REFLEXÕES

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Património Cultural (6)
CITÂNIA DA RAPOSEIRA
Irei continuar focada na história da investigação arqueológica na Citânia da Raposeira uma empreitada de grande interesse e empenhamento. Por vezes surgiam situações insólitas e episódios alguns bem divertidos, a par da grande responsabilidade, e que acabavam por roubar muitas energias preciosas
Pois bem, a partir do momento em que se decidiu o local da primeira prospecção, era indispensável obterem-se todas as autorizações pela legalidade do projecto e o apoio financeiro e logístico, fundamentais. Assim foi aprovado pelo então IPPC, foi aceite o apoio da Autarquia, e a participação da ACAB na estruturação dos trabalhos através da sua vice presidente e directora do futuro campo arqueológico. Se me detenho nestas descrições é para que, a quem interesse, possa conhecer os meandros de muitos trabalhos na área da cultura que levam a um final por vezes de grande valor concelhio e nacional, a par de outros que acabam desvirtuados e perdem o que de melhor poderia ser oferecido a estudiosos da nossa história e à sociedade em geral. E este meu aparte vai ter a sua confirmação ao longo desta história.
Depois de serem obtidas todas as autorizações chegou-se ao momento de organizar o trabalho de campo. Era normalmente formada uma equipa constituída por orientadores de formação universitária e capacidade confirmada, técnicos e trabalhadores. Ora a maioria das campanhas arqueológicas eram reservadas para o tempo quente e de férias contando-se assim com a colaboração de estudantes do ensino secundário e universitário. E neste caso fomos acompanhados sobretudo por jovens frequentadores dos últimos anos das escolas do concelho. O início dos trabalhos foi bem árduo, porquanto a área onde se realizariam sondagens era ocupada em parte por olival e fios de videiras, deixando pouco terreno disponível para se marcar a indispensável quadrícula de 4x4 metros, normal numa escavação arqueológica, a partir do desenho no levantamento topográfico. Foi uma tarefa hercúlea que muitos dos jovens de então, agora já bem entrados na idade deverão recordar se porventura passarem os olhos por esta escrita. Bem vistas as coisas é também por eles, “escavadores” muito suados, que me propus montar esta história. A propósito, ainda há pouco tempo um senhor que se encontrava na esplanada do Café Melro me abordou “ Olha quem aqui vejo ! Lembra-se de mim ?” Não…realmente ,não. “Eu sou um dos jovens que escavamos na Raposeira”…. Oh !! Que engraçado ! Mal poderia imaginar… um jovem, agora senhor com algumas décadas e eu muito mais à frente !! Estou encantada!... E entabulamos uma boa conversa cheia de recordações… (foi muito bom ). São estas coisas que nos ficam de tempos duros, mas simultaneamente enriquecedores cultural e humanamente falando. Iremos continuar.
Agosto 2020