A broa

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Existem aldeias na Beira Alta que já foram palco de uma relevante economia agrícola e cujo sustento estava no cultivo e na exploração da terra, desde a exploração florestal passando pelo cultivo de vários tipos de cereais. A broa assumia grande importância na alimentação regional. Sabemos que o trigo, mais dispendioso pela sua menor disponibilidade, era o cereal que dava origem ao pão alvo, apenas presente na mesa das famílias mais abastadas e somente aos fins-de-semana. Até para os que mais posses tinham, durante a semana dominava a broa como acompanhamento das refeições.
Pesada, consistente, intensa no sabor, de uma cor amarela acastanhada, a broa revela-se uma descoberta, através da experiência sensorial que nos transporta para os alimentos mais simples que começam por fazer parte da nossa alimentação assim que deixamos o leite materno. Por isso, quando se sente aquele sabor, remetemo-nos para uma memória que não se identifica no tempo e no espaço, mas que se reconhece no aconchego do que nos saciava a fome.
Daí, agora, relembrar esta tradição tão antiga e tão enraizada na cultura popular beirã, enquanto elemento matriarcal da alimentação local. Por que os produtos não se esgotam no seu sabor ou valor económico, desde a sua origem, a broa faz parte da nossa memória coletiva. Por isso, pareceu-nos completamente plausível e para além disso fundamental, recriar o processo de fabrico da broa de milho, desde o ciclo do milho até ao forno que a coze.
O Ciclo do Milho, pela importância pedagógica que assume, desde a preparação da terra, a sementeira, o sachar e o arrendar, a rega, a monda, o cortar da ‘bandeira’ ou do ‘penacho’ ou do ‘pendão’, a desfolhada, o malhar e o limpar do milho. Percebem que, no passado, quem tratava a terra para a obtenção do milho tinha um longo caminho a percorrer, com o necessário esforço físico que todas as fases envolviam. Eram etapas e tarefas que levavam a que o milho fosse de elevada qualidade e quantidade. Além de demonstrar a importância do milho no ciclo agrícola local, também permite relevar todo o património cultural imaterial inerente a tais tarefas, como os trajes de trabalho, as práticas agrícolas, o vocabulário, os cantares e a gastronomia. Em suma, todos os elementos culturais usuais no cultivo do milho.
Também muito ligado a este processo da broa estavam os moinhos de água que já poucos resistem com atividade regular mas cuja sua importância destacamos desde já.
Fabrico de Broa
Cada comunidade rural possui as suas regras, as suas práticas e os seus costumes, e tal faz sentir-se na forma como confecionam a Broa, no seu conteúdo, na sua forma, no seu volume e no seu gosto; trata-se, em última análise, da identidade cultural da comunidade. A confeção do pão cabe à mulher; ao homem apenas cabe, quando muito, a tarefa de aquecer o forno e enfornar o pão. EM tempos mais recuados, a broa era cozida (fornada) uma vez por semana, ou de quinze em quinze dias; no Verão, pelo calor e pela falta de tempo com o trabalho no campo, a mesma é cozida com menor frequência. Atualmente, face a várias condicionantes, a mesma é confecionada praticamente em momentos festivos.

(Continua na próxima edição)