EDITORIAL Nº 726 – 1/3/2018

serafim tavares
Caro leitor,
Partilho uma história, que revela uma realidade entre os chamados conhecidos ou amigos de vista.
Esticando a mão, ele disse: “Olá. Como está?”
Satisfeito por ver uma cara conhecida, cumprimentei-o, apertei-lhe a mão e perguntei: “Como estão a sua mulher e as crianças?”
“- Bem”, respondeu-me acrescentando: “e as suas?”
Então, de repente, comecei a ter dúvidas. “Certamente conheço este homem, mas quem será ele?”, pensei.
Enquanto amaldiçoava a minha memória, decidi arriscar:
- Desculpe, mas não consigo lembrar-me do seu nome.
- Engraçado, disse ele. Também não me lembro do seu.
Concordamos em sentar-nos num café para resolver o mistério. Foram os empregados de balcão que esclareceram a questão.
Frequentemente, tínhamo-nos encontrado em negócios, durante bastante tempo. Alguns anos antes, tínhamos até estado juntos em frente um do outro num restaurante, sem trocarmos uma palavra. Às vezes estávamos ali sentados sozinhos, inclusive. Conhecíamo-nos, mas sem realmente nos conhecermos.
Esta experiência afetou-me consideravelmente. É sinal de como podemos ser subconscientemente indiferentes aos outros, e no entanto, as pessoas com quem lidamos todos os dias são parte da nossa vida. Se as ignorarmos isolamo-nos do mundo, e podemos até julgar que estamos a proteger-nos do mundo, quando na realidade nos tornamos mais suscetíveis.
Desde então, vejo o mundo de outra forma e acho mais fácil retribuir simpatia com um sorriso ou apertar a mão de alguém, mesmo que não o conheça, para que não volte a acontecer que nos conheçamos sem nos conhecermos. Todos os cruzamentos com pessoas trazem valor à nossa vida.

Abraço amigo,