SANFONINAS

dr. jose
O espremedor de sumos
Já percebi que me não posso dar ao luxo de ter tudo à mão de semear. É bonito ter os vários dicionários a jeito para só virar a cadeira e pegas num e fica a dúvida resolvida. Ou então, já tens prática de ir ao Google, sabes usá-lo com perícia e são critério e tens tudo à distância de um clique. Podes, por conseguinte, passar a manhãzinha sentado diante do ecrã do computador (já mudaste de óculos, para não cansar a vista…), sem teres de te levantar para ir à prateleira buscar o cartapácio, que, aliás, o Google também já fez o favor de digitalizar para ti e a ele acedes, por isso, num ápice.
És capaz de, ao levantares-te para o almoço, sentir assim como que um tolher de pernas, a necessidade de te espreguiçar, mas dizes logo que isso passa. Passa hoje, passa amanhã, passa semanas a fio. E, de um momento para o outro, ai que tenho de ir para o ginásio, que já não me aguento bem nas pernas!...
Temos, na verdade, nós, os escritores, a vida bem simplificada, mormente se soubermos lançar mão a todos os recursos que o dia-a-dia nos oferece, desde que, repita-se, se não descure o físico, o movimento até à estante, o esticar as pernas durante uns dez minutos para ver – nós, os burgueses… – se o jardim está mais florido ou se as lagartas andam por i ou se o sr. Baltazar (o cágado) decidiu já hibernar ou quer comida…
Deu-me para aqui, hoje, amigo leitor, e peço desculpa, porque necessito de lhe dizer que é bem verdade aquele aforismo que reza assim: «Aprender até morrer!». E eu, esta semana, aprendi duas coisas – e depois chamei-me de estúpido.
Primeira: esqueci-me da palavra-passe para aceder às mensagens do telefone fixo; não a apontara em sítio nenhum e já estava a dizer para comigo: «Ora, se precisarem de mim, voltam a telefonar e escuso-me de me ralar. Acabaram-se as mensagens!». Levanto-me e olho para o miserável do telefone e leio, escarrapachado a branco sobre o negro, com todas as letras: MENSAGENS. Para as ouvir, bastava carregar na tecla! Tenho o aparelho há anos e lá estava eu sempre a discar o código!
Segunda: gosto de beber, pela manhã, o meu sumo de laranja natural. Teoricamente, o espremedor tem quatro ventosas na base, que o mantêm quietinho e eu, com mãos ambas, acaricio a metade da laranja até nada lhe restar senão a casca. Aconteceu, porém, que as ventosas entraram em greve e o espremedor deu em dançar e eu a aborrecer-me com a dança. Até que descobri: agarra-me no espremedor com uma das mãos e espreme a meia-laranja com a outra, daáã!... Fácil, não é? Demorei anos a descobrir! Como, só agora que as cruzes começam a dizer que existem, é que lembro do exercício físico e da vantagem de ir vasculhar as estantes de quando em vez!