A Barragem de Fagilde

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Só te lembras de Santa Bárbara, quando troveja. Este aforismo popular adapta-se perfeitamente ao nosso país. Vem o Verão, os incêndios, não se fala noutra coisa. Medidas e mais medidas. Caiem as primeiras chuvas no Outono e fica tudo esquecido.
O mesmo com a seca. Não chove, falta a água, as barragens diminuem o seu caudal. E, logo surgem mil medidas para resolver o problema. Mal as serras escorrem para essas barragens as primeiras água, fica tudo como dantes.
Fiquei curioso com uma notícia publicada em 7/2/19: “ Autarca de Viseu lança alerta; Barragem de Fagilde com prazo de validade inferior a 10 anos “.
Natural de Fagilde, interessei-me muito por esta notícia e procurei aprofundar este alerta.
A Barragem de Fagilde localiza-se no Rio Dão e foi construída entre Agosto de 1982 e finais de 1983. Trata-se de uma barragem construída em betão e abrange uma área de 428 Km2. Desenvolve-se por cerca de 4,5 Kms com capacidade para 2,8 hm2. É do tipo descarregador com uma altura máxima de 26,6 metros.
O promotor da sua construção foi o Instituto da Água e o dono os Serviços Municipalizados de Viseu.
As barragens são grandes obras de engenharia que, pelas suas funções, têm sempre um importante impacte económico, humano e ambiental, na sua zona de implantação e nas áreas circundantes.
A Barragem de Fagilde, a 7 Kms de Viseu é a principal fonte de abastecimento da cidade com cerca de 100 mil habitantes e por isso gasta 70% da água. As outras cidades, Mangualde 11,5%, Nelas 15,5% e Penalva do Castelo 3%. Acrescentar a água retirada para apagamento de incêndios.
As secas dos últimos anos, a falta de chuvas abundantes levaram a barragem no ano de 2018 a 15% da sua capacidade. Foi necessário descarregar na barragem, diariamente, milhões de metros cúbicos de água e mobilizar 27 camiões cisternas para a operação. Isto com custos altíssimos.
Até aqui tudo bem. Logo se pensou em aumentar a retenção da água colocando secadeiras e aumentando a capacidade de armazenamento de 2,8 milhões de m3 para 4,3 milhões.
A juntar ao alerta do Autarca de Viseu, referido no início desta crónica, o Autarca de Mangualde em 10/11/17: - “Mostrava-se preocupado com a possibilidade de colapso total da Barragem de Fagilde”. Preocupante, não é?...
Procurei um estudo feito em Dezembro de 2016 elaborado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia ( Autor-Samuel Pereira, Orientadores – José Gomes e António Batista) que trataram a Barragem de Fagilde como um caso de estudo. É um estudo pormenorizado, técnico, com 162 páginas. Está na Internet e pode ser consultado por toda a gente.
O estudo sobre “O Comportamento Estrutural da Barragem de Fagilde”,é muito longo e vou apenas salientar parte das conclusões:
1- Esta barragem apresenta elementos na sua estrutura com fendilhações expressivas . Isto é fendas com ruptura de água. Mostra fotos.
2 - Problemas no contraforte à esquerda e no parâmetro de jusante da abóboda da direita. Mostra fotos.
E para não me alongar mais, depois de análises ao processo expansivo que já induziu deformações bastante elevadas nas estruturas e nas fundilhações visíveis, a conclusão final : “A análise do comportamento estrutural da Barragem de Fagilde, ao longo da sua vida, revelou-se um desafio complexo, no que respeita à sua modelação, pois trata-se da barragem portuguesa mais deteriorada por reacções expansivas “. E por aí fora…
E eu pergunto : - Será sensato estar a aumentar a carga na barragem com estes problemas ? Será a este estudo que os Autarcas se referem ?
Talvez o Ministro Matos Fernandes, mais avisado, tenha aconselhado em 5/9/18 os Autarcas : - Se os autarcas da região se entenderem a obra da nova Barragem de Fagilde iniciar-se-á de imediato”.
A nova barragem custa 17 milhões de euros. Tem muito mais capacidade, mas acima de tudo tem muito mais segurança.
Há anos, com o inverno rigoroso, a Barragem encheu e transbordava. As comportas não funcionavam para fazer as descargas. Depois, lá funcionaram.
Imaginam o que seria a barragem colapsar, segundo as palavras do Autarca de Mangualde! … Quantas mortes, quantos milhões para repor os prejuízos !
É melhor, mais seguro, mais barato, fazer uma nova barragem.