não podiam ser transacionados, porque pertenciam ao Estado, embora este pudesse conceder a outrem o direito de uso de alguns.
Praticamente todos os povos adotaram a escravatura. Foi assim com os povos da Mesopotâmia, com os Hebreus, Romanos, Celtas e Gregos. Nas épocas mais remotas os escravos resultavam dos conflitos tribais. Os vencidos poupados à chacina eram reduzidos à condição servil, sem quaisquer direitos. Esta atitude já significava uma certa condescendência, visto que lhe era poupada a vida, e era uma forma de obter mão de obra para a produção num tempo em que não existiam máquinas. Filósofos e juristas procuravam encontrar uma justificação para esta prática. Entre os primeiros, Aristóteles considerava que se tratava de algo natural.
A doutrina da Igreja aceitava este modo de escravatura quando se tratava de prisioneiros feitos em guerras “justas”. O conceito permitia, porém, variadas interpretações. A certa altura, em Angola ter-se-á mesmo adotado a prática de o Governador consultar a tal respeito os Jesuítas sobre se determinada guerra que estava a ser planeada seria considerada “justa” para aquele efeito.
Parece que a escravatura de negros não terá sido uma “invenção portuguesa” como tem sido muitas vezes propalado. Constituiu antes a persistência do tráfego Veneziano no Mediterrâneo durante os séculos XIV e XV. Quando os portugueses chegaram a África já era praticada largamente em Marrocos, na Argélia, na Tunísia e no Egito.
“Os primeiros cativos feitos pelos navegadores do Infante D. Henrique entre os azenegues do Sul de Marrocos não obedeceram a intuitos esclavagistas, mas à intenção de contacto com os aborígenes ou de represálias. Só mais tarde, a exemplo dos Genoveses e Venezianos, os descobridores e comerciantes se lançaram no tráfico propriamente dito, constituindo para esse efeito, ligado também ao comércio de ouro e marfim, a Companhia de Mercadores de Lagos”.
Para a recolha dos escravos em África contribuíam os chefes indígenas que vendiam os prisioneiros de guerra tribais, criminosos reduzidos à escravatura ou ainda os que voluntariamente se ofereciam por sentirem a carência de alimentos em anos de secas ou de pragas que dizimaram os campos.
A luta contra a escravatura ia ganhando dimensão. Fazia-se sentir a necessidade de lhe pôr cobro, mas não era fácil. Certas culturas agrícolas, como a da cana do açúcar, no Brasil, não se podiam fazer sem a mão de obra escrava. Mas, para além disso, também as famílias em Portugal começaram a ter escravos ao seu serviço. Em 1551, dos 100.000 habitantes de lisboa, cerca de 10% eram escravos pretos.
Apesar disso, o Marquês de Pombal aboliu a escravatura a 12 de Fevereiro de 1761, passando Portugal a ser o primeiro no abolicionismo. Contudo, a grande extensão dos territórios sob o domínio português e as dificuldades de controlo fizeram com que muitos negreiros tivessem continuado a fazer o transporte de escravos africanos. Finalmente, a 25 de Fevereiro de 1869, teve lugar a abolição prática e completa da escravatura em todo o Império Português.
Será que a partir desta data não mais se pode falar de escravidão? Infelizmente ainda nos dias de hoje existem várias formas de escravidão: trabalho forçado, servidão obrigatória, tráfico de mulheres e de crianças, exploração sexual, trabalho infantil, casamentos forçados, tráfico para a remoção de órgãos, escravidão por dívidas, venda de noivas, recrutamento de crianças em conflitos armados, etc., etc.
Para relembrar que ainda existem estas formas de escravidão, foi criado, em 2004, o Dia Internacional da Abolição da Escravatura pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estima que existam 21 milhões de vítimas de escravidão espalhadas pelo Mundo. A data passou a ser a de 2 de Dezembro.

A Barragem de Fagilde

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Só te lembras de Santa Bárbara, quando troveja. Este aforismo popular adapta-se perfeitamente ao nosso país. Vem o Verão, os incêndios, não se fala noutra coisa. Medidas e mais medidas. Caiem as primeiras chuvas no Outono e fica tudo esquecido.
O mesmo com a seca. Não chove, falta a água, as barragens diminuem o seu caudal. E, logo surgem mil medidas para resolver o problema. Mal as serras escorrem para essas barragens as primeiras água, fica tudo como dantes.
Fiquei curioso com uma notícia publicada em 7/2/19: “ Autarca de Viseu lança alerta; Barragem de Fagilde com prazo de validade inferior a 10 anos “.
Natural de Fagilde, interessei-me muito por esta notícia e procurei aprofundar este alerta.
A Barragem de Fagilde localiza-se no Rio Dão e foi construída entre Agosto de 1982 e finais de 1983. Trata-se de uma barragem construída em betão e abrange uma área de 428 Km2. Desenvolve-se por cerca de 4,5 Kms com capacidade para 2,8 hm2. É do tipo descarregador com uma altura máxima de 26,6 metros.
O promotor da sua construção foi o Instituto da Água e o dono os Serviços Municipalizados de Viseu.
As barragens são grandes obras de engenharia que, pelas suas funções, têm sempre um importante impacte económico, humano e ambiental, na sua zona de implantação e nas áreas circundantes.
A Barragem de Fagilde, a 7 Kms de Viseu é a principal fonte de abastecimento da cidade com cerca de 100 mil habitantes e por isso gasta 70% da água. As outras cidades, Mangualde 11,5%, Nelas 15,5% e Penalva do Castelo 3%. Acrescentar a água retirada para apagamento de incêndios.
As secas dos últimos anos, a falta de chuvas abundantes levaram a barragem no ano de 2018 a 15% da sua capacidade. Foi necessário descarregar na barragem, diariamente, milhões de metros cúbicos de água e mobilizar 27 camiões cisternas para a operação. Isto com custos altíssimos.
Até aqui tudo bem. Logo se pensou em aumentar a retenção da água colocando secadeiras e aumentando a capacidade de armazenamento de 2,8 milhões de m3 para 4,3 milhões.
A juntar ao alerta do Autarca de Viseu, referido no início desta crónica, o Autarca de Mangualde em 10/11/17: - “Mostrava-se preocupado com a possibilidade de colapso total da Barragem de Fagilde”. Preocupante, não é?...
Procurei um estudo feito em Dezembro de 2016 elaborado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia ( Autor-Samuel Pereira, Orientadores – José Gomes e António Batista) que trataram a Barragem de Fagilde como um caso de estudo. É um estudo pormenorizado, técnico, com 162 páginas. Está na Internet e pode ser consultado por toda a gente.
O estudo sobre “O Comportamento Estrutural da Barragem de Fagilde”,é muito longo e vou apenas salientar parte das conclusões:
1- Esta barragem apresenta elementos na sua estrutura com fendilhações expressivas . Isto é fendas com ruptura de água. Mostra fotos.
2 - Problemas no contraforte à esquerda e no parâmetro de jusante da abóboda da direita. Mostra fotos.
E para não me alongar mais, depois de análises ao processo expansivo que já induziu deformações bastante elevadas nas estruturas e nas fundilhações visíveis, a conclusão final : “A análise do comportamento estrutural da Barragem de Fagilde, ao longo da sua vida, revelou-se um desafio complexo, no que respeita à sua modelação, pois trata-se da barragem portuguesa mais deteriorada por reacções expansivas “. E por aí fora…
E eu pergunto : - Será sensato estar a aumentar a carga na barragem com estes problemas ? Será a este estudo que os Autarcas se referem ?
Talvez o Ministro Matos Fernandes, mais avisado, tenha aconselhado em 5/9/18 os Autarcas : - Se os autarcas da região se entenderem a obra da nova Barragem de Fagilde iniciar-se-á de imediato”.
A nova barragem custa 17 milhões de euros. Tem muito mais capacidade, mas acima de tudo tem muito mais segurança.
Há anos, com o inverno rigoroso, a Barragem encheu e transbordava. As comportas não funcionavam para fazer as descargas. Depois, lá funcionaram.
Imaginam o que seria a barragem colapsar, segundo as palavras do Autarca de Mangualde! … Quantas mortes, quantos milhões para repor os prejuízos !
É melhor, mais seguro, mais barato, fazer uma nova barragem.