PROFISSÕES CAÍDAS EM DESUSO

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2ª PARTE
O Tamanqueiro: No nosso meio rural, os agricultores usavam os tamancos de pau, que normalmente eram manufaturados em oficinas caseiras em Mangualde, com os quais protegiam os pés usando meias de lã grossas feitas em casa aos serões. Aguentavam assim os rigores do frio do Inverno passados no amanho das terras. As crianças, com melhores posses, também usavam uns tamanquinhos com meias de lã, que levavam para a escola. Para uma maior duração colocavam-lhes testeiras de chapa em zinco, e algumas brôchas ou tiras de pneu no rasto para não escorregarem ao caminhar na calçada.
O alfaiate e a costureira: Na nossa terra os alfaiates e as costureiras exerciam a sua arte profissional, normalmente em suas casas. Trabalhavam por encomenda, tirando as medidas com a fita métrica, cortavam o tecido e mais tarde faziam as provas, mais que uma vez, se o achassem necessário. Quando o serviço apertava, havia a necessidade de fazer longos serões á luz do candeeiro a petróleo. Utilizavam a tesoura e alisavam o tecido com o ferro de engomar, aquecido com as brasas do lume da lareira. A máquina de costura era accionada com os pés e era ainda necessário dar alguns pontos com a agulha e o dedal, a obra tinha que estar pronta a tempo e horas para estrear nas ocasiões especiais: dias de festa, romarias baptizados e casamentos.
O engraxador: alguns dos nossos sapateiros, nos intervalos da aprendizagem exerciam a actividade de engraxadores como meio de garantirem mais algum rendimento extra.
Lavadeiras: Mulheres ou grupo de mulheres da nossa aldeia que quinzenal ou mensalmente se dirigiam a Mangualde recolhendo em “trouxas“ ou canastras a roupa de famílias ricas para lavarem no tanque público da aldeia ou em tanques particulares. Á roupa branca para ficar mais branca e “desencardida“ faziam-lhe “uma barrela com cinza“ (estendiam um pano em cima da roupa branca cobrindo-a com cinza durante uma horas). Era esta barrela ainda coberta com uma erva ”a mortinheira“ que lhe conferia um óptimo e agradável cheiro, um suave e delicioso perfume.
Criadas de servir: Era normal a na nossa aldeia as famílias serem numerosas. Como meio de sustento da família era vulgar a filha ou as filhas mais velhas serem mandadas para as grandes cidades ou mesmo para a vila de Mangualde para trabalharem nas casa ricas como “criadas de servir“. Faziam as lides de casa, iam ás compras ao mercado, confeccionavam as refeições. Tratavam dos filhos “dos senhores ricos“.
O coveiro: No silencio do cemitério trabalhava longas horas, ao sol e ao frio, dias santos e feriados a abrir as covas, enxadada após enxadada, pazada após pazada, de uma “altura“ ou duas “alturas“ conforme a previsão dos óbitos que poderiam surgir no futuro. Foi uma profissão exercida com muita dignidade por um nosso conterrâneo á longos anos passados no cemitério de Mangualde.
O Barbeiro: Atendia os clientes á porta de sua casa sentados num “mocho“ de madeira, e com um pedaço de lençol a servir de toalha em volta do pescoço, tesoura numa mão e pente na outra. Era aqui ponto de encontro onde se discutia o futebol e a política, a vida agrícola da comunidade. Tomava-se conhecimento de todas as novidades. Além da sua profissão era “o médico“ “o enfermeiro“, o conselheiro das pessoas no tratamento das suas moléstias. Em determinados dias da semana percorriam a zona fazendo quilómetros a pé no atendimento aos seus clientes que mais tarde lhe pagariam os seus serviços com os produtos agrícolas da sua lavoura.
O carpinteiro: Santo André foi durante a década de 50 conhecida como terra de carpinteiros. Era uma profissão muito usual nesta terra Participaram na construção da maior parte dos principais edifícios construídos no nosso concelho. Quando escasseava o trabalho ou havia grandes obras noutras regiões, deslocavam-se, vindo a casa quinzenal ou mesmo mensalmente. Assentavam as obras: portas, janelas, caixilharias, usando hábilmente com muita mestria o martelo, os pregos, as plainas e os formões.

(Continua no próximo número)