Publicar um livro

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Todos os que gostam de escrever, poesia, ou prosa, têm sempre no seu imaginário a futura publicação do seu trabalho, isto é, publicar um livro.
Acabei de publicar há dias o livro “ Liquidação de uma Dinastia” da autoria do escritor, historiador e investigador Dr. Maximiano de Aragão, nascido em Fagilde e meu parente directo já que sua mãe Albina Figueiredo era irmã de meu trisavô Luís Herculano.
Mas, publicar um livro não é tarefa fácil, nem barata. Os livros têm venda difícil, mesmo para os escritores afortunados e com nome feito. Para os desconhecidos, mesmo pequenas edições não está ao alcance de todos, porque é caro.
Vem isto a propósito de há uns dez anos, tendo eu um livro para publicar, por coincidência, vi um anúncio publicado num jornal que dizia:- “ Publique o seu livro sem custos “.
Imediatamente, entrei em contacto com a empresa e marcámos uma reunião. Daí resultou quererem ver os textos a publicar, pelo que deixei uma cópia.
Dias depois, penso eu, sem ligarem nenhuma às folhas que tinha deixado, numa outra reunião, acharam o livro muito interessante, mas, os custos da montagem e impressão, da apresentação, distribuição e notícias na comunicação social eram muito elevados e eu teria de adiantar uma verba, que posteriormente seria acertada com a venda do livro.
Achei a verba bastante elevada, fiquei de pensar e pedi as folhas originais que tinha deixado. Ligado pelo meu trabalho a Gráficas, resolvi pedir a uma delas um orçamento, que para meu espanto era inferior ao que me tinham pedido. E os livros eram todos meus, ao contrário da proposta apresentada em que me davam sómente 10% dos livros para distribuição própria.
Imediatamente mandei imprimir o livro e fiquei com a edição toda, sem ter que dar uma comissão nas vendas à referida empresa, como me tinham proposto.
O assunto encerrou aqui e nunca mais me lembrei dele.
Este Verão, após ter feito uma intervenção cirúrgica, no tempo de recuperação, chegou-me às mãos um interessante livro do escritor italiano, Umberto Eco, falecido em 2016 -O Pêndulo de Foucault.
Umberto Eco, escritor, filósofo e professor universitário na Universidade de Bolonha, que recebeu vários prémios literários, autor de outro Best Seller - O nome da Rosa - no livro “ O Pêndulo de Focault” versa sobre os Templários e uma rede imaginosa de mistérios, de mapas do invisível oculto, de segredos para reconquistar o mundo, tem um capítulo muito interessante que me fez recordar o que acima descrevo.
Não fora esta coincidência e o caso estava completamente esquecido.
Conta Eco que em Milão existia uma editora propagadora de obras de ocultismo.
O seu proprietário o senhor Garamont, que dava o seu nome à editora, era um prodígio de imaginação e de malabarismo.
Um dia um cliente pretendia publicar um livro e procurou o sr. Garamont. Recebeu-o no seu belíssimo gabinete e ouviu atenciosamente a sua proposta. O sr. Garamont tinha uma secretária particular. Estava combinado com ela que tocando um botão de uma campainha escondido debaixo do tampo da sua secretária, esta lhe passaria uma chamada fictícia.
Atendia e falava com um imaginário grande escritor a quem procurava convencer da dificuldade do mercado e de ter que fazer um pagamento adiantado.
Terminada a chamada, pedindo desculpa ao seu cliente pela interrupção, aproveitava para comentar o que acabara de dizer a um dos maiores escritores actuais.
Depois de muitas explicações convencia o cliente a dar uma entrada para a impressão, custos de promoção, etc. Havia ainda uma cláusula. Os livros que não fossem vendidos, o cliente poderia adquiri-los por metade de preço da venda.
Fechava-se o contrato, o cliente desembolsava o dinheiro e aguardava a impressão e a distribuição, que incluia notícias em revistas e jornais sobre o aparecimento da obra.
O sr. Garamont punha em práctica a segunda parte do plano. Dos 2.00 exemplares combinados só imprimia 1.000. Dos 1.000 só mandava encadernar 500.
Faltava a terceira parte do plano. Cerca de um ano depois, comunicava ao seu cliente, que o mercado estava difícil, que as vendas tinham sido diminutas, que as pessoas eram duma grande ingratidão e indiferentes para um génio como o seu cliente e que tinham sobrado bastantes exemplares e que se não os quisesse adquirir, como estava estabelecido, iam direitos para o lixo. Que era uma pena e que ele poderia aproveitar para os oferecer aos familiares e amigos. Convencido o cliente, o sr. Garamont recebeu o valor dos livros que não tinha distribuído.
Este “grande” editor, convincente e desonesto, muito amável e simpático, ganhava assim a sua vida. Na sua empresa tinha criado uma pasta a que chamou:- “ APC-Autores Pagos à sua Custa”.
Ao contrário do que eu pensava este processo é mais coerente do que eu imaginava. Ùltimamente consultei duas novas empresas e constatei que o processo era sempre o mesmo. E tive conhecimento, que um amigo, escritor conhecido e com vários livros publicados caiu na mesma armadilha. Queixava-se que para dar livros aos amigos foi obrigado a comprá-los à editora.
Para terminar, uma frase do grande escritor brasileiro Érico Veríssimo , no livro “ O Senhor Embaixador - os vigaristas são sempre pessoas muito simpáticas”.
E são ! ...