Berlusconi, Sílvio Berlusconi (1936-2023) o Cavaleiro que dividiu Itália


Fez fortuna na construção civil, no futebol e na comunicação social. Foi primeiro-ministro de Itália, esteve envolvido em escândalos sexuais e financeiros e ofendeu meio mundo, da política às artes. O Cavaleiro, ou o Caimão (como também era conhecido), morreu a 12 de junho, deixando um rasto de polémicas, misoginia, condenações, processos arquivados, ligações à Máfia e histórias mal contadas.
Sílvio, nascido em Milão numa família de classe média, a 29 de setembro de 1936, cerca de três anos antes do início da II Guerra Mundial, foi o mais velho de três irmãos, tendo estudado, durante a adolescência, num colégio salesiano. A formação académica completou-se com o curso de Direito da Universidade de Milão.
Em 1974 iniciou a revolução do panorama audiovisual transalpino. No fim da década de 1980, já era proprietário de várias estações de televisão e rádio, lojas multimarcas, salas de cinema, empresas de comunicação e de um clube de futebol histórico, o AC Milan.
A vida pessoal de Berlusconi foi conturbada, com vários casamentos e divórcios.
Rico e famoso, parecia ainda faltar alguma coisa ao percurso social de Berlusconi. E é assim que, em 1994, entra no mundo da política, com a criação da Forza Italia, um partido conservador feito à imagem do seu líder. De 2001 a 2006, Berlusconi é o único primeiro-ministro na história republicana de Itália a permanecer no cargo por cinco anos consecutivos, até o fim efetivo do seu mandato.
Chegou como um cometa, fruto também de toda a presença nos media de que dispunha, ganhou as eleições desse ano, chegou ao cargo de primeiro-ministro, mas só durante oito meses. Optou pelo mundo da política, de acordo com a comunicação social que acompanhou a ascensão ao estrelato do magnata milanês, por um lado, para salvar da falência as suas empresas, por outro, para escapar a condenações daí decorrentes.
Berlusconi era um desalinhado, um outsider que iria acabar com a burocracia e com as falhas do Estado, ao jeito dos populistas que hoje já se tornaram habituais um pouco por todo o mundo.
Durante o seu percurso político, alguns comentários ficaram para a história, como quando ofendeu a chanceler Angela Merkel (“uma gorda” com quem não teria relações), o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz (“dava um bom guarda alemão de campo de concentração nazi num filme”), o povo chinês (“cozeram crianças para fertilizar os campos”), o antigo presidente dos EUA, Barack Obama (“jovem, bonito e bronzeado”) e até os sobreviventes do sismo de 2009 em L’Aquila (“quem ficou sem casa, devia olhar para esta experiência como um fim de semana de campismo). Mas Berlusconi nunca pediu desculpas e sempre cultivou a controvérsia, tendo chegado a classificar-se como “o melhor líder político da Europa e do mundo”, depois de se ter comparado com Jesus Cristo e de ter também afirmado: “Apenas Napoleão fez mais do que eu fiz. Mas eu sou definitivamente mais alto”.
Muito preocupado com a sua aparência, este homem de cabelo escasso pintado de castanho, a quem uma espessa camada de base dava um ar eternamente bronzeado, recorreu durante anos sem complexos a cirurgias estéticas.
O seu gosto assumido por mulheres bonitas, incluindo ‘acompanhantes de luxo’, acabou por lhe valer, em 2009, um processo por prostituição de menor e abuso de poder.
Agora, onde quer que esteja, Berlusconi deverá continuar a fazer as festas ‘Bunga-Bunga’!