Inconveniências de um Turismo sem regras

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Portugal, por caprichos da natureza, geograficamente, está colocado neste cantinho da Europa. No sec.XIX e inicio do sec. XX, as coisas que se passavam nos países mais distantes chegavam sempre com algum atraso. Era o combóio Sud Expresso, ligando Paris a Lisboa, inaugurado em 4 de Novembro de 1887 (há 133 anos ) considerado o “comboio da cultura,” que trazia as últimas modas de Paris. Até aí era difícil saber novidades.
Este secular comboio, dos tempos áureos da “Bele Époque” foi posteriormente o comboio dos jovens que fugiam à guerra do Ultramar e dos emigrantes que procuravam na Europa o que o país lhes não dava. O Sud Expresso é dos últimos sobreviventes dos Grandes Expressos Europeus. Com a CP que temos, quanto tempo resistirá?
Todo este intróito para dizer, que nos dias de hoje a informação nos chega quase na hora.
Voltando ao Turismo, fenómeno em expansão, há que ter cuidado e muita atenção no que se passa nos tais países desenvolvidos, onde, porque começaram mais cedo, também mais cedo chegaram os problemas.
Comecemos pela Itália, um dos grandes destinos do turismo. Em Cinque Terre, dada a grande massificação do turismo, isto é, turistas a mais, vão limitar o número de visitantes, reduzindo de 2,5 milhões para 1 milhão. E há multas que podem chegar aos 2.500€ para quem usar chinelos nos caminhos íngremes das montanhas. Isto porque influência o resgate de turistas acidentados.
Veneza vai introduzir um imposto a quem pretenda visitar o Centro Histórico da Cidade. Vão ser criadas taxas para um dia e para quem passar mais dias. Taxas de 3€ em 2019 e de 10€ em 2020.
Há poucos dias, milhares de pessoas saíram à rua para exigir a interdição de cruzeiros. Esta tendência está a crescer em vários Centros Históricos Europeus.
Os grandes navios, autênticas cidades flutuantes, com milhares de passageiros a bordo, estão conotados com emissão de certos níveis de poluição. Poluição que é superior 86 vezes a todos os automóveis que circulam no país.
La Valeta, em Malta, há um forte desagrado com o turismo de massas. Os barcos despejam à mesma hora milhares de turistas no Centro Urbano.
Na Grécia, em Santorini vão diminuir a chegada de navios de cruzeiros. Chegavam 10.000 turistas e vão só chegar 8.000. Os problemas são com o consumo da água e com a importação dos bens que necessitam. Nos barcos, os passageiros viajam normalmente com o regímen de “tudo pago” e por isso pouco deixam nas cidades que visitam. Há contudo excepções em que pernoitam uma noite num hotel, usam os restaurantes e fazem compras no comércio. E são de grande qualidade. O turismo é acima de tudo um negócio. E tudo tem que ser estudado.
Dubronik, na Croácia, por causa da “ Guerra dos Tronos” o número de visitantes atingiu uma cifra impossível de gerir. Dez mil visitantes dia. Já foram tomadas medidas para reduzir para 4.000 por dia. Foi preciso instalar câmaras para monitorizar a entrada e saída de visitantes.
A chegada de cruzeiros à cidade de Bruges na Bélgica, Património da Humanidade, a cidade mais visitada, o porto que serve a cidade com capacidade para receber 5 navios simultaneamente, vai passar a receber 2 e preferentemente em dias de semana.
Em Espanha, Barcelona, aqui ao lado, os habitantes acham que o maior problema da cidade é o excesso de turistas. E vão cobrar taxas a quem fique um dia sem pernoitar. E já há agressões e vandalismo. Os grupos, com guia em número de 15 ou mais pessoas, só à semana e proibidos à sexta e sábado. E se provocarem aglomeração, atrapalharem as compras ou a circulação podem ser convidados a sair.
Em Madrid, bem mais pertinho, o problema tem a ver com os carros. Nos últimos dias tem havido protestos contra o trânsito automóvel no centro da capital. Mais de 50.000 pessoas estiveram nas ruas contra a poluição.
Mesmo na cidade do Porto que nos últimos dois anos tem tido um acréscimo de turistas, já se levantam vozes na Assembleia Municipal a dizer:- “ a Câmara pouco tem feito para controlar a pressão turística que, deixada ao sabor do mercado, traz mais problemas que benefícios à cidade!”. E, neste momento, à espera de novo Regulamento, está suspensa a autorização do Alojamento Local.
Em face do exposto, as Regiões de Turismo, as Câmaras Municipais, têm de estar atentas a estes fenómenos.
E a solução não é difícil. É escolher turistas de qualidade. Menos turistas, melhores turistas.
Se não houver cuidado e medidas criadas atempadamente, no futuro, bem próximo, o Turismo vai ser um problema.