“Venho ver se tenho o sangue muito fino…”

Ana Cruz
Esta expressão é muito utilizada por quem toma medicação que influencia o controle de uma hemorragia. Ter sangue “fino” ou “grosso”, foram termos utilizados por profissionais de saúde para comunicar com os utentes. O correto seria “Olhe, DªEfigénia, segundo a análise tem o sangue mais coagulável temos de aumentar a dose do medicamento!”. Primeiro ponto é saber o que isso de coagulação. E saber explicar um mecanismo de defesa do nosso corpo, requer tempo e capacidade de comunicar a informação, caso contrário temos a Dª Efigénia a achar que tem uma coisa muito grave e criar um receio inusitado!
Enfim… Quando uma veia ou uma artéria (vasos que transportam o nosso sangue no corpo), é cortada ou rasgada o sangue escorre gerando uma hemorragia, que se não for controlada pode causar perda de consciência ou até morte, em última instância. O sangue é fluído para transportar ao longo do sistema circulatório, os glóbulos vermelhos\ eritrócitos (absorvem oxigénio e dióxido de carbono), os glóbulos brancos\leucócitos (defendem o nosso corpo contra as baterias e vírus) e plaquetas\ trombócitos (fazem a coagulação do sangue). Este último grupo de células que compõe o sangue, plaquetas ou trombócitos, são os principais protagonistas da “espessura” do sangue. A “finura” ou “grossura” do sangue não tem relação com o fato da pessoa ser de família brasonada ou da pessoa ter ingerido uma quantidade descomunal de álcool que lhe qualificava a um coma de 2 décadas! Os termos surgiram para facilitar a imaginação das pessoas perante a formação de um “rolhão” ou “tampão” das plaquetas numa situação de hemorragia. Por analogia um sangue “fino” tem plaquetas que demoram mais tempo a formar o coágulo na zona de ruptura da veia ou artéria e em oposição de um sangue “grosso” tem plaquetas que demoram menos tempo a formar um coágulo. Normalmente uma lesão num vaso sanguíneo tem a formação do coagulo 20 segundos depois, mas a pressão do sangue nas paredes do vaso (tensão arterial) e o tamanho da lesão podem fracassar o controlo da hemorragia, sendo necessário a pressão externa (compressão no local da hemorragia) ou outras técnicas para evitar o esvair do sangue do organismo.
Qualquer pessoa que teve uma doença cardiovascular ou corre risco de sofrer uma doença cardiovascular (Ex: Enfarte cardíaco, Trombose, Embolia) quase sempre tem incluído na sua lista de medicação os anti-agregrantes plaquetários ou anticoagulantes orais. Apesar da diferença dos nomes, (porque têm ações diferentes de atuação na coagulação), estes medicamentos tem o mesmo objetivo. Quem decide a escolha é sempre o médico, de medicina geral ou de especialidade, é quem tem o poder de medicar! Mas saber os nomes destes medicamentos é essencial para prevenção de situações relacionadas com hemorragia ou tromboses.
Os nomes comerciais mais conhecidos são: AAS®, Plavix®, Pradaxa®, Xarelto®, Eliquis®, Varfine®, Sintrom®, mas o importante é saber que todos eles podem provocar hemorragia e que existem interações com certos alimentos e medicamentos. Quantos aos medicamentos, deve ter atenção quando os adquire na farmácia informar que toma medicação que altera a coagulação, porque um anti-inflamatório de venda livre podem ser uma causa de hemorragia descontrolada.