SANFONINAS

dr. jose
O que ela estrebuchava!

Permita-se-me que complemente a crónica anterior, de evocação dos anos 50.
Hoje, respeito e até acho graça à família de osgas que há anos se domiciliou na minha garagem e por lá tem feito criação. Vejo-as de vez em quando, elas olham para mim com ar entre desconfiado e sereno. Ontem, uma das mais pequenitas teve de se esgueirar à pressa, porque eu a não vi ao regar.
Anteontem, a Filipa chamou-me de mansinho. Queria mostrar-me, soube-o depois, a sua lagartixa de estimação, que, diariamente, pela manhã, vinha comer o pedacinho de queijo que ela lhe punha num canto da entrada do salão de cabeleireiro.
Voltámos, pois, a uma convivência normal com estas bichezas, na medida em que cabalmente compreendemos a sua missão no seio da biodiversidade. Até sou capaz de me levantar da secretária para ir abria a janela á mosca atarantada; será, porventura, bom alimento para outro bicho qualquer; esmagando-a, eu nada ganharia!...
Não era assim nos anos 50. Lagartixa ou osga constituíam desafio de caçador. Colhia-se um pé de palanco. Limpava-se com cuidado a parte mais fina e ajeitava-se em forma de laço corrido. Ficava um laço fininho, a lembrar em miniatura o dos cowboys; aqui, todavia, não era para apanhar potro selvagem, mas, sorrateiramente, a lagartixa adormecida ao sol. Enfiava-se-lho devagarinho pela cabeça e, quando lhe chegava ao pescoço, ou puxávamos ou era a própria lagartixa a querer esquivar-se. Boa caçada, para regozijo nosso de heróis.
Um pormenor me chamava sempre a atenção e hoje compreendo o seu enorme significado. Ao sentir-se em perigo, a lagartixa soltava, por vezes, a cauda, que ficava a rabear e ela… escapulia-se! O agressor… distraía-se!
E dei comigo a pensar nas muitas caudas a rabear no dia-a-dia, a fim de o mais importante se poder escapar sem dar nas vistas!...