MOSTEIRO DE SANTA CRUZ DE COIMBRA

juiz
É sempre muito agradável poder recordar Coimbra. Esse prazer é por nós cultivado com muita frequência em reuniões organizadas pela Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Lisboa. Apraz-nos hoje fazer referência a uma importante escola claustral que funcionou no Mosteiro de Santa Cruz, o mais importante monumento da cidade, quer pelo seu valor artístico, quer pela sua história.
O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra foi fundado em 1131 pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e seu filho D. Sancho I, tendo, mais tarde, já no século XVI, recebido importante intervenção de D. Manuel I e de D. João III.
A construção do Mosteiro teve o seu início a 28 de Julho de 1131, no local onde existiam os “Banhos Régios”, fora dos muros defensivos da cidade, a cerca de 200 metros do limite das terras islâmicas, cuja fronteira era constituída pelo rio Mondego.
Foi fundado pelo Arcediago D. Telo, por D. João Peculiar e por São Teotónio, tendo sido este o primeiro prior do Mosteiro e o primeiro Santo de Portugal. Logo no ano seguinte a comunidade religiosa contava já com 72 membros.
Na posse da Ordem de Santo Agostinho obteve muitos benefícios papais e várias doações régias, o que lhe permitiu a acumulação de um considerável património. Em 1320 as rendas do Mosteiro foram calculadas em cerca de 21 mil libras, valor que seria cerca da quarta parte da totalidade das rendas do bispado de Coimbra.
Foi uma importante escola medieval que contribuiu para a formação de vários intelectuais e pessoas ligadas ao poder político. Nessa época, o estudante mais importante teria sido Fernando Martins de Bulhões, que veio a ser conhecido como Santo António de Lisboa e também como Santo António de Pádua.
Durante os séculos XII e XIII o Mosteiro produziu diversos manuscritos, que o tornaram um dos centros de referência do reino, sendo conhecida a atividade do “Scriptorium” desde a fase da fundação. Nos finais da Idade Média o Mosteiro passou a ser possuidor de uma tipografia.
O Mosteiro beneficiou de importantes alterações por ordem de D. Manuel I, a partir de 1507, depois da visita do Monarca, quando se deslocou em peregrinação a Santiago de Compostela. D. Manuel I socorreu-se dos melhores artistas que então trabalhavam em Portugal: Diogo de Castilho, João de Ruão, Boitaca e Nicolau de Chanterenne, entre outros. Dessas obras destacam-se as abóbadas e o cadeiral manuelino, de 1513, com temática alusiva aos descobrimentos. Na Sacristia podemos admirar as pinturas de Vasco Fernandes, o conhecido Grão Vasco nascido na cidade de Viseu, e de Cristóvão de Figueiredo, familiar de João de Ruão.
Não só o Templo, mas também as dependências monásticas sofreram uma completa transformação, cujas obras só viriam a terminar no reinado de D. João III. Nessa época foram transladados dos seus sarcófagos primitivos os restos mortais de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I para outros novos situados na capela-mor, reconhecido como Panteão Nacional pela Lei nº 35/2003, de 22 de Agosto.
Recentemente, a Lei nº 14/2016, de 8 de Junho, procedeu a nova alteração da Lei que define e regula as honras de Panteão Nacional, anteriormente alterado pela Lei nº 35/2003, de 22 de Agosto. Nos termos daquele diploma, o Panteão Nacional criado pelo Decreto de 26 de Setembro de 1836 fica instalado em Lisboa na Igreja de Santa Engrácia, sendo igualmente reconhecido o estatuto de Panteão Nacional, sem prejuízo da prática do culto religioso, ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, e à Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.
Nas traseiras do conjunto monástico de Santa Cruz situa-se uma bela construção renascentista de uma “pureza de estilo raramente ultrapassada”, o Claustro da Manga. Conta-se que a origem da denominação se ficou a dever ao facto de ter sido D. João III, ao visitar o Mosteiro e ao deparar com um grande espaço desaproveitado, ter esboçado na manga do seu gibão o claustro e o jardim envolvente, que mandou depois executar.
A partir de 1527, tendo-se associado a outros mosteiros de cónegos portugueses, constituiu-se a Congregação de Santa Cruz e fundou-se o Collegium Sapientiae, um importante centro académico com ligação à Universidade de Coimbra, onde lecionaram vários docentes da Ordem.
Pensa-se que o nosso grande poeta Luís de Camões tenha estudado em Santa Cruz. A razão de tal conclusão tem a ver com o facto de D. Bento de Camões, seu parente, ter sido prior do Mosteiro nessa época e também porque da sua poesia parecem resultar indícios da sua passagem por esta escola de Coimbra.