EDITORIAL Nº 719 – 15/11/2017

serafim tavares
Caro leitor,
Estamos em pleno mês de novembro e, inesperadamente, vemo-nos obrigados a economizar água para que a mesma não falte em nossas casas e possamos assim tomar banho, lavar a roupa e a loiça e limpar o que demais vamos sujando pelo uso. Habituamo-nos a ter a água como um bem adquirido e, com ela, tomamos também como garantida a facilidade de realizar estas tarefas corriqueiras.
Ainda me recordo, quando era pequeno, que pelas festas circulavam as então chamadas aguadeiras, a vender água ao copo como forma de ganhar a vida. Eram tempos em que mesmo os bens essenciais não eram tidos como certeza.
Recordo-me ainda que a minha Mãe pela manhã colocava um alguidar de barro ou zinco com água, para que eu e meus irmãos nos pudesse-mos lavar antes de ir para a escola.
Atualmente a juventude não sabe o que isto era. A necessidade obrigava-nos a poupar a água, a racioná-la conforme os dias que passavam. Grande parte dos poços ou fontes de chafurdo tinham a água a pouca profundidade e as famílias eram maiores.
A água engarrafada vinha da fonte ou da vasilha a que chamávamos cântaro. Primeiro de barro, depois de zinco, feito por um latoeiro, e só mais tarde apareceram os de plástico que ainda hoje se usam. Poupava-mos a água, não tanto porque escasseava, mas pelo esforço e tempo de ir à fonte abastecer, que por vezes era longe e uma tarefa árdua. Mas estas idas tinham também coisas boas. Quando a menina ia à fonte, nós íamos também e ligavamo-nos à “rede social” daquele tempo. Por isso existem, ainda hoje, muitas fontes que mostram letreiros a dizer “Fonte dos Namorados”. Teriam bonitas histórias para contar se falassem. Íamos ao anoitecer e chegávamos a casa já de noite, com as vozes dos pais a chamar ao longe. Com abundância ou não, a água sempre teve muito valor e, tudo indica, terá cada vez mais. Em Mangualde, foi pelas piores razões: a escassez. A barragem de Girabolhos faz falta. Teremos, ou de a poupar, ou de voltar a carregar com ela, mas desta vez não ficam histórias bonitas para contar.

Abraço amigo