VALOR RELATIVO DAS COISAS

juiz
Li há dias um livro interessantíssimo em que adiantava uma informação que me encheu de curiosidade. “Na década de 1860, o imperador Napoleão III de França encomendou um faqueiro em alumínio para ser utilizado pelos seus convidados mais distintos, enquanto os visitantes menos importantes tinham de comer com garfos e facas de ouro”.
Como se verifica, esta notícia sobrevaloriza o alumínio, colocando-o acima do preço do ouro, naquela época.
Ora, o alumínio, conforme resulta do mesmo texto, foi descoberto pelos químicos por volta do ano de 1820. Nessa altura separar o metal do minério constituía uma operação extremamente difícil e dispendiosa. Porém, no final do século XIX, os químicos descobriram uma forma de extrair enormes quantidades de alumínio barato. A produção mundial que, em 1860, era apenas de 11 toneladas, passou atualmente a ser de 30 milhões de toneladas por ano.
Poucos metais tiveram tão rápida aceitação, tendo substituído, em muitos usos, o aço, o zinco e o cobre, em virtude das suas características de leveza e facilidade de liga, tornando-se assim mais duro e indispensável na construção de aviões, barcos, material circulante para caminhos de ferro, etc.
Tendo sido muitíssimo facilitada a produção do alumínio, o seu valor diminuiu de tal maneira que passou a ter utilizações que antes eram impensáveis. “Napoleão III ficaria surpreendido se ouvisse dizer que os descendentes dos seus súbditos utilizam folha de alumínio descartável e barata para embrulhar as suas sandes e guardar os restos”.
É um dos metais atualmente mais utilizados, mas foi só em 1854 que Saint- Claire Deville pôde industrializar o processo químico: ação do sódio sobre o cloreto duplo de alumínio e sódio. Deste modo, a partir de 1886, quase simultaneamente, Heroult, em França, e Hall, na América, registaram patentes, na sua essência idênticas, de fabricação eletrónica do alumínio por decomposição da alumina dissolvida num banho de criolite fundida.
A partir de então, o alumínio que era um metal nobre e caríssimo, conhecido pelo nome de “prata de argila”, passou a ser dos metais mais utilizados.
Como é do conhecimento geral, o preço deriva da lei da oferta e da procura. Enquanto a quantidade de alumínio oferecida ao consumo era muito diminuta, o preço disparou a ponto de o alumínio se ter tornado no metal mais caro dessa época. A partir do momento em que a oferta aumentou substancialmente, o preço baixou em conformidade e o alumínio vulgarizou-se, tendo perdido a qualificação de metal nobre.
Como diria o Poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.