REFLORESTA

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Refloresta é uma nova Cooperativa do concelho de Mangualde, direcionada, como o nome indica, para a floresta.
O projeto, que teve inicio em 2016, teve como base o crescente número de incêndios, as enormes áreas ardidas e os prejuízos materiais e humanos que nos últimos anos têm assolado o Interior. Mas, afinal, o que é a Cooperativa Refloresta? Para sabermos um pouco mais do que é e do que se propõe, falamos com José Manuel Ferreira, Presidente do Conselho de Administração da Reflotesta.

RENASCIMENTO - Refloresta, o que é e como nasceu a Cooperativa?
JOSÉ MANUEL FERREIRA - A Refloresta é uma resposta civil ao drama em que o abandono da floresta se tornou.
O crescente número de incêndios, as enormes áreas ardidas e os prejuízos materiais e humanos que nos últimos anos têm assolado a nossa região, são, em tudo, razões mais que suficientes para que todos se empenhem em mudar a forma como se vê a floresta.
A Cooperativa Refloresta é um projeto que teve início há cerca de dois anos, nasceu da ideia de um grupo de amigos que viram as suas propriedades, e grandes áreas do concelho de Mangualde, e do país, devoradas pelos incêndios e que quiseram fazer alguma coisa para alterar o paradigma que se tem vindo a verificar.
A Refloresta carateriza-se por ser uma Cooperativa Agrícola virada para o setor Florestal.
O intuito desta Cooperativa é colaborar na mudança de paradigma que é urgente levar a cabo e “Tornar o Concelho de Mangualde, no Concelho Mais Verde de Portugal”.

REN. - Mas porquê uma Cooperativa?
jmf - Essa é uma boa pergunta.
Cooperativa, porque na Refloresta estamos convictos que as cooperativas desempenham um papel essencial na criação de emprego e são um fator potenciador da participação, da cidadania, do empreendedorismo e do desenvolvimento dos setores em que desenvolvem a sua ação.
Este modelo empresarial, com mais de 150 anos, com todas as atualizações que tem recebido, transformou-se numa forma de gestão empresarial bastante eficaz, que, simultaneamente, continua a ser capaz de responder aos desafios do presente, mas colocando as pessoas no centro da ação, e não os lucros.
O modelo Cooperativo ainda consegue dar respostas, porque funciona através da união de esforços, da visão empreendedora partilhada, da resposta conjunta a uma série de necessidades comuns, que conseguem no fundo encontrar soluções para fazer da nossa comunidade, um sítio melhor.
O Projeto Renascer Floresta pretende mostrar isso, mostrar que as cooperativas são uma solução de futuro viável e solidária e que todas as pessoas ligadas à agricultura podem fazer parte deste universo.

REN. - Quem pode pertencer à Refloresta, isto é, quem pode ser cooperante?
JMF - Como referia antes, naturalmente todas as pessoas que de alguma forma tenham ligação á terra, e ás atividades a ela ligadas, podem vir a ser cooperadoras da Refloresta. Claro está que é necessário respeitar certas regras, regras impostas pelos Estatutos e pelo Código Cooperativo, porque não pretendemos cooperadores que não tenham nada a ver com o setor, ou que apenas achem isto bonito, a agricultura é um trabalho duro e aqueles que no dia a dia a exercem sabem-no bem.
Claro que estamos abertos a todas as solicitações, que naturalmente serão estudadas no sentido da sua viabilidade e benefícios para ambos os lados.

REN. - Em que aspetos pode a Cooperativa ajudar, particularmente, a população de Mangualde?
JMF - Quando referimos que queremos transformar “Mangualde no Concelho mais Verde de Portugal”, transformamos isto num desígnio capaz de mobilizar todas as pessoas, instituições, entidades, empresas, etc., que direta ou indiretamente são afetadas pela extinção da floresta e consequente pelo impacte negativo nos ecossistemas e na qualidade de vida das pessoas.
O que oferecemos, bem a Cooperativa conta com uma equipa de quadros técnicos superiores, qualificados nas diversas áreas de intervenção; Ambiente, Geografia, Cartografia, Clima, Floresta, Recursos Hídricos, Agronomia, Biotecnologia, Informática, Direito, Serviço Social, Formação, Saúde, Gestão, Finanças, etc., que são o seu principal capital e a maior garantia da qualidade e competência dos serviços que presta, afinal fazemos em casa, diretamente com o cooperador, sem intermediários, e isso traduz-se em confiança, rapidez, economia e principalmente alguém a que recorrer e com que falar.

REN. - E Espaço físico? Quem precisar dos serviços da Refloresta, pode dirigir-se onde, ou contactar de que forma?
JMF - A sede da Refloresta é no Edifício CIDEM, na Rua Nova nº 71 em Mangualde, também conhecido pelo Grémio, junto aos Correios. Esta é uma sede provisória, uma vez que o espaço foi protocolado com a Câmara Municipal e pretende ser, como o próprio nome refere, um Centro de Dinamização Empresarial de Mangualde, e a verdade é que alberga no mesmo um forte cluster do setor agrícola que tem dado grandes provas do seu valor.
Claro que a Refloresta pode ser contactada por telefone, por email, por correio, mas estamos sempre disponíveis para receber e ouvir quem necessita da nossa ajuda.

REN. - Agora que já sabemos um pouco da Cooperativa em si, diga-nos, como é que a Refloresta vê atualmente o Concelho de Mangualde neste setor da floresta?
JMF - Esta pergunta deixa-me um vazio na alma, como todos se lembram, em especial aqueles com mais alguns anitos, as estradas que ligavam as nossas aldeias à cidade, e entre elas, eram circundadas por florestas vigorosas e bonitas, hoje é desolador passar nos mesmos locais e ver uma paisagem árida, que mais parece a imagem de um mundo saído de algum apocalipse, ver pinheiros queimados, ou mortos por pragas e doenças, que caem por todo lado, tornando inclusivamente perigosa a circulação de pessoas e viaturas.
Vemos por todo lado o efeito da erosão dos solos, onde as pedras ocupam lugar de destaque, onde a pouca chuva que tem caído logo provoca aluimento de taludes e obstrução de valetas e vazadouros, onde os poucos que realmente vão fazendo alguma coisa, são mesmo os proprietários prejudicados.
Perguntamos se este é o fim da nossa floresta, a extinção? Cedemos, damo-nos como vencidos ou lutamos, limpamos, replantamos e deixamos para as gerações futuras um legado que recebemos e não soubemos preservar?
Como referiu o Sr. Primeiro Ministro “Não pode voltar a haver uma distração sobre a floresta…”.

REN. - Tivemos conhecimento que a Refloresta entregou na Câmara Municipal um projeto para a criação de um “Centro Tecnológico para o Setor Agroflorestal”, o que é, e qual o objetivo deste projeto?
JMF - Sim, é verdade, temos vindo a trabalhar neste projeto, que visa a criação de um Centro Tecnológico para desenvolver espécies florestais micorrizadas, por forma a criar alternativas mais viáveis, quer biologicamente quer do ponto de vista económico.
A sustentabilidade da floresta está diretamente relacionada com o rendimento que os proprietários podem auferir da mesma, e se não se oferecerem novas formas de cultura florestal, não vislumbramos a sua viabilidade.
Este projeto pretende focar a rentabilidade na manutenção da floresta através da produção de produtos e subprodutos resultantes da floresta e não apenas pela venda da madeira.

REN. - Outras considerações que julguem importantes.
JMF - Já que falamos em desenvolvimento, podemos avançar, que estamos a criar uma plataforma digital para colocar lotes de madeira em venda. Esta plataforma visa aumentar a rentabilidade do produtor, evitar a especulação sobre a madeira e controlar o corte da floresta, uma vez que passará a ser possível saber quantas árvores se cortam anualmente, e estabelecer um plano de replantação para as áreas após corte.
Entendemos que a conjugação destas soluções, pode ser um contributo fundamental para mudarmos o modo como vemos a floresta e perspetivarmos o seu futuro.