IMAGINANDO

francisco cabral
PARTE 77
Às vezes são lendas, mas outras realidades.
Conta-se que na estrada  velha que ligava   Sintra a Colares com seus muros cobertos de musgo e heras e segundo o Jornal de Sintra num texto de então de Nunes Pereira, quando outrora certa fidalguia percorria este caminho com suas carruagens bastante confortáveis, desfrutando com suas consortes a beleza que a natureza proporcionava neste percurso, de quando em vez  eram surpreendidos com assaltantes, muito perto de um local onde havia um chafariz escondido entre as folhagens e coberto com velhos azulejos, que devido aos factos lhes chamavam o “Chafariz dos Ladrões”.
Mas estes ladrões por ironia, quando faziam um assalto eram de uma diplomacia extrema:
Actuando em grupo, com muita delicadeza e apontando o bacamarte à cabeça fazendo a devida vénia, dirigiam-se ao cocheiro e lhes pediam:
Quer Vossa mercê não lhe causando algum transtorno, entregar  os ducados dentro bolsa de vossos viajantes?
Como o cocheiro não tinha alternativa, descia do coche, dirigia-se ao fidalgo e pedia-lhe o pretendido pelos assaltantes.
Quando da entrega da bolsa, o cocheiro aproximava-se dos assaltantes e dizia:
Queiram Vossas mercês aceitar os ducados  deste nobre fidalgo e pedir que permitam que prossigamos o passeio por esta bela estrada, rodeada por plantas exóticas e o chilrear dos pássaros, visto já terem o produto do vosso roubo.
Os assaltantes após verem que dentro da bolsa continha o valor mais ou menos pretendido, dirigiam-se ao cocheiro e com uma grande vénia e delicadeza nas palavras diziam:
Queiram Vossas mercês desculparem o incómodo que lhes provocámos, aceitem as nossas humildes desculpas e prossigam vosso caminho, desejando-lhes boa viagem.   
Caros leitores, os assaltantes de agora têm muito que aprender com os de antigamente.
Até num assalto tem que haver certa diplomacia. O assaltante fica bem visto e o assaltado embora prejudicado, sente que foi bem tratado.
Esta é mais uma lenda ou “realidade” que outrora reinava em Sintra.