“Planeamento Familiar? Ah! São as consultas para as mulheres…”

Ana Cruz
Custa a crer que apesar de tanta liberdade, a questão da natalidade ainda esteja delegada somente à mulher, colocando o homem numa aparente despreocupação a nível desta temática. Este agrilhoamento cultural estabelecido (somente é a mulher responsável!?) para planear o número de filhos que um casal pode vir a ter, pode e deve ser mudado! Aliás a geração espontânea não é norma nos seres humanos, logo para conceber são sempre necessários um homem e uma mulher, plural, conjunto, casal. Ambos são responsáveis pela forma de família que querem vir a ser, e ambos têm direitos e deveres no momento de decisão. A sexualidade ainda é um assunto omitido de forma envergonhada, apesar da aparente “alegria” dos panfletos e anúncios publicitários que retratam a saúde reprodutiva\ planeamento familiar. Divulga-se a pílula como um milagre benfazejo, emancipadora da mulher, que pode controlar o seu corpo e evitar imprevistos indesejáveis (que na tradição das regras dos bons costumes, seria um casamento recatado e apressado, devido à fertilidade célere da noiva. Muitos partos “prematuros” surgiram, caso a situação fosse outra… Muitos partos tiveram um final triste, por o casamento nunca ter sido colocado em questão…) Enfim…. Os tempos são outros, mas há alturas em que as mentes ainda estão no passado, a ajuizar a vida alheia sem pensar que a sorte pode mudar como o vento.
A realidade atual, com as consultas de Planeamento Familiar quer nas Unidades de Cuidados de Saúde Primários (UCSP)\ Unidade de Saúde Familiar (USF), quer em meio hospitalar (em última instância), todos os indivíduos em idade fértil têm acesso a estas consultas. Sendo o objetivo primordial a preparação para uma maternidade\ parentalidade informada e responsáveis, dando ao casal opções para planearem a sua fecundidade, e por inerência informar acerca da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Porque independentemente de toda evolução cientifica, através da vacinação e medicação, as doenças do antigamente ainda existem! Fingir que há uma cura, não soluciona as consequências que advêm de uma doença que pode provocar infertilidade quer ao homem, quer à mulher! Assim como escolher o método de contraceção (evitar a gravidez), depende dos dois! Todos os métodos têm efeitos secundários, é dever dos profissionais de saúde informar e não apenas facilitar o meio, porque quase sempre os resultados dessa atitude têm desfechos pouco animadores! A mulher não tem que sacrificar a sua saúde, para satisfazer uma das partes do casal. Sei que há insegurança em contrariar ideias preconcebidas, mas ficar com sintomas desconfortáveis (enxaquecas, dores, tensão arterial elevada, retenção de líquidos entre outros), apenas porque a alternativa é “Epá, não sinto nada com isto!”, tem quase sempre um péssimo resultado.
Ser um casal é respeitar reciprocamente e por vezes comunicar é difícil, mas o que lesa um, magoa o outro, essa é a base de um casal saudável!