REFLEXÕES

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PROTECÇÃO ANIMAL
EPISÓDIOS
Desde o início de 1980 a minha vida profissional trouxe-me para a terra de nascimento. Andei por várias cidades ao longo da vida de estudante e depois como profissional do ramo educacional. A minha cidade de coração foi sem dúvida o Porto. Detestei Lisboa. Acabei por me fixar em Coimbra, por tempos. Gostei e gosto desta cidade. Aqui fiz grandes Amizades e desenvolvi actividades variadas que não cabe nomear no tema presente. Gostarei, no entanto, de aqui referir situações marcantes da minha motivação em proteger animais.
Foi por esta altura que me tornei mais activa perante realidade dos maus tratos a animais ou de situações em que os animais estavam em sofrimento e ninguém se disponibilizava a acudir-lhes. Começaram aqui as minhas grandes e difíceis experiências. Recordo os momentos de amargura que sofri e as lágrimas que chorei junto a um pobre cão que havia sido atropelado. Estaríamos em 1976. Vivia eu no bairro do Monte Formoso, e pelas sete e meia da manhã descia a rua de carro a caminho da minha Escola. Ali ao fundo junto à av Fernão de Magalhães vejo uma mancha branca na berma, afrouxei e apercebi- me que era um cão. Parei e fui ver. O animal estava deitado e em grande sofrimento, tinha um enorme papo na barriga e provavelmente ossos da bacia partidos…! Fiquei em pânico. Por esta altura não sabia da existência de veterinários nem clínicas na cidade. Como poderia eu acudir aquele pobre ser vivo?!. Assim, ali, não me surgia nenhuma solução…Os carros passavam e nem olhavam. Eu estava acocorada junto do pobre cão que olhava para mim como que a pedir ajuda a gemer e com grande dificuldade em respirar. Telefones não havia por perto e telemóveis nem ainda existiam na mente dos cientistas. Estávamos ali absolutamente sozinhos na beira duma cidade!!! Chorei muito, muito, por sentir a minha impotência perante uma situação tão dura. Acho que gritei, mas ninguém se abeirou a sugerir ajuda…passava-lhe a mão pelo corpo numa intenção de carinho estimulante e falava-lhe nem sei o quê! Estive assim mais de uma hora, faltei à primeira aula. Com muita angústia decidi seguir viagem na esperança de que na minha Escola conseguiria um contacto com alguém que me pudesse ajudar. Aqui soube dum representante da Liga Protectora dos Animais de Lisboa, obtive o número do seu telefone. Atendeu, eu expliquei-lhe toda a situação…mas a resposta foi “para já não tratamos desses problemas. Sou só eu em Coimbra ainda estamos a organizar-nos. ENTÃO QUE POSSO FAZER?!!! Telefone para a Câmara para o irem buscar… Assim fiz. E também para a PSP.
Procurei acalmar e pôr a minha mente em sossego para poder dar as aulas até à uma da tarde…. Saí disparada e fui ao sítio na esperança de que alguma autoridade já tivesse actuado… MAS NÃO!...um animal pode sempre esperar… e o cãozinho ainda ali estava… morreu sozinho!! Chorei, chorei muito pela minha impotência acho que até mordi as mãos por não ter conseguido ajudar aquele sofredor. NUNCA MAIS ESQUECI ESTA IMAGEM. Interiorizei-a como um apelo, um chamamento para o que seria a minha vida no mundo da protecção animal.
Outros casos ainda passaram por mim em Coimbra, mas o que acabei de descrever foi o tiro de partida, embora estivesse bem longe de imaginar as grandes dificuldades em encontrar soluções ao longo do tempo. Foi ainda aqui o meu primeiro compromisso com um pequenino caniche. Uma senhora vizinha no meu andar veio de Paris, de férias. Lá tinha comprado um cachorrinho para a filha. No entanto a vizinhança rejeitou a presença do animal, já que mãe e filha saiam muito cedo e ele ficava a latir todo o dia, sozinho, no quarto alugado…. Quando as pessoas não sabem avaliar as suas condições de vida e a que podem proporcionar ao animal, acabam sempre por se verem confrontadas com situações desagradáveis. Foi o caso. Vieram de férias, mas teriam que deixar ficar por cá o seu amigo. Quando a vi à porta com o cachorrinho, ainda pequeno, fiz-lhe um elogio…. Muito lindo o vosso cãozinho!!! E a senhora começa num pranto… não o podia levar de regresso e que não tendo ninguém a quem o deixar, lhe aconselharam a entregá-lo no canil da GNR! O quê??!! Esta coisinha num canil?! Da GNR? A comer restos? A dormir onde?! Não sei… é o nosso menino… e choravam sem parar, mãe e filha…. Vamos lá a ver, se é assim, se não têm ninguém, eu fico com ele, não vai morrer num degredo!!.. Agarraram-se a mim a chorar… era isso que nós queríamos, mas tínhamos vergonha de pedir… Muito obrigada, muito obrigada e foram buscar um babete e uma saquinha do guardanapo(!)… Sabe? Era para ele não ficar sujo depois de comer!! Era como um filho… Por favor trate-o bem, sim? É o nosso menino!... Vão descansadas ele fica muito bem, ele fica aos meus cuidados. E pronto, foi assim que eu abriguei o meu primeiro protegido em Coimbra. Factos verídicos… estórias de Vida.
PENSAR VERDADE. FALAR VERDADE.
Janeiro 2019