EDITORIAL Nº 750 – 15/3/2019

serafim tavares
Caro leitor,
Hoje vou falar-vos daquilo que o ser humano não gosta de falar nem pensar: a morte.
O princípio da morte é o nosso nascimento. Desde esse dia, persegue-nos todos os dias da nossa vida e, mesmo a caminhar ao nosso lado, evitamos pensar nela. Desde pequeno que ouço dizer que a morte é a coisa menos falada e a mais usada.
Como alguns de vocês sabem, caros leitores e amigos, parte do meu trabalho implica lidar proximamente com a morte alheia. Recentemente, e à semelhança de outros amigos antes, disse-me um amigo, quando estava eu nos Granitos Pimentel e Tavares Lda: “Oh Serafim!! Tu aqui és diferente, tens alegria. Na Funerária pareces outro, ficas triste”. Pus-me então a pensar e cheguei à conclusão que esse meu amigo tem razão. Na Funerária encarno e vivo a tristeza dos outros, sem disso me ter apercebido até me terem alertado para o fato. Sempre gostei e gosto de me rir, mas aparentemente a vida também me ensinou a “rir com os que riem e a chorar com os que choram”. Fazia-o naturalmente porque ambos são frutos da empatia.
Dá-me algum consolo, que a morte pode ser o fim da vida mas não a cancela. É possível vencer a morte, pois a morte não tem aguilhão. Para isso é só não levar uma vida errante, mas como dizia S. Paulo “a alma está pronta mas a carne é fraca”.
Os sentidos que nos permitem viver, os olhos, a língua, o nariz, as mãos e os pés, são a melhor coisa que o homem tem, mas pode ser também a pior coisa que o homem tem, porque nos podem distrair de coisas com mais valor. Nenhum destes sentidos funciona sem o cérebro. O Homem, pode dizer-se, tem dois lobos dentro de si e o que faz verdadeiramente a diferença é qual deles alimenta: o bom ou o mau. Se é respeitador ou não, trabalhador ou não. O Homem bom procede sempre de forma a deixar este mundo melhor do que o encontrou. O que trabalha come o pão do suor do seu rosto, o que não trabalha come sempre o pão de alguém. E aqui o estado é o exemplo da desgraça. Isto a propósito da morte. Há seres humanos que vivem mortos na casa terrena, simplesmente à espera que a alma suba…
Poucos são os que morrem em casa. Ainda bem…. Ou ainda mal… morrem no lar, ou no Hospital, longe de quem gostam, sem amor. Pensamos nós que connosco vai ser diferente. Não faz mal, ainda não chegamos lá, quando chegarmos lá logo se vê.
Confesso que já estou triste a escrever sobre a morte, outro dia continuarei. Sempre ouvimos dizer que dos fracos não reza a história e a morte desses é mais definitiva. Folgo em viver com as memórias que partilhei com amigos que morreram com a dignidade de quem viveu uma vida boa e por isso são lembrados.

Abraço amigo,