E por falar em tiróide…

Ana Cruz
Falar em doenças\ patologias endócrinas é cada vez mais frequente. Mas quem é leigo em Medicina pode sempre encostar à desculpa “ Não tenho de saber, nem tirei um curso de medicina….”. No entanto, e correndo o risco de ser redundante e exagerada, cada indivíduo deve zelar pelo seu estado de saúde e responsabilizar-se em inteirar acerca dos conceitos médicos associados à sua condição de saúde\doença. Especialmente, se padecem de uma mazela que até é fácil de controlar, mas por desconhecerem a origem e o controle da mesma, provocam desequilíbrios desnecessários na sua saúde e potencial diminuição da sua qualidade de vida. (Recordo-me de uma senhora diabética que mantinha-se a comer Nestum® Mel e todos os que não abdicam de comer os petiscos diários mas queixam do colesterol alto…Porque “Que hei-de comer então? Carne é que é bom, então aquele chouriço ao lanche.” diz o futuro (e se calhar até presente!) hipertenso!
Enfim… Retornando ao assunto das doenças endócrinas, a mais divulgada é a Diabetes, mas ultimamente têm surgido muitos casos de patologias da tiróide. Mas afinal o que é e para que serve a tiróide?
Antes de utilizar o famoso motor de busca da Internet e ler, de forma superficial, a resposta relativa à questão supracitada, deve prestar atenção aos sintomas provocados pelo mau funcionamento deste órgão\glândula. A tiróide é frequentemente desvalorizada devido aos sintomas serem subtis e por vezes gerarem confusão no diagnóstico. Assim, uma depressão crónica pode estar associada a uma má função tiróidea; um cansaço crónico (por vezes apontada depreciativamente como preguiça!) pode estar associado a uma má função da tiróide e um excesso de peso ou magreza extrema também pode ser sinal de uma tiróide incapaz.
A tiróide produz químicos denominados por hormonas (T3, T4 e calcitonina) que estimulam ou inibem a função de vários sistemas do corpo, tais como o sistema cardiovascular, gastrointestinal, nervoso entre outros. De fato, o termo “hormona” provém do grego que significa “pôr em movimento; excitar”, daí a sua influência no organismo. Mas para existir uma produção eficaz destas hormonas é necessária uma ingestão de iodo, sendo recomendado a sua suplementação durante a gravidez e amamentação exclusiva como prevenção de subdesenvolvimento do feto e criança. Normalmente quem tem uma dieta rica em peixe, leite e hortícolas não necessita de suplementar com iodo (Como tudo na vida, quando em exagero provoca um desequilíbrio, neste caso da tiroide). Quando existe uma diminuição da produção das hormonas, denomina-se por hipotiroidismo, e quando existe um aumento da produção das hormonas denomina-se hipertiroidismo. O diagnóstico é sempre definido pelo médico, mas reconhecer os sinais e comunica-los ao médico depende apenas da pessoa! Assim, se a tiroide tem uma função de regular a energia no nosso organismo, isto corresponde que quando temos hipotiroidismo podemos sentir mais lentificação nas nossas ações com sinais típicos de fadiga, letargia, aumento de peso, pensamentos depressivos, prisão de ventre (obstipação), falhas de memória (diminuição cognitiva), pele seca e queda de cabelo. Quase sempre quem sofre deste quadro de sintomas também tem colesterol alterado. E por conseguinte hipertiroidismo aumenta os níveis de gastos de energia corporal que corresponde a sinais como: palpitações (taquicardia), perda de peso repentina, ansiedade\ irritabilidade, insónias, aumento do suor (sudurese). Quase sempre quem sofre deste quadro de sintomas também batimentos cardíacos irregulares e tensão arterial elevada.
Sendo a tiroide uma glândula localizada no pescoço na zona frontal, (vulgarmente conhecida pela “maçã de Adão” mais proeminente nos homens), tendo uma forma de borboleta, em que cada lobo\ “asa” circunda a traqueia e laringe, é fácil visualizar quando existe um aumento (bócio). A dor ao engolir também é suspeita que a função de tiroide está alterada, e deverá o ser realizado uma palpação da tiroide para despiste.
São vários os fatores que precipitam a disfunção da tiroide, mas o meu foco é prevenção da carência de iodo, ou seja um fator facilmente controlado através do consumo de sal de cozinha iodado. Tão simples e internacionalmente recomendado, porque há estudos realizados em Portugal que demonstram que grávidas e lactentes têm deficiência de ingestão de iodo e consequente há grande probabilidade de os bebés terem distúrbios no desenvolvimento neurológico e cognitivo. Já existem estudos que associam os distúrbios comportamentais (deficit de atenção e hiperatividade) com carência de iodo e consequente diminuição das hormonas tiroideias no feto e recém-nascido.
Assim invés de julgar os atos e comportamentos alheios, devemos auxiliar quem não reconhece que uma fadiga ou inércia é diferente de preguiça; que uma pessoa nervosa e irritada nem sempre é sinal de implicância, que uma obesidade não é pura gula. A tiroide está presente em homens e mulheres, sendo estas as mais lesadas por disfunções da tiroide. Mas infelizmente a exposição ambiental (químicos introduzidos artificialmente na cadeia alimentar) está a tornar o sexo masculino mais sensível a problemas da tiroide. Não tenha receio de questionar o seu médico ou outro profissional de saúde. Afinal a saúde é sua, quem mais deve ser responsável pela sua manutenção?