Arquivo diário: 11 de Maio de 2015

EDITORIAL Nº 661 – 1/5/2015

SR

Caro leitor,
Recentemente, discutiu-se a natalidade na Assembleia da República. Presenciei com agradabilidade o debate, já que a sua raridade claramente contraria a sua urgência. Em Portugal, desde há muitos séculos e desde que me lembro, que os pais tentam e tudo fazem para deixar um futuro melhor aos filhos e, em consequência, poupam o que podem para só um ou dois filhos, sabendo que a vida está cara e hoje em dia criar filhos mais a torna. Com os sinais de incerteza dos últimos anos, ter filhos foi-se tornando cada vez mais um privilégio de poucos, próprio de quem tem meios para os sustentar no presente e garantir que serão financeiramente autónomos no futuro. Ademais, as famílias surgem cada vez mais tarde na vida adulta e os filhos saem cada vez mais tarde do regaço financeiro dos pais. Enquanto que nos países em desenvolvimento é habitual casar na adolescência ou em jovem, em Portugal os filhos têm-se por volta dos 30, até 40 anos. Paralelamente, enquanto que nalguns países a cultura dita que os filhos se emancipem cedo, em vista à independência ou sobrevivência, Portugal tem por vezes o hábito de dar o peixe a quem tem de aprender a pescar.
Felizmente, o mundo está sempre em constante mutação. Num tempo que a natalidade não era uma questão para debate, a pobreza era mais vincada. Nesse tempo, dos anos sessenta e da minha geração, alguns casais tinham cinco filhos e outros até dez. Os meus avós paternos tiveram quatro filhos e os maternos cinco. Assim como na maior parte da aldeia, os filhos cobriam a terra. A jogar descalços com bolas de farrapos e à bilharda e ao pião. Este último feito por nós. Era este o lazer que se encontrava nos intervalos da escola, quando não havia castigo da Sra. Professora que com cada reguada, também conseguia decidir futuros.
E é esta geração que está a sustentar a segurança social, porque de futuro não vai ser sustentável e mais impostos vão cair nos trabalhadores, vai ser necessário igualar pensões.
Dizem as estatísticas que, nos anos 80, nasciam em média 160 mil crianças por ano em Portugal, quase o dobro em relação ao ano de 2013. Em 2014 tivemos mais nascimentos, mas não se sabe se ditará uma nova tendência. Provavelmente, os casais esperaram alguns anos para poderem ter os seus filhos e, agora que a perceção mostra melhorias, decidiram tê-los. Também a idade média da mãe, aquando do nascimento do seu primeiro filho, aumentou em relação a 2008, de 28,5 anos para 29,5 anos, mesmo com o crescimento económico ténue em 2014 e a baixa taxa de natalidade em Portugal, que é das mais baixas da União Europeia. São necessárias mais e urgentes medidas governamentais para fazer diminuir este declínio que tem envelhecido Portugal. As crianças deverão estar sempre no centro das atenções da vida.

Também recentemente foi comemorado mais um aniversário do 25 de abril, que para sempre será o dia da Liberdade. Nestes dias nota-se no entanto uma diferença, ainda que haja liberdade de expressão, muitas outras se vão perdendo e outras ainda, são agora mais geridas ao microscópio. Fica-nos felizmente a capacidade de o dizer abertamente.
Um abraço amigo,