COSTUMES E TRADIÇÕES

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A PÁSCOA NA MINHA ALDEIA
Já as mimosas se desdobram em vastidões luminosas e pintalgadas de um amarelo de oiro, os passarinhos simples da montanha chilreiam e a Primavera esboça um rasgado e deleitoso sorriso. Nasce em cada dia uma Primavera toda ela envolta em seus verdes e densos pinheirais. Em doirados tempos matutinos como auréola de um som amanhecente, aproxima-se o domingo que antecede a Páscoa, é o domingo de ramos. Secular ritual cristão e nossa tradição, em grupo deslocávamo-nos á vila de Mangualde para assistir á missa da bênção dos ramos, feitos na véspera em casa com rama de oliveira, pequenas ramificações de um alecrim em flor, perfumado, e uma pernada de loureiro esparramado em vistosas florinhas como botões. Alguns mais sofisticados eram ainda enfeitados com flores de camélia ou japoneira, adornados de bolachas e rebuçados, reflexo condicionado para olhos gulosos. No domingo de Páscoa todas as pessoas se levantavam cedo para confeccionar alguns bolos como o pão de ló o folar ou os bolos de azeite, burilar sobremesas como a aletria, o arroz doce ou o fio de ovos. Paulatinamente chegava a hora da missa e já crepitava o lume no fogão para no forno assar o cabrito e as batatas. Em esmerado arranjo ficava já preparada a mesa da sala com uma toalha branca, e sobre ela os pratos os talheres e os copos. O dia era especial e pela sua simbologia era dever, quase obrigação assistir á missa com uma roupa nova. No regresso já o cabrito estava pronto e a mesa posta. Urgia reunir a família e ir para a mesa. Quando a tarde airosa iniciava a sua descida em resplendorosos raios de luz, era chegada a hora de se preparar a mesa com a toalha de renda ou linho bordadas á mão e polvilhá-lha de iguarias como o pão-de- ló, queijo fresco amêndoas e vinho. O requinte da mesa estava preparado para receber “o compasso” que trazia á frente o mordomo com a cruz do Senhor Ressuscitado, brilhante e florida, seguiam em passo rápido os restantes mordomos com a caldeira da água benta, a sineta e o saco para a contribuição dos crentes enquanto o sr. Padre no final do grupo, acompanhado pelo povo num acto profundo de uma fé enraizada entoavam o cântico litúrgico de “hoje é o dia em que o Senhor ressuscitou, aleluia, aleluia, aleluia, “aspergia água benta pela casa e cumprimentava seguidamente familiares e amigos. Percorriam todas as casas dando a beijar a cruz e Cristo Ressuscitado. Para anunciar o início da visita Pascal era tocado o sino da capela a repenico. Acompanhando o “compasso “ ia-se também a casa dos vizinhos para beijar a cruz. O dia termina em convívio com as pessoas a festejar a Ressurreição do Senhor. Era tradição no domingo de Páscoa os afilhados receberem dos padrinhos “ o folar””. A semana é ainda um prolongamento do próprio domingo de Páscoa , bela formosa e linda em sua graça.