Arquivo mensal: Junho 2023

EDITORIAL Nº 847 – 1/7/2023

Caro leitor
Quem se lembra da morte da Princesa Diana? 31 de agosto de 1997! A Princesa do Povo perdeu a vida num acidente que foi noticiado, como sendo provocado pelos paparazzis. Era assim, naqueles tempos, há 26 anos atrás.
Os paparazzis à procura de grandes momentos, para venderem grandes noticias. Hoje em dia, foram quase extintos, pois com as redes sociais é o próprio ser humano que publica tudo e qualquer coisa. O que deve e o que não deve. Coisas que muitas das vezes até são fúteis e difíceis de entender.
Quando se publicam assuntos de grande valor cultural, poucas interações têm, por outro lado, assuntos da “treta” ou fotos descabidas até se tornam virais. Que sociedade esta! Difícil de entender.
Embora exista também, conteúdo de grande valor informativo, o importante é sempre sabermos escolher o que nos convém ou, aquilo que é importante para o nosso foco. Cada um escolhe o que quer!
Era eu pequeno e já dava conta que numa mesa bem recheada e vinho tinto americano se faziam grandes negócios no “cara a cara” com o estômago bem composto. Possivelmente o que ingeria mais álcool era o que podia ficar a perder, para o mais sóbrio, mas, em tempo de outrora, como eu me lembro, “homem de chapéu, palavra dada, palavra honrada” e meu pai, sempre usou chapéu. Hoje em dia, todos sabemos que essa referência se perdeu. Dizem o dito por não dito! Quase me apetece dizer em tom de risada que é uma canalhada, esquecendo-se as pessoas que tudo se paga neste mundo. Eu gosto do chapéu, não uso no cabelo, mas tenho-o sempre na minha alma.
Todavia o sucesso veio da palavra, da honestidade, do compromisso. O respeito sempre se adquiriu assim. Porque é que se fala à boca cheia que os políticos são aldrabões? Alguns até corruptos!? Porque não têm palavra, nem principios. Não assumem compromisso. Olham só para o seu umbigo e de seus amigos. O povo sabe que assim é. Fazem falta homens desapegados do poder. O povo sabe, que se alguns não fossem políticos, não tinham eira nem beira. O seu patrão é o partido.
Deus nos dê gente capaz de governar o povo e, de não se governarem a si mesmos!
Abraço amigo,

Saiba como…

Compra e Venda – documentos necessários
Determina a lei que “compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa ou outro direito, mediante um preço”, podendo tal contrato ser celebrado através de Documento Particular Autenticado de Compra e Venda junto de Solicitador ou escritura pública junto de Cartório Notarial.
Assim, quando o cidadão procura o Solicitador para o ajudar na concretização do seu negócio, é importante ter conhecimento dos documentos que devem instruir o contrato de compra e venda de imóveis. São documentos comuns a apresentar:

  • identificação dos vendedores e compradores – cartão de cidadão, bilhete de identidade e número de identificação fiscal (NIF) ou passaporte;
  • caderneta predial (obtida junto do Serviço de Finanças) e a certidão permanente (obtida junto da Conservatória do Registo Predial) - documentos estes que podemos designar por bilhete de identidade do imóvel, uma vez que nos fornecem todos os seus elementos identificativos como: localização, descrição, composição e identificação dos proprietários;
  • declaração para liquidação do Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e a declaração para liquidação de Imposto do Selo, sempre acompanhadas pelos respetivos comprovativos de pagamento. Importa referir que todos os elementos que constam da caderneta predial e da certidão permanente devem estar em harmonia, caso contrário, terá de se regularizar tal divergência.
    Para além dos documentos referidos, na venda de um prédio rústico está dependente da apresentação da georreferenciação (BUPI).
    Já no que respeita à venda de um prédio urbano, a lista é mais extensa, devendo constar da mesma:
  • a Licença de utilização (habitabilidade ou ocupação) ou isenção da mesma, quando o prédio tenha sido inscrito na matriz em data posterior a 07/08/1951;
  • o Certificado energético ou isenção do mesmo;
  • a Ficha Técnica de Habitação (FTH) – quando aplicável;
  • a certidão camarária comprovativa da receção provisória das obras de urbanização ou de que a caução prestada é suficiente para garantir a boa execução das obras de urbanização (vulgarmente designada de certidão de infraestruturas), quando se trata da primeira transmissão de prédio urbano (ou fração autónoma deste) construído em lotes;
  • o Anúncio para o exercício do Direito Legal de Preferência - quando aplicável
  • a Declaração de não dívida emitida pelo respetivo administrador de condomínio, quando o objeto da venda é uma fração autónoma (apartamento).
    De salientar que, os mencionados documentos são, geralmente, solicitados num processo de compra e venda, contudo, cada caso é um caso, e poderão ser necessários outros documentos, que após análise de todo o processo tenham de ser igualmente apresentados.
    Não deixe os seus direitos e as suas dúvidas por mãos alheias, procure um profissional habilitado como o Solicitador para o esclarecer.

IMAGINANDO

PARTE 131
Manu, Cristo e Maha Chohan – Parte 1
Neste e próximos capítulos, mais propriamente às pessoas com conhecimento profundo da Alma ou Psique, vou abordar e dentro dos nossos Universos, os diversos Cargos Hierarquicos para que tudo se coordene na perfeição e vontade do Absoluto (Criador) e esses Universos obedeçam às Leis pelo qual eles se regem.
Nota
: Quero salientar que o tema, dividido em três partes, tem uma vertente Espiritualista. Caso o Leitor tenha verificado, não sou religioso mas sim Espiritualista.
No entanto, manifesto grande imparcialidade no que concerne às diversas religiões, que respeito na íntegra.
Este trabalho pode não ir ao encontro de algumas crenças, mas este Jornal é para todo o público em geral. Quem siga o estudo da nossa Alma, ou seja a vertente espiritualista, estará totalmente integrado ao que a este assunto eu abordo.
Após esta breve nota, vou então direto ao tema:
Conforme o título indica, vou explicar três cargos hierárquicos:
Manu
Seres de alta evolução, sendo os responsáveis por cada Raça-Raíz.
Cada uma das raça-Raiz é da responsabilidade de um Manu.
A sua função é a de imprimir nos Seres Multidimensionais que somos e nos estamos experienciando (encarnados) um determinado conjunto de características físicas, sendo de sua responsabilidade o percurso de cada uma das Raças, que vai desde a sua formação, desenvolvimento e morte.
Neste caso, a morte significa a transição de uma raça para outra Raça Raiz seguinte.
Temos ainda, que cada Raça-Raiz se divide em sete Sub-Raças, cujas características se vão alterando de acordo com a especificidade de cada Raio.
São sete Raios, sendo que em cada um há uma qualidade energética.
Neste momento, o conjunto de nossas características físicas, são de acordo com a 5ª. Raça-Raiz e o Manu responsável é o Ser Vaivasvata.
Continua

FEIRA MEDIEVAL EM LOBELHE DO MATO


É sempre com muito agrado que visitamos, eu e a minha mulher, a terra onde nascemos, a aldeia de Lobelhe do Mato, do concelho de Mangualde, embora atualmente o não façamos com a frequência desejada. Residindo nós em Lisboa há várias dezenas de anos, não se torna fácil conduzir o carro durante os cerca de 300 quilómetros, que é a distância que separa as duas localidades. A possibilidade de efetuarmos a viagem de comboio está por ora afastada. Segundo informou o Ministro das Infraestruturas, João Galamba, no dia 16 de Maio, ao visitar em Mangualde a obra de reabilitação da Linha da Beira Alta, em execução pela Infraestruturas de Portugal, a reabertura desta linha está prevista para o dia 12 de Novembro. Esperamos que a data prevista para a sua conclusão seja cumprida, embora tal cumprimento não seja usual no nosso País.
Desta vez, ao visitar Lobelhe, tivemos a possibilidade de encontrar na aldeia uma grande animação muito fora do usual, nos dias 9 a 11 de Junho, devido à organização de uma Feira Medieval. Este evento trouxe à localidade um grande número de visitantes, entre os quais muitos naturais de Lobelhe que já não víamos há muitos anos e que se dirigiram a nós, identificando a família da sua proveniência. Este é um dos principais motivos por que nos agradou especialmente esta visita. Por outro lado, a animação que a feira proporcionou tornou tudo muito mais agradável e atraente. A Feira Medieval, como o próprio nome sugere, destina-se a proporcionar aos artesãos locais e das áreas circunvizinhas a oportunidade de exporem para venda as suas mercadorias e, simultaneamente, criarem um ambiente medieval que contribuirá para facilitar a venda, proporcionando o ajuntamento dos possíveis compradores. Identificados pelos trajes medievais que envergavam, a organização não se esqueceu de trazer também vários elementos de atração, como, por exemplo, um rancho folclórico, músicos, bombos a emitir sons que se ouviam à distância, a figura de um homem de pernas artificiais longuíssimas que, conseguindo deslocar-se sem dificuldade aparente, causava a admiração de quem, devido à sua idade avançada, não conseguia caminhar com facilidade nas pedras da calçada. Havia ainda alguns malabaristas, entre os quais um indivíduo que, acompanhando os músicos, se deslocava com os pés assentes sobre uma enorme bola que fazia rolar pelas ruas.
Este ambiente agradável criava nas pessoas a disposição para visitar todas as ruas da aldeia e, colaborando na animação, dispunham-se a efetuar a compra de alguns dos artigos expostos, para gáudio dos vendedores, que viram assim escoados os seus produtos, não tendo motivo para se arrependerem por todo o trabalho despendido.
Com o passar do tempo, sentindo a necessidade de tomar uma refeição, as pessoas dirigiam-se às “tasquinhas” onde podiam saborear uns petiscos. No serviço às mesas era usual verificar a colaboração de toda a Família, incluindo alguns jovens bastantes novos que, mesmo sem preparação prévia, se adaptaram de modo muito satisfatório.

Berlusconi, Sílvio Berlusconi (1936-2023) o Cavaleiro que dividiu Itália


Fez fortuna na construção civil, no futebol e na comunicação social. Foi primeiro-ministro de Itália, esteve envolvido em escândalos sexuais e financeiros e ofendeu meio mundo, da política às artes. O Cavaleiro, ou o Caimão (como também era conhecido), morreu a 12 de junho, deixando um rasto de polémicas, misoginia, condenações, processos arquivados, ligações à Máfia e histórias mal contadas.
Sílvio, nascido em Milão numa família de classe média, a 29 de setembro de 1936, cerca de três anos antes do início da II Guerra Mundial, foi o mais velho de três irmãos, tendo estudado, durante a adolescência, num colégio salesiano. A formação académica completou-se com o curso de Direito da Universidade de Milão.
Em 1974 iniciou a revolução do panorama audiovisual transalpino. No fim da década de 1980, já era proprietário de várias estações de televisão e rádio, lojas multimarcas, salas de cinema, empresas de comunicação e de um clube de futebol histórico, o AC Milan.
A vida pessoal de Berlusconi foi conturbada, com vários casamentos e divórcios.
Rico e famoso, parecia ainda faltar alguma coisa ao percurso social de Berlusconi. E é assim que, em 1994, entra no mundo da política, com a criação da Forza Italia, um partido conservador feito à imagem do seu líder. De 2001 a 2006, Berlusconi é o único primeiro-ministro na história republicana de Itália a permanecer no cargo por cinco anos consecutivos, até o fim efetivo do seu mandato.
Chegou como um cometa, fruto também de toda a presença nos media de que dispunha, ganhou as eleições desse ano, chegou ao cargo de primeiro-ministro, mas só durante oito meses. Optou pelo mundo da política, de acordo com a comunicação social que acompanhou a ascensão ao estrelato do magnata milanês, por um lado, para salvar da falência as suas empresas, por outro, para escapar a condenações daí decorrentes.
Berlusconi era um desalinhado, um outsider que iria acabar com a burocracia e com as falhas do Estado, ao jeito dos populistas que hoje já se tornaram habituais um pouco por todo o mundo.
Durante o seu percurso político, alguns comentários ficaram para a história, como quando ofendeu a chanceler Angela Merkel (“uma gorda” com quem não teria relações), o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz (“dava um bom guarda alemão de campo de concentração nazi num filme”), o povo chinês (“cozeram crianças para fertilizar os campos”), o antigo presidente dos EUA, Barack Obama (“jovem, bonito e bronzeado”) e até os sobreviventes do sismo de 2009 em L’Aquila (“quem ficou sem casa, devia olhar para esta experiência como um fim de semana de campismo). Mas Berlusconi nunca pediu desculpas e sempre cultivou a controvérsia, tendo chegado a classificar-se como “o melhor líder político da Europa e do mundo”, depois de se ter comparado com Jesus Cristo e de ter também afirmado: “Apenas Napoleão fez mais do que eu fiz. Mas eu sou definitivamente mais alto”.
Muito preocupado com a sua aparência, este homem de cabelo escasso pintado de castanho, a quem uma espessa camada de base dava um ar eternamente bronzeado, recorreu durante anos sem complexos a cirurgias estéticas.
O seu gosto assumido por mulheres bonitas, incluindo ‘acompanhantes de luxo’, acabou por lhe valer, em 2009, um processo por prostituição de menor e abuso de poder.
Agora, onde quer que esteja, Berlusconi deverá continuar a fazer as festas ‘Bunga-Bunga’!

lendas, historietas e vivências

ESTAÇÃO DOS CAMINHOS DE FERRO DE MANGUALDE
Com a construção das linhas férreas também, como era fundamental, foram criados os lugares de paragem dos comboios, bem como diversos equipamentos necessários ao funcionamento eficiente de toda esta moderna (ao tempo) estrutura. O edifício que iria albergar a GARE com todos os espaços que dariam apoio aos passageiros – BILHETEIRAS, SALAS DE ESPERA COM BANCOS para comodidade dos mesmos, que aguardariam as chegadas e partidas dos combóios, a SALA DE DESPACHO de bagagens e outros. A espera do comboio fazia -se na GARE propriamente dita. Esta era a área exterior e funcional das chegadas e partidas dos passageiros. Foi um espaço bonito, de certa elegância – a fachada decorada com azulejos tendo uma cobertura metálica verde assente sobre estruturas e peanhas de ferro enrolado criando um emaranhado elegante ao longo da gare. Nesta, o corpo principal era dividido em três partes – a central destinada ao embarque havendo mais dois corpos, um para sul era o lugar das actividades do CHEFE E “FACTORES” na resolução das diversas questões inerentes ao atendimento do público em geral e passageiros. Para norte erguia-se outra construção contínua, simétrica com as restantes e que era destinada ao conforto alimentar dos passageiros, possuindo um bar e uma elegante sala de refeições. Logo a seguir no exterior havia um esplêndido e muito bem cuidado espaço ajardinado e um lago. Começando a primavera, com tempo limpo, era um enorme prazer para quem esperava a chegada de passageiros ou iria partir, relaxar neste fresco e tão colorido espaço. Também os habitantes próximos da Estação se sentiam “quase” donos de todo este envolvimento. Era com prazer que iam almoçar ao restaurante da Gare onde a D.TEODOLINDA lhes providenciava uma bela refeição. Ou lanchar e tomar um café no BAR ao lado. Desde a inauguração da linha da Beira Alta que se sentiu a vontade na Direcção dos Caminhos de Ferro tornarem todo o percurso tanto quanto possível cómodo e atraente para os seus utilizadores. Assim, todas as Estações até à Pampilhosa, e não só, tinham a sua área ajardinada a que foi dada uma considerável importância já que a empresa fazia concurso entre as diversas estações atribuindo prémios às mais belas e bem cuidadas tendo para isso criado júris de avaliação. Também ao CHEFE da Estação de Mangualde, ao tempo, foram atribuídos primeiros prémios pelo cuidado que reservava ao espaço vistoso e agradável da sua Estação. Do edifício fazia parte um corpo central em primeiro andar que era destinado à habitação permanente do Chefe. Todas as estruturas foram pensadas para serem funcionais e elegantes. Ao tempo, este foi um lugar surpreendente.

UCC: mesma sigla, significados distintos

Aquando da extinção das Sub-regiões de Saúde, surgiram os Agrupamentos de Centro de Saúde (Aces), que compõem uma carteira de Unidades Funcionais (UF), sendo as mais difundidas as USF (Unidades de Saúde Familiares) e as UCSP (Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados), por manterem uma resposta semelhante aos antigos Centros de Saúde, ou seja, consultas individualizadas com acesso aos cuidados de saúde preventivos ou curativos. No entanto as UCC (Unidades de Cuidados à Comunidade), surgiram para dar resposta à necessidade de cuidados de saúde específicos às famílias e comunidade. É constituída por enfermeiros, assistentes sociais, médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas da fala e outros profissionais, cujo objetivo é serem mais próximos da comunidade, quer a nível domiciliário quer a nível de preventivo através de programas para educação para a saúde (Saúde Escolar entre outros) quer a nível da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) com a equipa de domiciliária (ECCI- equipas de cuidados continuados integrados).
Já as UCC (Unidade de Cuidados Continuados Integrados) são conhecidas pela população em geral, como um internamento para indivíduos com alto grau de dependência devido a doença crónica ou com maior vulnerabilidade física, psíquica e social. É constituída por uma equipa multidisciplinar (enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares de ação médica, assistentes sociais, médicos entre outros), cujo a finalidade é manter ou recuperar a pessoa que detém um processo crónico ou agudo de doença,
É crucial que a população tenha conhecimento em diferenciar estas unidades, para melhor gestão dos recursos que dispõem nos cuidados de saúde primários da sua área de residência.
A título de curiosidade, as UCC (comunidade) são as principais protagonistas dos ganhos em saúde na comunidade onde estão inseridas, o resultado do seu desempenho. No fundo é ganhar anos de vida, apostando na qualidade de cuidados prestados, quer de forma preventiva ou paliativa. A equipa é multidisciplinar devido às várias áreas que envolve; desde inicio de vida com ações formativas para futuras mães a ações de sensibilização a adolescentes acerca de temáticas como os comportamentos aditivos a sexualidade. Sendo que a ECCI é a área que mais absorve a UCC devido ao envelhecimento populacional e consequente vulnerabilidade dos indivíduos à doença crónica.
Por vezes omisso, nos discursos inflamados dos atores políticos locais, as UCC (Comunidade) têm poucos recursos para as metas que tem de atingir. Talvez omisso por os coordenadores serem quase sempre enfermeiros; talvez omisso porque as apostas nos cuidados de saúde primários evitam muitos custos e previnem muitos lucros a certas indústrias!

SANFONINAS

A espinha pensadora
Estavam-me a saber mesmo bem estas primeiras sardinhitas assadas do ano. Recomendáramos ao cozinheiro que lhes deixasse a camisa a estalar, de modo a podermos tirá-la de uma só vez e a polpa ficava assim bem apetitosa por baixo. Via-se que, desta feita, o senhor Alberto se esmerara na escolha e aí as tínhamos ‘vivinhas da costa’, como outrora as varinas pregoavam.
Meu pai, que fora arrieiro e, madrugada afora, ia do Barrocal, escarranchado no macho até à praça de Olhão, conhecia bem quando a sardinha era fresca; garreava, por vezes, com a Carolina ou a ‘menina’ Sara, se as guelras não estavam lá a preceito – e, assim, comíamos sempre daquelas que untavam o pão.
Era sagrado e é ainda hoje: a sardinha quere-se sobre boa fatia de pão, que no final bem gulosamente apetece saborear. Uns goles de sangria, preparada a preceito pelo Zé Carlos, uma salada mista com pimentinho assado a rigor, uns fios de bom azeite sobre as batatas cozidas e, num dar graças a Deus, se estava a passar o repasto, sem até me importar com as finas espinhas que protegiam as vísceras e que mui cuidadosamente eu procurava retirar, até porque aquelas ovas ali escondidas me iam saber um regalo…
Houve, porém, uma das espinhas que não quis passar despercebida: cravou-se, insolente, na gengiva e lá a consegui, com todo o cuidado, retirar. Caiu-me no guardanapo azul e eu fiquei a olhá-la, branquinha, branquinha, miniatural, teria um micrómetro? À espessura de um milímetro não chegaria, decerto. E eu fiquei a olhá-la. Nunca me apercebera da perfeição da sua linha. Nunca admirara a sua real beleza, porque sempre a vira incómoda, chata, que nos estorva a comer…E dei comigo a pensar: quantas dezenas, se calhar centenas e milhares de espinhas haveria numa sardinha. E todas assim perfeitinhas, no lugar certo, na função correcta. A rede matara-lhe a função; ela, porém, ali postada, queda, na superfície azul, branca, fiozinho quase imperceptível, foi para mim, nesse dia, uma lição. Antes de os pratos chegarem, entre uma azeitona temperada e uma dentada no pão trigueiro, dera para deitarmos contas à vida e falar dos doentes da família, das aldrabices correntes, do muito que teimava em infernizar-nos o dia a dia… E a Maria, de repente, já a refeição ia a mais de meio, viu-me assim pensativo: «Está tudo bem?». Acordei: «Está, está. Foi uma espinha que caiu aqui no azul do guardanapo!».