Chega de Hipocrisia

frederico
“Façam como eu digo, não façam como eu faço”. Esta é mais uma daquelas expressões que, embora já tenha anos e anos de existência, não deixa de cair como uma luva em muitas das novas situações que a vida nos vai, de forma sistemática e continuada, presenteando.
É certo que podemos até encara-la como um ícone popular que sintetiza aquilo que de pior a humanidade nos transmite, uma espécie pouco refinada da hipocrisia latente que, cada vez mais, se vai entranhando no dia a dia das pessoas e que, coberta de uma moralidade oca e bacoca, nos vai brindando de uma forma na qual simplesmente não me revejo. Detesto a hipocrisia, seja ela pessoal, social, laboral, política e por aí em diante. Simplesmente não gosto e fico feliz por não gostar.
Tudo isto se pode refletir de forma incontestável, naquilo que têm sido as linhas de ação do nosso atual governo, bem como, da dos restantes partidos políticos que o sustentam. Aliás, basta um pouquinho de memória e outro tanto de pura e louvável racionalidade para, de forma bastante fácil, se conclua que estamos no meio de um dos maiores embustes da nossa história contemporânea.
Chamemos então para a linha da frente um pouco das nossas memórias mais recentes. Não é necessário “rebobinar” muito, basta olharmos para o que que se passou e o que foi dito e defendido na campanha eleitoral para as eleições legislativas do ano passado. É a entrada na primeira fase da célebre expressão com que iniciei este escrito: ”Façam como eu digo…”.
Berravam, gritavam e vociferavam contra as políticas de austeridade. Diziam que eram apenas uma simples opção ideológica do anterior governo e que o caminho podia e deveria ter sido outro. Apresentavam um número quase infinito de soluções mágicas para tudo o que era “maleita”. Era tudo tão fácil. Bastava fazer isto e aquilo e tudo seria uma espécie de paraíso na terra.
Depois das eleições que não ganharam (não me canso de o repetir por, para mim, não é apenas um pequeno pormenor), e com aquele conjunto de habilidades que todos nós conhecemos, lá conseguiram chegar ao poder. Nessa aluta, com a estabilidade parlamentar que sempre garantiram que teriam, nada seria mais óbvio e espectável que, grosso modo, as convicções que sempre afirmaram e vincaram no decorrer da campanha eleitoral, fossem o mote para toda a estratégia governativa. Mas, chegados à realidade, os 3 partidos do governo travestiram tudo o que disseram e com a maior desfaçatez esqueceram tudo o que disseram e que sempre defenderam. Será que afinal a austeridade não era uma “simples opção ideológica de cariz neo-liberal”? Talvez não… Aliás, a hipocrisia é tanta que chegámos ao ponto onde se critica publicamente o Plano de Estabilidade mas depois, na aluta das decisões, preferem não o apresentar a votos e não tomar as decisões que as suas vãs palavras sugeriam. É de novo a tal lógica do “façam o que eu digo, não façam como eu faço”.
E o recente ajuste do imposto especial sobre os combustíveis? Descer o imposto sobre combustíveis em 1 cêntimo por litro depois de no inicio do ano o terem subido 6 cêntimos é, no mínimo, rir à gargalhada na cara de todos nós.
E as tais soluções mágicas que apresentaram? Onde estão? Não era tudo tão simples e óbvio? É mau demais… é verdadeiramente muito mau.