IMAGINANDO

francisco cabral
PARTE 65
Continuação
Além das queijadas de Sintra, esta região também se dedicou a uma outra doçaria com bastante qualidade: Os Fofos de Belas.
Para nos situarmos, esta Vila foi uma antiga freguesia do Concelho de Sintra e está enquadrada entre a Carregueira a Norte, Monte Abraão e Serra da Silveira a Sul.
Remontemos aos tempos  pré-históricos e outras civilizações seguintes:
Devido às abundantes linhas de água principalmente das ribeiras de Carenque e da Jarda, houve aqui uma fixação populacional, desde a pré-história, como comprova o Monumento Natural de Carenque, jazida de pegadas de Dinossauros quadrupedes Herbívoros e bípedes Carnívoros, descoberta em 1996 e com uma idade estimada entre 90 a 95 milhões de anos,  encontrada numa pedreira desativada.
A presença humana aqui, remonta do Paleolítico (Idade da Pedra Lascada), passando pelo Neolítico (período da pedra Polida e surgimento da agricultura, dando lugar à Idade dos Metais) e o Megalítico, já desenvolvido no Periodo Neolítico ( construções com  grandes blocos de pedra)
 Registe-se também neste local as presenças de  Romanos e Árabes muito  bem vincadas, e aqui transcrevo na integra testemunhos arqueológicos de grande importância, como a Via Romana, “Vinda da Amadora, pela Bica da Costa sobe o Monte Abraão, circundando todo o perímetro da Quinta do Senhor da Serra para desembocar no Adro da Igreja Matriz e daí subir ao Cemitério, aos Machados, Suímo e Carregueira, Meleças e Casal da Mata para prosseguir em direção a Sintra e Granja dos Serrões”. Ainda deste período temos as ruinas de uma antiga barragem junto à Estrada de Caneças/Belas. (Do Livro de Maria João de Figueiroa Rego).
Sendo uma região que chegou a ser Paço Real, muitos Marqueses adquiriram várias Quintas, (os Marqueses de Belas). Destaco Diogo Lopes Pacheco, que sendo um dos autores no assassinato de D.Inês de Castro,  sua Quinta viria posteriormente a ser confiscada por D.Pedro I.
Voltando à gastronomia regional:
A história dos Fofos de Belas deve-se à  confeção por uma Senhora de nome Ester Timóteo Esteves, quando decidiu alterar o Pão de Ló feito à maneira de seus antepassados, dando um outro sabor ao acrescentar um recheio cremoso. Passaram a chamar-se Fartos de Creme. O actual nome, os Fofos de Belas, foi dado pela população devido às características da sua massa.
Note-se que actualmente ainda são cozidos em forno a lenha, dando-lhe um sabor de despertar o apetite.
Saliento que a tradição que originou este bolinho, vem dos trisavós desta Senhora que a mantém há dois séculos, quando na altura era o Pão de Ló. A própria Ester Timóteo além de os fabricar também fazia a sua venda na capital, aproveitando o regresso a casa para ali comprar os ovos e outros ingredientes necessários.
Devido às sua feições, muitas vezes lhe perguntavam se era espanhola ou cigana. Respondia que não era nem uma coisa nem outra. Era saloia.
 Embora pouco explícita, leva a crer que a palavra  saloio significa habitante do campo, enfatizando esta região.
Além do Pão de Ló os antepassados de Ester Timóteo confecionaram marmelada feita em enormes tachos. Devido ao seu agradável sabor, grande parte dos clientes da Capital  e arredores se deslocavam àquele lugar, levando malgas para as encherem e trazerem para suas casas, particularmente para degustarem ao pequeno almoço. A qualidade do seu pão, também convidava muita clientela.
Os Fofos de Belas, ainda hoje são vendidos em casas da especialidade, tanto na Capital como por todo o País.
A sua expansão deve-se quando mais tarde os Domingueiros da Capital, faziam a chamada volta saloia e também na época da caça à raposa. Reuniam-se logo de manhã às 7 horas, e de regresso da caçada, permaneciam em enorme cavaqueira até às 2 da madrugada. Esta loja, café e fábrica, situa-se atualmente na Rua Dr. Malheiros nº.18, em Belas.
Continua
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