A VOZ DO COMERCIANTE

Depois do país ter transitado do estado de emergência em que se encontrava desde o passado dia 18 de março, para o atual estado de calamidade que teve inicio a 4 de maio, Renascimento entendeu escutar alguns comerciantes da cidade de Mangualde para saber um pouco, como foi viver esta situação extraordinária provocada pelo COVID-19
ANTÓNIO RIBEIRO – CASA BEIRÃO
REN. - Como é que viveram este problema do isolamento com as medidas que foram tomadas devido ao COVID-19?
A.R. - No início, com as notícias, fomos dando conta como as coisas evoluíam, e que o comércio ia ter que fechar. Decidimos encerrar logo por auto iniciativa, mesmo antes do estado de emergência.
O confinamento foi-se aguentando, colocamos aqui na porta um aviso para qualquer coisa de emergência.

REN. - Mas como é que sentiu verdadeiramente esta questão. Como é que reagiu?
A.R. - Houve algum receio, é tudo desconhecido, e depois, a informação ia caindo a conta gotas, primeiro não era preciso máscara, depois, e com a sociedade civil que se ia antecipando, já era e, houve aquela altura, em que as máscaras eram todas canalizadas para o meio hospitalar e situações de emergência, de resto, acho que fomos tentando perceber e agindo de acordo.

REN. - Considera que as propostas do Governo poderiam ter sido outras, ou acha que de facto as medidas tomadas foram as melhores, as mais corretas. Sente-se prejudicado por estas medidas?
A.R. - Acho que toda a gente foi prejudicada, mas também tinha que ser. Havia comércio de primeira necessidade que tinha que ficar aberto, bens alimentares, combustíveis, farmácias, tinham que estar abertos e claro, outros de segunda necessidade tinham que ficar em stand by para podermos combater este inimigo invisível.

REN. - Agora, abriu a loja e como é que está a evoluir a situação?
A.R - Abrimos… e têm vindo pessoas, pessoas que já estavam um bocadinho fartas de estar no isolamento e tinham necessidade de vir, até para sair um pouco à rua, desanuviar. Têm vindo de máscara, praticamente toda a gente tem cumprido, lá há um ou outro que chega aqui e ainda fica reticente. Tivemos uma cliente que veio sem máscara e tivemos que chamá-la à atenção. Por ela não se importava, mas tivemos que salientar a proteção dos outros. De resto, as pessoas têm vindo precavidas, penso que já todas começaram a interiorizar que tem que ser assim.
ANTÓNIO FREITAS - FOFÃO
REN. - Como é que sentiu este problema do COVID-19?
A.F. - Muito difícil. Tanto em matéria de negócio como este confinamento que tivemos em casa, mexeu um bocado connosco.

REN. - Que tipo de reações é que o sr. teve, a nível do seu sentimentos. Como é que o sr. reagiu?
A.F. - Eu até reagi muito bem. Mesmo confinado dentro de casa, tínhamos que nos conformar que era aquilo e aquilo mesmo.

REN. - E considera que as medidas que foram tomadas pelo Governo foram as mais corretas?
A.F. - Eu acho que sim, também melhor não podia ser. Nem os países mais industrializados, não estavam preparados para isto, quanto mais Portugal, um país pequenino, mas mesmo assim acho que agiram muito bem.

REN. - E agora que abriu a sua loja, como é que as atividades se estão a desenvolver?
A.F. - Devagar. Os clientes começam a vir, mas devagarinho.

REN. - E a máscara, como é que se sente a andar de máscara?
A.F. - Isso é que é muito mau. Não se anda à vontade.

CECÍLIA – FLORISTA ORQUIDEA
REN. - Como é que sentiu este problema do COVID-19?
C. - Como qualquer pessoa que tem um comércio a dar despesa todos os dias, foi com preocupação e a gente tem alguma dificuldade em pagar as contas, mas pronto… temos que seguir.

REN. - Sentiu-se como, muito negativamente?
C. - Sim senti. Nós não sabemos o que nos espera futuramente.

REN. - E pessoalmente, sentiu constrangimentos pessoais ou pensamentos negativos?
C. - Não. Nisso penso que estive bem. Em relação ao comércio é que estamos um bocadinho com o pé atrás. Não sabemos como vai ser o futuro.

REN. - Então, a sua reação foi positiva?
C. - Bom, não é que fosse positiva, percebi e tive que a aceitar. Não me posso ir abaixo, temos que pensar que é um dia de cada vez e o futuro será melhor, vamos ver.

REN. - E as medidas que o Governo tomou, considera que foram as corretas?
C. - Acho que sim, esteve bem e foram as corretas. Na minha maneira de ver acho que esteve bem.

REN. - Com a reabertura da loja, como é que as atividades estão a evoluir?
C. - Isso está um bocadinho mais fraco, vai indo devagarinho, mas nada como antes. Acredito que as pessoas têm que saber dar a volta, ter os devidos cuidados e a vida tem que continuar, não podemos parar.

LUÍS PACHECO – PACHECO OCULISTA
REN. - Como é que sentiu este problema do COVID-19 e todos os constrangimentos provocados?
L.P. - Nós estivemos encerrados durante duas semanas logo no início, entretanto fechamos em lay-off, as funcionárias foram para casa e ficamos os patrões a tentar assegurar com horário reduzido. Abrimos mas o que verificamos é que isto está parado.

REN. - Agora, qual é o seu sentimento?
L.P. - É preocupação. Logo de início começou-se a pensar nisso e, depois, quando reabrimos verificamos que não havia clientes, não havia trabalho. Agora, esta semana que alterou para estado de calamidade já se começa a notar algum movimento tímido. As pessoas já perguntam por consultas médicas da especialidade, a encomendar, principalmente lentes de contacto mas, ainda muito poucos.

REN. - O que acha das medidas que foram tomadas pelo governo, foram corretas?
L.P. - Eles anunciaram e tudo o que anunciaram parecia ser bom. Agora, daí a serem concretizadas, ainda não se viu nada. Mas, as medidas propostas devido à pandemia, sim, acho que sim foram ideais para tentar controlar.

REN. - E em termos das suas reações em relação ao que que se espera. Que tipo de medidas acha que eles vão tomar?
L.P. - Eu acho que deviam principalmente aplicar as medidas, não só anunciá-las.

REN. - Quais são as medidas a que se refere?
L.P. - Falaram em fundos para ajudar as empresas, para pagar os ordenados, para pagar talvez os impostos. Vamos ter que pagar o IVA, a Segurança Social e será difícil, porque não entrou dinheiro e há essa dificuldade e preocupação e eles realmente falam em medidas, mas ao fim e ao cabo são empréstimos bancários, não é mais nada.

REN. - Considera que isso é suficiente, o que é que deveria ser feito?
L.P. - Isso é difícil, não sei bem o que fazer mas pelo menos facilitar por exemplo os Impostas, se calhar anular alguns impostos por algum tempo, ou os empréstimos bancários vencerem a zero por cento os juros.
Foi um grande esforço para o pequeno comércio, isso foi!

HENRIQUE SILVA – PAPELARIA ADRIÃO
REN. - Como é que o sr. sentiu este problema com a loja fechada e todo o constrangimento resultante?
L.P. - Houve uma preocupação principal que foi também a nossa defesa em relação à saúde. Não só as minhas funcionárias, todas elas são jovens e têm filhos, tiveram que ficar em casa, eu poderia ter vindo, mas também optei por me resguardar. Felizmente estávamos numa situação mais ou menos estável, não aguentaríamos muito mais tempo, mas conseguimos aguentar o tempo que estivemos fechados e não é fácil reabrirmos novamente com as medidas que temos que ter, mas estamos a conseguir ultrapassar. Não é fácil, as coisas estão difíceis, não vai ser tão fácil e tão breve que tudo se vai recompor.

REN. - Particularmente qual é a sua opinião sobre este problema?
L.P. - Particularmente alguma coisa tinha que existir para conseguirmos que todos fossemos ter em consideração o próximo, ou seja, acho que todas as pessoas estão a ter muita calma, estão a esperar pela sua vez, estão a ser muito condescendentes com os outros que estão à frente. Há a vontade ,e já me aconteceu aqui, clientes com dificuldades físicas a quem todos deram a vez para que tivessem prioridade.

REN. - Considera que as medidas tomadas pelo Governo foram as melhores?
L.P. - Acho que houve uma pressão tão grande de todos os lados, que eles de manhã diziam uma coisa e à tarde já diziam outra. Provavelmente, nós não sabíamos o que faríamos se estivéssemos no lugar deles.
Acho que foi positivo, mas agora, se calhar, limando as coisas, poderia ter sido diferente, mas na altura, teve que ser e tinha…
Agora, desejo que todos nós, se nos protegermos e tivermos consciência que temos que ter isto tudo, vai ser bom para todos nós e vamos ultrapassar isto com alguma passividade.

DÉBORA ARRAIS - FARMÁCIA FELIZ
REN. - Como é que sentiram esta situação do COVID-19 e as implicações que teve no vosso estabelecimento?
D.A. - No início foi muito stressante para nós porque houve muita afluência à farmácia. As pessoas queriam abastecer, comprando máscaras, levando ao esgotamento destes produtos, mas agora está a voltar à normalidade.

REN. - E pessoalmente, como viveu esta realidade?
D.A. - Houve dias que foram muito stressantes e cansativos para nós. Mais pressão, mais movimento. Agora temos que nos habituar à nova realidade com a mudança de muitos hábitos.

REN. - Como é que estabeleceu a relação de trabalho com os clientes, estando no postigo?
D.A. - Foi difícil, não conheciam e mesmo para nós, o atendimento pelo postigo é diferente. Não há contato com a pessoa, o atendimento não é tão personalizado e é mais dificil comunicar. Havia pessoas que nem compreendiam bem, outras a perguntar se podiam entrar na farmácia.

REN. - Houve constrangimentos no fornecimento dos medicamentos, dos produtos?
D.A. - Não. Chegou sim a haver alterações e a haver entregas menos frequentes. Alteraram as rotas de alguns fornecedores que vinham por exemplo duas vezes por dia, e passaram a vir uma vez e às vezes também nos faziam falta alguns medicamentos porque havia pessoas a comprar em maior quantidade, logo acaba por faltar mais vezes a outras pessoas.

REN. - Ainda sentem essa necessidade das pessoas comprarem com maior frequência e quantidade?
D.A. - Sim ainda se nota. Durante o plano de emergência havia pessoas a comprar em grande quantidade mesmos, para três/quatro meses.

REN. - Havia algum medicamente especifico que as pessoas compravam com maior frequência ou mais exagero?
D.A. - O paracetamol que era linha de tratamento para a febre no caso do coronavírus mas depois toda a medicação crónica que as pessoas tomavam queriam ter em casa para que não lhes faltasse.

REN. - E as medidas tomadas pelo Governo, foram eficazes, foram adequadas?
D.A. - Acho que sim. Tinha que ser assim, porque de contrário os casos não iam diminuir, apesar que nem todas as pessoas levaram a sério. Havia pessoas que continuavam a sair de casa sem ter muita necessidade, saiam várias vezes por semana. Notamos aqui pessoas que vinham cá várias vezes na mesma semana.

REN. - Agora, como é que a atual situação está a ocorrer?
D.A. - Agora as pessoas já têm mais consciência, também obrigamos ao uso de máscara para entrar aqui. Toda a gente tem que entrar com máscara e já não estão a comprar em tão grande quantidade e já compram com mais consciência. Já toda a gente trás máscara, já desinfetam as mãos à entrada, já estão a ganhar esses hábitos, se bem que, ainda se veem pessoas a usar a máscara incorretamente, possivelmente porque não têm acesso à informação ou acham que não respiram bem com a máscara e não tapam o nariz e tiram a máscara.

REN. - Considera que já há mais estabilidade?
D.A. - Sim, sim, pelo menos não há aquela necessidade de comprar tanto.

REN. - O stress que poderá ter sentido, seria pelas medidas que o Governo propôs, ou por alguma coação por parte dos clientes?
D.A. - No meu caso, foi mais pelos clientes, porque houve mais afluência. Nós tínhamos mais trabalho. Trabalhávamos mais em stress, digamos, era mais cansativo, era mais a nível da afluência e não das medidas.

SARA CABRAL - OURIVESARIA PEREIRINHA
REN. - Como é que sentiram esta situação do COVID-19 e as implicações que teve no vosso estabelecimento?
S.C. - Foi um bocadinho dificil logo no primeiro dia, porque estavamos receosas do que poderia vir a acontecer, como é que iria ser a reação por parte dos clientes. Com o decorrer do dia a dia passou, e as pessoas foram entendendo os procedimentos.
A reação por parte do cliente foi cautelosa, compreendem as medidas que estão a ser tomadas.

REN. - A nível pessoal, como é que sentiu este problema, como é que reagiu a ele?
S.C. -Quando saiu a noticia do virus, claro que nos sentimos todos receosos, agora, quando abrimos novamente, sentimos também e perguntávamo-nos “como é que vai ser”? Se o cliente ia aceitar ou não esta reabertura de forma normal, se iria aceitar as medidas de precaução que nós iriamos ter que tomar. Até hoje, estamos já no 5º dia de abertura, tudo tem sido razoavel. As pessoas têm aceitado, têm tomado as precauções devidas, também têm tido algum receio andando na rua, procurando verificar se tomam as medidas de isolamento, de usarem a máscara... Tem sido normal, estamos a retomar o caminho ao normal pouco a pouco.

REN. - Considera que as medidas tomadas pelo Governo foram as corretas, as mais adequadas?
S.C. - Eu acho que sim, o comércio duma maneira ou de outra tinha que voltar a tomar o seu direito de abrir.

REN. - Perante o efeito do COVID-19 sente que as situações que foram declaradas de emergência, como o comércio ser encerrado, considera que foi correto?
S.C. - Eu acho que sim, porque de alguma maneira tinha que haver isolamento social e o comércio ter fechado foi o mais certo, numa maneira de proteção. Proteger-nos a nós, aos nossos clientes, os nossos doentes que por vezes têm que andar na rua e fazer a sua vida. O isolamento social, o fecho das lojas, o fecho dos centros comerciais, foi o mais certo, porque sem esse isolamento teria sido muito pior.