FEIRA DOS SANTOS

Feira dos santos magualde 2018 (4)
Nos próximos dias 2 e 3 de novembro terá lugar na cidade de Mangualde, mais uma edição da secular Feira dos Santos.
Um certame que de ano para ano, tem vindo a ganhar terreno a afirmar-se como um dos maiores eventos de inverno do país.
A um mês da sua realização, deixamos ao leitor um pouco da história da Feira dos Santos
“A FEIRA DOS SANTOS
Origem, evolução e produtos transacionados.
As febras 1 - Dos textos e documentos históricos não percebemos quando nasce, efectivamente, a Feira dos Santos. Sabe-se sim que feiras semanais e mensais já aconteciam em Mangualde e em algumas localidades do concelho desde tempos remotos (vide o ponto 2.1).
2 - Princípios do século XIX - havia a feira do primeiro domingo de Novembro que tinha já atingido, nesta época, uma importância excepcional e rivalizava com a de Santiago de Cassurrães, o que levou a que, por deliberação da Câmara Municipal, estas duas feiras, tidas como principais, passassem a ter três dias de duração, para todos os géneros e negócios. Os dias destinados foram Sexta-feira, Sábado e Domingo. Acresce que esta medida visava também evitar os inconvenientes a todos os participantes da feira, pois na realidade só havia, até àquela altura, mercado ao Domingo. As alterações na periodicidade das feiras e mercados de Mangualde foram-se sucedendo e foi a partir de Junho de 1948 que deixaram de se efectuar aos Domingos, com excepção da Feira dos Santos que passaria a realizar-se nos primeiros Sábado e Domingo de Novembro. Actualmente essa deliberação foi revista e determina que a feira se realiza no primeiro domingo de Novembro e no sábado que o antecede. Podemos, contudo apontar que a Feira dos Santos terá mais de 200 anos Evolução, produtos e perspectivas
2 - Finais de século XIX e princípios do Século XX - impulso principal, com alguma importância regional. Produtos transacionados neste período: - Lanifícios oriundos da indústria da Serra da Estrela (Gouveia e Covilhã). [Aquela indústria tinha necessidade de escoar e colocar os seus produtos nos vários mercados nacionais e, dada a localização privilegiada de Mangualde, a Feira dos Santos funcionou como entreposto comercial. A Feira dos Santos assumiu papel importantíssimo na distribuição inicial daquele produto e, só mais tarde, na segunda década do século XX, se instalam na vila os armazéns de lanifícios e destes se passou a fazer a distribuição, quer através do comboio quer por via rodoviária]. - Produtos e bens essenciais: vestuário, calçado, bens alimentares, utensílios e alfaias agrícolas.
3 - Durante o século XX, com especial ênfase nas décadas de 40, 50, 60 e também 70) - a Feira dos Santos assume grande projecção regional. Produtos transacionados neste período: Bens essenciais e aqueles relacionados com as actividades económicas locais e regionais (de cariz marcadamente rural): vestuário, calçado, produtos alimentares, alfaias agrícolas, entre outros.
4 - A partir da década de 80 - a Feira dos Santos alarga a sua gama de produtos e adapta-se às novas exigências dos mercados: exibição e comércio de produtos e bens industriais, como local de exposição, como montra de novas oportunidades de comércio e indústria. Todo o tipo de bens.
5 – Actualidade – Feira cosmopolita, de projecção nacional, ultrapassando a dimensão de espaço de comércio e ganhando extensão como evento cultural, evento social, onde actividades como o desporto, a música, a pintura, as artes, entre outras, assumem um papel determinante para o desenvolvimento integral da comunidade e do território. A Feira dos Santos é hoje um acontecimento construído na simbiose entre a Tradição e a Modernidade, ou seja, entre as realidades socioculturais e económicas tradicionais e rurais e as de índole urbana. Onde todas as forças vivas (socias, culturais, económicas, industriais, de lazer, etc. da comunidade local e da região participam). É um elemento definidor da identidade das populações e do território mangualdense e espalhador da cultura da região da Beira Alta pelo país. É, indubitavelmente, património cultural imaterial desta região, porquanto se vem constantemente recriando por esta comunidade e é tido como elemento de identidade e continuidade da mesma.
FEBRAS – a Feira dos Santos é, também, popularmente conhecida como feira das febras. Tal deve-se, fundamentalmente, a dois factores decisivos, com desenvolvimento ao longo da história:
1-A duração da feira (2 dias) - implicava a permanência dos feirantes e dos visitantes, sendo necessário tomar as refeições no local.
2- A carne de porco sempre assumiu um papel crucial na alimentação dos portugueses. Improvisar um “restaurante” num espaço como o das feiras obriga a que a confecção das refeições seja simples, rápida e eficaz. Assim, fritar as febras na sertã, grelhar as febras na brasa, fazer os rojões e as morcelas (de fabrico local) e acompanhar com o pão regional e o vinho afigurava-se a maneira mais eficaz de responder às solicitações dos feirantes e visitantes. O gosto especial de tais iguarias, fruto da habilidade e sensibilidade das cozinheiras e cozinheiros ambulantes, foi ganhando fama e projecção e hoje é um cartão-postal, já com identidade própria no seio da própria feira.”
António Tavares, 2014