Vê lá tu, que tenho o “Castrol” alto!

Ana Cruz
Quando vamos a uma consulta médica, as análises clinicas (análises ao sangue e outros produtos biológicos) é um dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT) mais estabelecidos para o clínico\ médico poder estudar a saúde de pessoa que está à sua frente. Está a regressar uma corrente na prática no exercício de Medicina para valorizar o exame físico e os sintomas referidos pelos pacientes, mas ainda prevalece a panóplia de exames invés de uma boa anamnese (do grego “ana” que significa trazer de novo e “mnesis” que significa memória).
Ter uma boa entrevista entre profissional de saúde e paciente, requer competências comunicacionais que nem todos possuem: se por um lado há uma procura excessiva pelos cuidados médicos, por outro, não existem recursos humanos para essa procura, daí muitas vezes as “conversas” serem consideradas supérfluas e por isso quase inexistentes. Assim, é natural os equívocos que surgem durante as consultas, e termos técnicos que não são explicados e tornam-se erros fonéticos, quase sujeitos a escárnio para quem tem conhecimento de causa. Por exemplo, quando começaram a surgir os exames de rotina, incluindo as análises ao sangue, era frequente o “Sô Doutore” dizer com seriedade loquaz- “Pois Sr. Antero, tem o colesterol alterado! Tem de ter cuidado com o que come!”- e lá vinha o Sr. Antero ter com os amigos à tasca, com ar meio jocoso e receoso – “Vê lá tu, que o Sô Doutore diz que tenho castrol alto! Mas eu até nem como muito!”- enquanto petiscava um chouriço, chamuscado na aguardente, acompanhado de queijo da Serra com pão de trigo.
Certamente, a marca de lubrificante de veículos automóveis “Castrol®” nada tem haver com a biologia humana, apesar de ter características oleosas, não existe qualquer similaridade entre o Colesterol e o Castrol®!
O colesterol (origem etimológica grega, Chole, significa Bílis + Stereo, significa sólido, duro e sufixo do latim Oleum, significa óleo) é essencial para a boa manutenção sa saúde, porque faz parte da formação de certas hormonas (que regulam a parte reprodutora do homem e mulher, para além do funcionamento geral do corpo); participa no transporte de certas vitaminas que apenas são dissolvidas com gorduras (tais como as vitaminas A,D, E e K), para além de ser um dos responsáveis da produção da bílis, tão importante para a divisão das gorduras durante a digestão.
O aumento do colesterol, a par com a obesidade e sedentarismo, está associado a uma dieta rica em carnes vermelhas, lacticínios, salsicharia e charcutaria.
Antigamente, a alimentação era reduzida a um punhado de carne semanal, obrigando a maior ingestão de fruta e peixe, trazendo benefícios que muitos se esqueceram…. “Se morrer que morra farto”, era o que se dizia! Eu riposto, “o barato saí caro!”, porque o que paga mais barato nas compras, saí-lhe “caro” na saúde!