REFLEXÕES

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PATRIMONIO CULTURAL (3)
Citânia da Raposeira
( O aspecto histórico desconhecido )
Já mencionei por várias vezes este título ao longo de artigos neste jornal e por razões diversas. Agora volto a ele, e ainda por mais vezes o farei, porque as questões que se levantaram e levantam à volta deste tema são muitas e variadas. Já antes de 1982 e por diversas questões ligadas à arqueologia me interessei pelo conhecimento histórico da área da citânia. Já sabia por uma abordagem anterior que havia um território com aproximadamente 1 km de extensão, desde o local onde se encontra Supermercado Pingo Doce estendendo-se pelo sopé do Monte Sra do Castelo até mais ou menos ao limite do actual Bairro do Modorno. Numa primeira pesquisa visual pelos campos, nessa data, foram muitos os sinais que detectei comprovativos de que teria havido por toda aquela área construções diversas da época romana. Quando se faz este tipo de investigação simples, apenas dispondo da nossa percepção visual tem que se fazer esse levantamento calcorreando caminhos, zonas de mato e terras aradas observando os sítios onde se possam encontrar vestígios. Quais, então? Os muros de propriedades feitos de pedra podem dar-nos pistas. E no caso presente não foram passos perdidos quando percorremos estes lugares, pois eram muitos os testemunhos que observámos nos inúmeros muros que por ali se erguiam. Simultaneamente tínhamos de observar atentamente as terras remexidas nos trabalhos agrícolas. Foi assim que consegui detectar uma quantidade imensa de pedras de talhe geométrico e afeiçoadas a pico mais ou menos fino de características romanas. Pedras assim, bem talhadas encaixadas entre pedras toscas de dimensões tão variadas em muros muito irregulares que delimitavam as propriedades, eram suspeitas aos olhos de quem já conhece do assunto. Por outro lado para travar e dar solidez a estas estruturas viam-se encaixados pedaços de cerâmica bem grossa resultante de pavimentos destruídos e outros de telha romana (conhecida no mundo da arqueologia por “tégula “ ou telha de rebordo que se encaixava com o “ imbrex”, telha em meia cana, que se adaptava à junção daquelas na feitura dum telhado). Alem destes fragmentos apareciam também muitos e variados de louça utilitária bastante grosseira, desde pedaços de potes e de ânforas, ou mesmo de louça de cozinha. Percebia-se, bem, que eram incontestavelmente fruto da ocupação romana pelas características inconfundíveis. Por vezes encontravam-se pedaços de mós em pedra. Pelos terrenos amanhados também eram bastante frequentes pedaços de louça utilitária.
Fomos recolhendo provas fotográficas e arquivando dados reveladores de que por ali acontecia algo que seria de grande interesse histórico esperançosos de que um dia poderiam ser muito úteis. Os anos que se seguiram e já como vice-presidente da ACAB entramos num período de grande consternação perante a eminência da construção de uma larga via que iria rasgar toda aquela área desde a Rua dos Combatentes da Grande Guerra até ao inicio do escadório da Senhora do Castelo. Estávamos certos de que se existissem muitos vestígios sob aquelas terras eles iriam ser irremediavelmente destruídos pelo trabalho das máquinas. Era pois urgente que alguém não deixasse morrer este pedaço da história de Mangualde. E por isso nos dispusemos a essa tarefa.