COM ALMAS LAVADAS TODOS OS ANOS O VERÃO SE INSTALA NO NOSSO CORAÇÃO  

20180927_115708
O VERÃO NA MINHA ALDEIA 
Correm no calendário estes dias de canícola de um estio extremamente severo que nos aquece como fornalha de ferreiro . Tem - me vindo á memória como eram passados os dias na minha aldeia e muitas recordações remanescentes dos longínquos anos sessenta do século passado . O calor tisnava os corpos daqueles que trabalhavam nos campos . Meus pais levantavam-se de madrugada para regar as hortas e só pelo fim da tarde , mesmo á tardinha voltavam de novo a essas tarefas .Terrenos sequiosos abrindo fendas que lhe dilaceravam as entranhas exigiam a rega assídua e aturada das batatas , das cebolas , do milho , do feijão verde , do tomate , do pepino , do melão e da melancia As férias escolares pareciam uma eternidade . Três indecisos meses sepultados nos lábios da natureza num tempo em que não havia ainda televisão nem outros divertimentos e distracções além daquelas brincadeiras que eram inventadas por nós , puras diversões educativas e saudáveis , próprias da nossa juventude e adequadas às épocas que vivíamos . Nos pinheirais os ventos gemiam e choravam e mais nos avivavam a ansiedade que chegasse o dia 7 de Outubro para o reinicio das aulas . As cópias , exercícios de álgebra e redacções passados pela professora, rapidamente se haviam feito . Sobrava-nos mais tempo para a brincadeira . À noite como as casa ficavam insuportavelmente quentes porque a aragem se a havia era sufocante , as famílias sentavam - se nas soleiras das portas admirando a grandiosidade do firmamento salpicado dos mais diversificados astros luzentes e tagarelavam até altas horas da noite . E as estrelas cadentes que faziam desenhos a riscar o céu ! … Quem teria inventado aquilo?! …Interrogava-me muitas vezes , mas não sabia a resposta , mas pelo meu acanho também não perguntava a ninguém . Contavam-se “ estórias “ incríveis recambulescas arrepiantes de feiticeiras lobisomens e afins que nos rodeavam de espantos e medos . Recordo aquela velha figueira que sustentava corajosamente seus frutos e nos dias amadurecendo iam tombando como folhas caducas sem serem colhidos e naquelas manhãs já muito frescas e húmidas com suas mãos de brisa que agitavam seus longos ramos como ondas revoltas de verdes esperanças .Não esqueci a queda de um secular castanheiro que tombou num estrondo e à sua volta tudo fez estremecer . E naquele abalo de dor e morte uma imensa nuvem de pó se levantou e fugiu voando . Era assim a minha aldeia onde ainda hoje paira a sua voz no marulhar das águas das nascentes num murmúrio que sai das pétalas a abrir nas ondas serenas de uma fonte onde outrora assiduamente os meus lábios ressequidos ia molhar . E os meus treze lustros deslizam no tempo fulgurantes como impetuosos ribeiros nos quais a sombra dos montes se alonga conforme o sol declina e se avizinha a noite dos purpurinos horizontes acordando num alvorecer de paz e solidão .