Editorial 650

isabel
Caro leitor,
Ofereço-lhe um relato de Timor-Leste.
De quando em quando, encontramo-nos no
epicentro de coisas que são maiores do que
nós. Que conseguem afectar todos os que nos
rodeiam e deixar-nos miracolosamente intactos.
São coisas incompreensíveis, que nos chegam
de distâncias inimagináveis, frutos de conversas
calculadas ao milímetro. Amiúde, decisões
importantes e acontecimentos de impacto ecoam
ao longe, ao de leve, noutras vidas que não a
nossa. Afectam-nos como uma réstia de onda
de um tsunami. Estamos seguros. Porque são
sempre outros os mais visados. Mas em Timor-
Leste isto não é bem assim.
Após os períodos conturbados da colonização
Portuguesa e da ocupação Indonésia, Timor
conquistou finalmente a sua independência em
2002, tornando-se num dos países mais novos
do mundo. Naturalmente, trata-se de um país
que procura ainda descobrir e cimentar a sua
identidade. Ainda se mexe a medo.
A economia nacional não garante uma produção
auto-sustentável, sendo que o desenvolvimento
tem sido assegurado por factores externos dos
quais o futuro do país se mostra dependente. O
principal factor prende-se com as receitas da
exploração petrolífera, que o governo aloca ao
fundo petrolífero, uma espécie de poupança para
a época pós-petróleo do país. Considerando que
estas receitas representam a grande maioria
das receitas nacionais, o governo tem recorrido
a estes fundos cada vez que a necessidade se
apresenta, arriscando por conseguinte a futura
sustentabilidade económica do país. Outro factor
que contribui para o desenvolvimento económico
de Timor é a ajuda externa, providenciada
por organizações internacionais e governos.
Adicionalmente, também a presença de recursos
humanos capacitados, provenientes de países
como Portugal, Austrália, Estados Unidos, Brasil,
etc, provou ter contribuído para a formação da
mão-de-obra local, ao mesmo tempo que foi
assegurando uma construção institucional forte,
que fizesse frente ás necessidades nacionais e
à atracção de investimento estrangeiro. Este é
Timor.
Ora, à parte desta fotografia representativa
da realidade local, as ruas de Díli contam
mais histórias. De rua em rua, encontram-se
pequenas comunidades e pequenas nações,
às vezes assemelhando-se a uma conferência
da ONU. Nisto, a comunidade portuguesa é
numerosa, de valor e cordialmente próxima e,
ainda que ocasionalmente se partilhe o sintoma
do meio pequeno, com o reino da coscuvilhice
e o desrespeito de fronteiras, as boas relações
pessoais reflectem-se em boas relações
profissionais e em família para quem a tem
longe.
Neste cenário, quando a suspensão dos
contratos de todos os funcionários internacionais
do Ministério da Justiça foi ordenada por
resolução, e a subsequente expulsão de
juízes individualmente elencados numa folha
de papel oficial a seguiu, a reacção foi geral:
30% nas crianças.
A infecção processa-se através das secreções
respiratórias e tem um período de incubação
de cerca de 2 dias. A doença dissemina-se
rapidamente entre a população. As crianças que
frequentam creches e infantários, de acordo
com a OMS, são as principais disseminadoras do
vírus na comunidade.
Recomendação para a época 2014/2015 – A
infecção atinge todos os grupos etários. A OMS
e a Direcção Geral de Saúde recomendam
fortemente a vacinação, para esta época
de 2014/2015, aos seguintes Grupos alvo
prioritários:
- Idade – a partir dos 60 anos.
- Doentes crónicos e imunodeprimidos, com
idade superior a 6 meses.
- Grávidas com tempo de gestação superior a 12
semanas.
- Profissionais de saúde e outros prestadores de
cuidados (lares de idosos, designadamente).
A vacina deve ser administrada,
preferencialmente, a partir de 15 de Outubro,
podendo, contudo, ser administrada durante todo
o Outono/Inverno.
As pessoas vacinadas na época anterior
incredulidade. O facto de uma decisão tão
inóspita poder ser tomada com isenção absoluta
e sem seguir os trâmites não só legais, mas
do bom senso, relembrou-nos que isto não
é casa, mas o terceiro mundo. Relembramonos
imediatamente da nossa condição: a de
expatriados permanentes.
No interregno das duas decisões, conversas
circulavam no sítio habitual, na expectativa. No
rescaldo da segunda decisão, juízes partiram
de um dia para o outro, num prazo de 48
horas, sem se despedirem. Eram pessoas que
sempre fizeram parte do nosso dia-a-dia e
agora tinham desaparecido. Tive de esquecer
a partida de ténis que tinha combinado para
sábado. Porque a incompetência destes juízes
foi argumentada, quando o trabalho deles
sempre exigiu ultrapassar as limitações locais e
os entraves sucessivos à resolução, transmitindo
sempre know-how. O motivo, argumentaram
depois, prendia-se com os processos contra as
petrolíferas que decorriam em tribunal e que
Timor-Leste começava a ver como perdidos.
Muito dinheiro mesmo.
Mas esta será sempre metade da história,
porque muito não deve ser dito e este
acontecimento é bem mais representativo do
que não se fez do que foi feito. Além disso, o
futuro ditará a razão, porque o que se avizinha
é um ambiente de desconfiança para captar
investimento estrangeiro, além da parcialidade
do sistema jurídico estar inevitavelmente em
causa. É o que por enquanto se tem em Timor-
Leste. Esperamos que também ele se aperceba
da sua condição e dela venha a sair.
Atentamente,
Isabel Tavares