TEMPO SECO

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A Magia das Cinzas (II)
Sem recursos naturais, dignos de relevo, para nos darmos à criminosa negligência, de deixarmos arder o que ainda sobra. É imperioso e razoável ir em busca de soluções, para salvar o que ainda resta e tentar reabilitar as área ardidas, com as espécies mais adequadas às condicionantes do terreno.
O pinho bravo, tem sido a espécie mais abundante no nosso país, por se adaptar bem a solos pobres, de pouca profundidade, vingando entre rochedos e até à altitude de 1.700 metros. A sua razoável rentabilidade, comparado com outras espécies que por cá já vão abundando, ainda é positiva, mercê da diversidade do seu aproveitamento, ser muito superior ás restantes.
Claro, que como resinosa, merece os cuidado que lhe são devidos, e que todos já se esqueceram: desbastar e esgalhar, logo, na tenra idade e ao longo do seu desenvolvimento, são as práticas essenciais ao seu devido crescimento, e fazem parte da limpeza da floresta, tão necessária, para minimizar os danos causados pelos incêndios.
O malfadado do eucalipto, que nas últimas décadas e pela mão das indústrias de celulose, alastrou por quase todo país, tem hoje uma expressão de rentabilidade superior à do pinho, mercê: do seu rápido crescimento, da resistência ao incêndio e do próprio desmazelo a que foi votado o pinheiro bravo. Todavia, esta espécie, é muito mal amada, por imensa gente deste país, que vê nele o ladrão, número um, das águas subterrâneas, embora não existam dados concretos que sustentem a veracidade desta circunstância. Categoricamente: é preferível a existência desta espécie em áreas onde indiferentemente crescem toda a espécie de arbustos, de alto teor combustível e onde com grande frequência, deflagram os incêndios, que permanecerem nesse estado de perigo latente. Além, de que o eucalipto tem a capacidade de eliminar o crescimento desses nefastos arbustos.
Os ambientalistas reivindicam por uma floresta tradicional portuguesa, onde predominem as folhosas, com especial relevo para o carvalho. No interior norte e centro português, onde predomina a nossa floresta, de solos pobres e maior altitude, o único carvalho que consegue singrar é o popularmente conhecido de “carvalho bravo”, cujo único e exclusivo aproveitamento é para lenha. Se o pinho não tem as capacidades do eucalipto, para degenerar o crescimento das espécies arbustivas de maior porte, muito menos o tem o carvalho, que com a copa menos densa que o pinho, e a consequente, maior, incidência dos raios solares até ao solo, num ápice é envolvido por silvas e giestas, que crescem até acima do seu meio porte. Assim, se a causa principal dos grandes incêndios é a falta de limpeza da floresta, não se vislumbra qualquer benefício paliativo com a introdução, intensiva, do carvalho. Não basta dizer: “que é uma floresta mais húmida”. Primeiro: permite um maior crescimento dos matos; segundo: a sua rentabilidade é muito inferior, às outras espécies já referenciadas. Daí a consequente apetência do proprietário para o abandono da limpeza, tendo em conta o seu fraco rendimento.
Nesta, como noutras circunstâncias da vida, creio estarmos condenados a conviver com aquilo que temos. Podemos, e é urgente, melhorar as condições de exploração da floresta, em todas as vertentes: para a salvaguardarmos, para a ampliarmos e para a rentabilizarmos ainda mais. Porque isso é possível. Basta pensar e trabalhar um pouco mais…
Outubro de 2017