O Penedo da Moura Encantada *

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Reza a história que no alto da Serra de Fagilde, sobranceira ao Rio Dão, há um penedo antigo tão duro de granito como de mistério. Alimentava a curiosidade e o medo das vizinhanças.
O Penedo da Moira Encantada, como é conhecido, lá está, sobranceiro ao Rio Dão, hoje Barragem de Fagilde, desafiando os espíritos mais valentes e obstinados.
Há muito que ouvia falar no Penedo da Moira Encantada e da lenda que o rodeia. Desde miúdo que ouvia histórias contadas à lareira, no Inverno, enquanto o madeiro de pinho crepitava e a chuva e o frio fustigavam as casas e os campos, as maravilhas da Moira Encantada. Velhos e velhas, espíritos sábios, ouviram de seus antepassados e repetiam essa lenda.
Não era fácil imaginar uma moira encantada ! E muito menos antever, imaginar a possibilidade de haver um tesouro no interior do penedo ! Os mais gananciosos esqueciam a moira e só sonhavam apoderar-se do tesouro. Segundo a lenda , talvez ouro em pó.
Um dia, um compatrício, desafiou-me a ir visitar o Penedo da Moura Encantada. Eramos três os aventureiros. Eu, o meu filho mais velho Pedro e o guia.
Subimos a serra desde a Barragem, onde ficou o automóvel. Fomos trepando entre giestas e tojo. Não era fácil, a vegetação era densa e em alguns sítios ultrapassava as nossas cabeças. Esta vegetação, na Primavera, cobre-se de flor de um verde amarelado e é um verdadeiro espectáculo para os nossos olhos.
Chegamos e estávamos em frente de um maravilhoso penedo, coberto de uma fina camada de musgo verde, ao longo de muitos séculos.
Os antigos falavam dos cuidados a ter com as moiras encantadas e era bem melhor tê-las de largo que de perto. E talvez por isso, poucos, se aventuravam a fazer-se ao caminho.
O Penedo estava ali em frente ! Magnífico Penedo !
Era preciso procurar o sitio certo para bater com uma pedra contra o penedo.
Tens medo de ir ao penedo, inquiri meu filho ? E os olhos brilhavam de medo e curiosidade ! Então apanha uma pedra e bate nesse sítio.
Parou o nosso olhar e o pensamento !
Um som vindo da profundeza da caverna, ecoou pela serra ! Uma serpente acordou assustada e deslizou por entre o mato.
Subimos o penedo – uma paisagem maravilhosa sobre a Barragem. Para Este o Monte da Senhora do Castelo com a bonita ermida lá no alto.
No seu livro “ Dias de Festa”, a escritora mangualdense Ana de Castro Osório, no conto “ As Janeiras” se refere à Ermida da Senhora do Castelo e das mouras encantadas que se escondem nas pedras truncadas do velho castelo a chorar seus encantos mortos.
Monte da Senhora do Castelo, onde outrora, diz a história, existiu um castelo roqueiro de dentadas ameias. Aí viveu o chefe mouro Azurão, que viria a dar o seu nome ao concelho de Mangualde. Aí viveu e lutou. Combates sangrentos entre mouros e cristãos. Do velho castelo não existe nada. Há homens, que brutos de ideias e mediocres de futuro só sabem destruir.
Dali, do alto, Azurão vislumbrava os horizontes da Beira Alta. Terras e terras a perder de vista. Estratégico e valoroso elemento da defesa da região ! Uma sentinela das terras da Beira Alta.
Pois seria a Moira Encantada descendente de Azurão ? Uma filha a quem Azurão pediu ao feiticeiro para encantar ? Dá-lhe beleza de rosto e corpo e uns pés de cabra.
E a Moira Encantada refugiou-se no penedo. Contam as lendas que em noites de luar ela aparecia aos feirantes que atravessavam o rio e a serra para encurtar caminho.
Um dia, uma mulher, com o seu cestinho à cabeça, foi interpelada pela moira. Pediu-lhe para pentear os seus maravilhosos cabelos compridos e pretos de azeviche.
A feirante quando estava a pentear a moura reparou que ela tinha pés de cabra.
Assustada, fugiu serra fora. A Moira perseguiu-a e metendo a mão na cesta meteu-lhe lá a recompensa pela sua ajuda. Mas avisou : - só podes ver o que te ofereci quando chegares a tua casa.
A mulher, atravessou o rio, e pensando estar longe da moira, parou, pôs o cesto no chão e quis ver a oferta da moira. E ficou espantada ao ver no cesto um pó preto. Sacudiu o cesto e deitou o pó fora.
Ao chegar a casa, retirou do cesto as compras e reparou que lá no fundo estavam uns magníficos e brilhantes grãos de ouro. Oh! Milagre dos milagres … O que é isto ? O pó preto transformou-se em ouro mais dourado e brilhante que o Sol ! … Aí percebeu a asneira que fez e voltando ao local onde deitou o pó fora já nada encontrou.
Por isso o povo diz: - “ O milagre, a felicidade só bate uma única vez á nossa porta”.

Depois desta extraordinária aventura regressamos serra abaixo até ao carro.
Não tardava a noite a cair. No céu iriam aparecer milhares de estrelas e uma lua esplendorosa.
A aventura acabou, mas o Penedo da Moira Encantada, da Serra de Fagilde lá está à espera de mais curiosos.
*Conto a incluir no livro “ Ventos da Serra”, em preparação.