RELEMBRANDO

20180927_115708
Para ti minha mãe… um mar de saudade
Tenho diante dos olhos um esplendido dia de sol rompendo a bruma espessa num assombro de vida, claridade, uma sementeira de oiro e de alegria que exalta a tua alma como uma rosa matinal que nos meus sentidos já relegam para a memória. Não te estou a ver mas a lembrar.
Carregaste o peso do tempo nos teus cansados ombros. Foste o exemplo vivo de uma “mãe coragem”
Dedicaste-te por inteiro de corpo e alma à tua família. Foste uma mulher de boa vontade, branda, conciliante, amoldável às circunstâncias. Não nasceste em berço de ouro, vieste ao mundo num ambiente de humildade mas com uma grandeza d’alma do tamanho do mundo. Foste como a vida que sabe dar sem mostrar a mão. Tiveste uma infância pobre mas nunca apareceste suja ou rota no meio da rua. Usavas durante o dia com a maior decência o único vestido que tinhas e que à noite o despias, limpavas, penduravas e ficavas nua diante da tua própria consciência, tranquila consciência.
Não sabias ler, mas não era vergonha nenhuma. Enquanto jovem angariaste com muita nobreza o sustenta para a tua família.
Trabalhaste quando devias estar sentada num banco da escola. Foste uma pessoa culta, tiveste a cultura do tempo vivido, da experiência sofrida da vida. Comovias-te com as tragédias do mundo e as desgraças alheias. Rejubilavas com o bem, apreciavas o bom, distinguias o belo do bonito. Valei a pena vires a este mundo porque quando partiste deixaste nela uma imagem que em todos os tempos e lugares merece a recordação dos que ficaram e a bênção da própria natureza. Quando a lembrar-te a posteridade sinta que não há grandeza maior do que a grandeza de alma. Foste um ser ruralizado e nunca o trabalho te assustou, sempre o atacaste de frente com coragem e valentia. Recordo com nostalgia os tempos em que depois de um dia de trabalho extenuante, cansada mas feliz te sentavas nas noites frias junto da chaminé a ouvir com entusiasmo contos inebriantes de princesas e príncipes que eu te lia. Sonhavas acordada na noite ondeante e escura. A luz das labaredas iluminavam a tua face já sulcada de algumas rugas profundas. Mais tarde com uma mansidão Divina que te caraterizava quanto teus olhos de amor se deleitavam na pintura longínqua das paisagens beijavas teu neto que sentavas nos teus joelhos trementes. Adorava-lo no mais profundo do teu coração. Viveste por muitos e bons anos e a tua suprema fortuna foi saberes corajosamente merecer a vida porque na morte está o teu espírito de amor e a vida foi o seu corpo transitório.
(P.s. Simples tributo pelo 1º aniversário da sua morte)