SUSPIROS DA ALMA

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TENHO A PRIMAVERA NOS MEUS OLHOS
Estendo o olhar pela imensidão do céu azul e deixo navegar a minha louca imaginação. Embevecido contemplo os vales com arvoredos leves e ondeantes deixando um rasto trémulo de sombra e à tardinha já quando vejo tristemente as coisas indecisas que me cercam e uma luz moribunda me obriga a um recolhimento sabático, olho o fantástico céu para onde tudo vai depois da morte numa mistura de desespero e resignação. E quando na solidão do meu quarto não tenho mais que a triste companhia do meu tormento se manifestam como uma represa sensações que rompem de repente o muro do esquecimento e numa mansidão pacificadora se explanam por uma planície de lembranças que se apresentam na sua anciania com a dignidade de não se exibirem e se mostrarem ao seu natural. É uma época de perfumes, lírios, lilases, claras fontes, cantos de pastores, de suspiros e ais das donzelas apaixonadas que abalam a alma humana. O cuco oferece o seu canto a quem lhe faz o ninho. Completou-se o ciclo das chuvas e pelos terrenos o homem espalha num vento de sementes a boa nova das colheitas. Num murmúrio de pétalas a abrir, antes mesmo que as sementes nos presenteiem com os seus suculentos frutos as montanhas soturnas do horizonte, os ermos vales e os rochedos nus numa antecipação deliciosa da criação Divina transpiram e se convertem em festa e alegria. Pairam já no horizonte mágoas e brumas deste maravilhoso mundo, tudo irá germinar, tudo brota já em flor. Chega a Primavera de mansinho, serena, quase a despontar, transportando consigo o segredo do nascimento. Rosas vermelhas, brancas, amarelas, singelas ou matizadas o roxo das violetas misturam-se numa paleta de pintura e imaginação de quantas tintas o arco-iris tem. Num tímido sorriso de desejo até as avezinhas tímidas e assustadas fogem de mim mas se nelas existisse um pequeno pressentimento daquilo que por elas sinto até nos meus braços viriam fazer os seus ninhos e às andorinhas Deus as vestiu de monjas para que nos seus voos constantes e altaneiros venerassem a Primavera com a sua beleza divina do acordar da natureza do renascer pró novo e com perfumes inebriantes. Esvoaçando numa sombra de silêncio também o pólen que vaga pelo ar, em horas de meditação faz-nos crer que sejam almas que se alegram com o desabrochar das flores. No vaguear das horas em que as flores meditam, as pedras choram, rezam e desmaiam de mágoas, as cristalinas fontes gurgulham, os riachos dormem, poderemos nós falar de magia!. A própria flor é terra que uma lágrima beijou é terra que sonâmbula flutua em dorido perfume entre nós como uma orquestra de coros alados de harmonias que por magia acontecem. Esta é a época eleita para o prodígio da cor e da fertilidade. Aqui onde cada penha tece grinaldas em tosco alinho tudo paira no ar, tudo pode ainda ser, tudo vai ainda nascer. Afanosamente chega o mês de Maio e eu numa desesperante impassibilidade desmemoriada dos meus treze lustros me socorro de um manjar de castanhas secas acreditando na fortuna de não ser “pelo burro enganado“!. “Durante o mês de Maio se não comeres a castanha durante todo o ano até” o burro se arreganha e te engana“. A natureza é mãe sublime nos seus desígnios que são altos e misteriosos como os de Deus. Primavera é o nosso berço florido, o chão da nossa terra em festa!.
Primavera das lindas flores
Tão bonitas, mas não iguais
A Primavera vai e volta sempre
A mocidade vai e não volta mais.