Calha a todos…parasitas intestinais!

Ana Cruz
É indecente falar de temas relacionados com excrementos ou fezes. Tal assunto é tão vergonhoso, que apenas quando temos situações críticas é que colocamos dúvidas, muitas vezes numa fase tardia …
Mas é um fato que devíamos ser educados desde crianças a observar os fluídos e dejetos que expelimos. “Epá! Isso é nojento”, pensa o leitor. Talvez o hábito consumista de ter tudo facilmente feito lhe tenha facultado a falsa realidade de controlar o seu ambiente, mas ignorar a existência de infeções parasitárias só lhe trará desconfortos evitáveis. A certeza que vive numa casa sem qualquer contato com animais de quinta, e que o seu inofensivo gato ou cão estão avessos a estes atropelos parasitários, pode trazer alguma suposição de não ser exposto a estes vermes. No entanto se há algo que estes invertebrados não são esquisitos, é com o tipo de habitação, classe social ou origens dos seus futuros hospedeiros. Até se conta que uma famosa cantora de ópera que quase se casou com o Aristóteles Onassis (para quem não se lembra, era considerado o homem mais rico do mundo após a II Guerra Mundial, tendo realizado fortuna com a frota de petroleiros), ingeriu um “vermezinho” para ficar mais elegante. Tal foi notória a sua perda de peso, que as suas “amigas” (que acabaram por expor este segredo da diva!) queriam saber o motivo. Lá a Maria que tinha o nome Callas, mas não soube se calar e contou que tinha feito. Porque um dos sintomas de estar infestado por estes seres, é a perda de peso. Quando o indivíduo tem as suas defesas saudáveis, nem se apercebe que está a alimentar estes parasitas. Eventualmente pode ter cólica\ dor de barriga, vómitos e até diarreia, mas nunca imagina que poderá ser por irritação do sistema gastro-intestinal devido a um verme.
As mais conhecidas são as lombrigas, mas existem centenas de parasitas intestinais. Os mais frequentes são as ténias, oxiúros e lombrigas. Podia colocar os variadíssimos nomes em latim para classificar os vermes que parasitam os intestinos, com certeza daria uma imagem mais científica e profissional, mas o objetivo e clarificar e alertar os leigos que independentemente dos nomes científicos querem é saber como prevenir esta infestação e incómodo. Os parasitas não sobrevivem sem um hospedeiro, sendo o porco e o gado os principais recetores. Logo, ao consumirmos carne de porco e vaca e não procedermos à sua correta cozedura podemos ser os próximos hospedeiros. É através das fezes que estes animais conseguem contaminar os hospedeiros, ou seja quando alojados no intestino do hospedeiro libertam ovos que quando expelidos pelo hospedeiro poderão contaminar outros seres humanos\ animais. Daí a preocupação de cozer bem a carne para destruir estes ovos. Também o fato de andar exposto ao estrume\ terra onde poderá existir estes potenciais ovos e\ou parasitas é um risco de ficar infestado. As crianças e os idosos, por terem as suas defesas mais imaturas ou fracas, respetivamente, estão mais suscitáveis a contraírem esta patologia. Assim para além da fadiga, dor de barriga e diarreia, existem outros sintomas bem mais evidentes e que descuidamos. A famosa comichão durante a noite na zona anal, agitação durante a noite que provoca insónia; a expulsão dos próprios parasita nas fezes diárias (e por vezes pode sair pela boca ou nariz!); o ranger de dentes (bruxismo) que supostamente não está confirmado cientificamente, mas que as pessoas com mais idade lembram-se de associar às lombrigas. O diagnóstico deve ser sempre acompanhado pelo médico, mas há quem se adiante, como foi o caso que passo a citar: Certo dia, a médica com quem estava a fazer equipa chama-me ao seu gabinete. Ao entrar vejo uma senhora que aparentava 70\80 anos sentada, junto à secretária da médica. “Veja o que esta senhora me ofereceu!”-exclamou a médica com um tom brincalhão. Levanta um frasco típico de colheita de urina, com uma espécie de minhoca e líquido amarelado. Escusado será dizer que o aparato de ver uma lombriga, impôs um bloqueio para não expressar o meu asco. Mas ao mesmo tempo admirei a coragem e o sangue frio da senhora em mostrar o que tinha expelido e da médica por não colocar uma atitude de repugnância e altivez, em concordância com o estereótipo…
O tratamento que pode ser adquirido na farmácia sob consulta do farmacêutico, não sendo obrigatória a ida ao consultório médico. No entanto obrigatório é informar as instituições onde as crianças\idosos permanecem devido a contágio. Realizar uma higiene corporal mais rigorosa na região anal para evitar proliferação dos ovos que estão a ser expulsos. Trocar mais frequentemente a roupa interior (cuecas, toalhas, lençois). Cortar as unhas mais rente, quando coça os ovos podem ficar alojados sob as unhas, e facilmente podem entrar em contato com a boca! Todos os que habitam na mesma casa devem ser desparasitados no mesmo dia, todos significa pessoas e animais! E para evitar reinfestações, 20 os 30 dias depois devem ser novamente desparasitados. Isto não evita nova infestação. De fato existia uma corrente de médicos de família nas décadas 70\80 que prescreviam desparasitantes antes das pessoas de queixarem….
A minha mãe conta, que a minha avó todos os dias observava o sítio onde os filhos evacuavam (tempos em que ter casa de banho era um luxo…). Quando via algo de anormal –lombrigas- dava pevides de abóbora em jejum aos filhos até não aparecer mais alguma anormalidade. Hoje as coisas não se resolvem apenas com pevides, mas que as lombrigas ainda estão para incomodar…