covid-19 NA UNIÃO DE FREGUESIAS DE SANTIAGO DE CASSURRÃES E PÓVOA DE CERVÃES

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A União de Freguesias de Santiago de Cassurrães e Póvoa de Cervães, foi, no nosso concelho, a que mais sentiu os efeitos do COVID-19. O aparecimento do virus numa IPSS da freguesia, Lar de S. José, tornou-se de facto preocupante pelas proporções que acabou por tomar. À data, registaram-se já nesta instituição 11 falecimentos, o que torna Mangualde no concelho do distrito com maior número de mortos.
Assim, porque a informação mais correta é a que o Renascimento pretende fazer, sempre, chegar aos seus leitores, contatou com o Presidente da Direção do Lar de S. José, Sr. Pe. Celestino, com a Diretora Técnica, Drª Rute Pinto, com o Clínico responsável, Dr. Paulo Carvalho e ainda com o Presidente da União de Freguesias, Sr. Rui Valério, os quais esclareceram, de forma clara, como tem sido a vivência e atuação nestes últimos dois meses.

Lar de S.José
O Lar de S.José começou sem o termos procurado.Em 1984 criámos o Centro Paroquial para ajudar os mais idosos e também as crianças, para facilitar a vida aos pais que trabalhavam.
Pensámos - o pároco e um grupo de paroquianos - num Centro de Dia para ajudar os idosos sozinhos e sem apoio. Achámos que o Lar não devia existir, pois deviam ser as famílias a cuidar dos seus idosos, mas a realidade mostrou-se bem diferente e tivemos de mudar de ideias. Muitos idosos não tinham família e alguns filhos não tinham possibilidade de cuidar dos mais velhos.
Em 1991 abrimos o Lar de Idosos para um pequeno grupo em instalações provisórias. O Lar foi crescendo apesar das muitas dificuldades. José, nosso padroeiro, muitas vezes nos fez sentir a sua poderosa intercessão.
Temos procurado que o Lar seja uma família, em que os idosos sejam acarinhados. Tem-se procurado também ajudá-los espiritualmente para aproveitarem a sua velhice e os seus achaques. Um dia um sacerdote vizinho dizia que o Lar era uma central eléctrica que produzia energia espiritual para toda a paróquia. É verdade.
Pe. Celestino - Presidente da Direção

Depois de uma breve resenha pelo Sr. Pe. Celestino sobre o “nascimento” do Lar de S. José, entramos agora na questão fulcral, a pandemia do COVID-19, particularmente nesta Instituição. Neste sentido, e para ficarmos a conhecer um pouco de como a instituição está a viver esta situação, falamos com a responsável Técnica, Drª Rute Pinto.

RENASCIMENTO - Quais foram os fatores, na sua opinião, que facilitaram a transmissão e propagação do COVID-19, no Lar de Santiago de Cassurrães?
DRª RUTE PINTO - Desde o primeiro momento, a Instituição preparou-se para enfrentar este surto de Covid-19 tomando as mais variadas medidas para evitar a disseminação do vírus. Entre elas, o uso de equipamento de proteção individual por parte das colaboradoras; o aumento da frequência da desinfeção dos espaços; a redução do número de utentes nos espaços de convívio, como salas de estar e refeitórios, entre outras.
Posteriormente, seguindo sempre as orientações transmitidas pela Direção Geral de Saúde, elaboramos um plano de contingência, procedemos ao encerramento da resposta social de Centro de Dia e cancelámos as Visitas ao Lar de S. José.
Infelizmente, e mesmo tendo tomadas as medidas que considerámos necessárias para evitar a transmissão e propagação do vírus, ele acabou por se instalar na nossa Instituição. Inicialmente foram apenas dois os utentes a manifestar sintomas. Esses utentes foram encaminhados para o Centro Hospitalar Tondela-Viseu com febre alta, foram sujeitos a teste para despistagem do Covid-19 e no dia seguinte recebemos a notícia de que o resultado era positivo. A partir desse momento procedemos ao reforço do uso de equipamento de proteção individual por parte das colaboradoras e os utentes passaram a estar confinados aos seus próprios quartos, uma vez que como tinham estado a utilizar os mesmos espaços de convívio e refeição até esta data (ainda que com a devida redução do número de utentes por espaço), não saberíamos se já havia mais utentes infetados. Como o vírus tem uma propagação muito rápida, o tempo em que os utentes estiveram a frequentar os mesmos espaços sem nenhum ter manifestado sintomas, foi na nossa opinião a principal forma de transmissão e propagação do vírus. Facto que se veio a verificar, alguns dias depois com a realização de testes a todos os utentes. Nesse primeiro resultado obtivemos 37 testes positivos e aí já era muito complicado conter o vírus pois ele já estava “instalado” na nossa Instituição. Viveram-se dias e semanas muito difíceis pois para além dos utentes já havia também funcionárias infetadas, o que resultou numa escassez de recursos humanos difícil de colmatar pela Instituição.

RENASCIMENTO - Face às contingências provocadas pelas situações de óbito ocorridas, em consequência do COVID-19, quais foram as medidas internas adotadas pela direção do Lar?
DRª RUTE PINTO - Quando surgiram as situações de óbitos dos utentes, estes já se encontravam em isolamento social e já existia uma separação física dos utentes com teste positivo e com teste negativo. Esta separação foi feita desde a primeira hora, assim que obtivemos os resultados dos primeiros testes realizados aos utentes. Na totalidade dos óbitos só dois faleceram na Instituição, e um deles já estava com resultado negativo ao COVID-19. Todos os outros acabaram por falecer no hospital, local para onde os idosos eram encaminhados sempre que havia um agravamento do seu estado de saúde.

RENASCIMENTO - Na situação atrás descrita, como é que o Lar suportou a situação de isolamento social a que foi sujeito?
DRª RUTE PINTO - A situação de isolamento social a que o Lar foi sujeito, foi e continua a ser um desafio para todos nós. Quanto aos idosos, alguns entendem e compreendem o porquê desta medida, outros nem tanto. Acaba por ser uma situação complicada, já que se viram privados dos contactos com as suas famílias, deixando de ser possível um abraço e um carinho que tão reconfortante seria numa fase como esta. Dentro da Instituição, as mudanças também são muitas e isso também os afeta. Entre elas, o facto de não conviverem uns com os outros por estarem confinados aos quartos; o facto de as colaboradoras vestirem os equipamentos de proteção individual e eles só as reconhecerem pela voz; o não existir um sorriso visível já que os rostos estão tapados com as máscaras de proteção…tudo isso acaba por afetar os idosos a nível emocional.

RENASCIMENTO - Como é que os familiares reagiram?
DRª RUTE PINTO - Para os familiares esta situação de isolamento social, é uma situação complicada, uma vez que, mesmo entendendo que este confinamento é o melhor para a segurança dos seus familiares, ficam entristecidos por saberem que muitos deles estão com o vírus e não os poderem visitar e alentar nesta situação de doença. O facto de ser um novo vírus, desconhecido até ao momento, e cuja sua evolução é muitas vezes rápida e descontrolada, faz com que as preocupações e o nível de ansiedade dos familiares dos utentes aumentem. O número de óbitos na Instituição que é de 11 até ao momento eleva também os níveis de medo e ansiedade vividos pelos familiares.
Felizmente hoje em dia, com as novas tecnologias é-nos possível atenuar um pouco desta saudade e sempre que possível efetuam-se videochamadas com os familiares mais próximos dos utentes.

RENASCIMENTO - Houve situações de luto que significaram perdas humanas, e, mesmo, afetivo-emocionais, como é que os utentes do Lar, de um modo geral, têm reagido?
DRª RUTE PINTO - As perdas humanas que temos tido, têm sido um duro golpe para todos nós. Por um lado, para os utentes, porque perdem os seus amigos, os seus colegas de “casa”, de quarto e de confidências. Temos que os apoiar muito nesta fase, pois o isolamento social a que estão sujeitos e estas perdas deixam marcas a nível emocional, que muitas vezes são difíceis de colmatar. Por outro lado, para as colaboradoras, porque acabam por ser criados laços afetivos com os utentes e estas perdas muitas vezes são duras de ultrapassar. E, em primeira instância para os familiares que são quem mais fica a perder com estas mortes em tempo de pandemia onde não pode sequer haver uma despedida do ente querido, um funeral digno, e desta forma o Luto torna-se um processo ainda mais difícil e doloroso de superar para estas famílias.

RENASCIMENTO - Nessa situação receberam apoios especiais? Quais?
DRª RUTE PINTO - Até ao momento, já recebemos ajuda por parte da Psicóloga do Município de Mangualde, que prestou apoio psicológico a uma colaboradora que perdeu o pai com Covid-19 e também ela testou positivo à doença. Quanto aos utentes a psicóloga do Município está também disponível para nos ajudar nesta fase menos boa e recorreremos a este apoio, sempre que denotarmos alguma situação mais complicada a nível psicológico e emocional.

RENASCIMENTO - No tocante aos profissionais dos diversos setores de atividade do Lar, como é que estes têm reagido à situação do COVID-19 vivida no Lar?
DRª RUTE PINTO - No que diz respeito às colaboradoras, temos as mais variadas reações. Temos aquelas que testaram positivo e não manifestaram sintomas, ou manifestaram sintomas ligeiros, cuja recuperação foi rápida, e regressaram ao trabalho passados os 14 dias da quarentena, e temos outras cuja doença trouxe mais sintomas e uma recuperação mais lenta, ficando algumas delas com sequelas mesmo após terem testado negativo para a doença.
De salientar, que o nível psicológico de muitas delas foi afetado e demonstram preocupação e alguns níveis de ansiedade no regresso ao trabalho.

RENASCIMENTO - Como é que tem funcionado a despistagem do COVID-19, tanto na sua aplicação aos utentes como aos profissionais do Lar?
DRª RUTE PINTO - A despistagem do Covid-19 quer a utentes quer a funcionárias tem sido feita com alguma regularidade. Os idosos que estão com teste positivo, vão fazendo testes para percebermos se o vírus já desapareceu, e este momento temos 16 idosos com teste positivo, mas felizmente o número de idosos com teste negativo é já de 20. Estes idosos estão neste momento separados em dois edifícios distintos, para que não haja perigo de contágio, e as colaboradoras estão também divididas em dois grupos: as que prestam assistência aos idosos com teste Covid positivo e as que prestam assistência aos idosos com teste Covid negtivo.
As Colaboradoras assim que manifestem sintomas característicos da doença ficam em casa a aguardar realização de teste de despistagem, e temos neste momento 7 com resultado positivo ao teste, o que se traduz numa redução de recursos humanos na Instituição.

RENASCIMENTO - A finalizar, solicitamos-lhe que nos transmita alguma informação que possa ter sido omitida nas perguntas que lhe colocamos.
DRª RUTE PINTO - Para finalizar, resta-nos agradecer a todos aqueles que se mobilizaram para nos ajudar neste momento difícil. Fornecedores, anónimos, empresas, Junta de Freguesia de Santiago de Cassurrães, Município de Mangualde, Centro de Saúde de Mangualde, Centro Distrital de Segurança Social, Proteção Civil, aos voluntários, familiares dos utentes, entre outros.
Deixar ainda uma palavra de agradecimento a todas as colaboradoras que têm sido umas verdadeiras guerreiras pela forma como têm enfrentado com toda a sua dedicação, empenho e coragem todas as adversidades que esta nova realidade nos trouxe.
Iremos reerguer-nos e voltar ainda mais fortes. A todos o nosso MUITO OBRIGADA!

Também na área clínica pretendemos transmitir o melhor esclarecimento, nesse sentido, falamos com o médico do Lar de S. José, Dr. Paulo Carvalho que deixou os seguintes esclarecimentos:

RENASCIMENTO - No seguimento do apoio médico que efetua neste Lar, face aos casos diagnosticados com a infeção COVID-19, como é que tem gerido essa situação clínica?
Por recomendação da Direção Geral de Saúde, a partir do início da Pandemia por Covid-19, fiquei impedido de fazer o acompanhamento presencial dos utentes do lar.
Logo que foi possível, este acompanhamento presencial passou a ser realizado por uma colega médica credenciada para observação dos doentes infetados com covid-19 que consegui contactar para o efeito.
No entanto, desde o início da Pandemia, tenho feito a avaliação dos utentes do lar diariamente, por via telefónica e e-mail, com recurso aos parâmetros facultados pela senhora enfermeira da instituição.
Tenho ainda reportado os dados clínicos relevantes à senhora delegada de saúde.

RENASCIMENTO - Quais os tipos de procedimentos clínicos internos ou externos à instituição por si utilizados?
DR. PAULO CARVALHO - Para além daquilo que já referi na questão anterior, continuo a emitir o receituário crónico dos utentes e acompanho a atividade desenvolvida pela minha colega, fornecendo-lhe todos os elementos que resultam de um conhecimento aprofundado das respetivas patologias, de modo a que possa desempenhar a sua função da melhor forma possível.

RENASCIMENTO - Como é a atual situação clinica do Lar no que respeita ao COVID-19?
DR. PAULO CARVALHO - Como é do vosso conhecimento a disponibilização desta informação está a cargo da Direção Geral de Saúde.

RENASCIMENTO - Na atual situação que vivemos, poder-se-á dizer que a situação difícil vivida pelo Lar foi ultrapassada?
DR. PAULO CARVALHO - Como certamente já ouviram dizer, estamos perante uma doença nova. A comunidade científica e médica ainda desconhece muitas informações a seu respeito e há algumas divergências quanto à sua origem, evolução e terapêuticas a adotar. Embora neste momento o número de doentes infectados seja menor por motivos óbvios, nada posso adiantar como certeza, mas creio que estamos no bom caminho para tudo acabar bem com os atuais utentes. Para isto devemos continuar a seguir as orientações da Direção Geral de Saúde nomeadamente no que concerne ao confinamento, medidas de higiene, limpeza das superfícies e uso adequado dos equipamentos de proteção individual.

A finalizar, e também para termos um melhor conhecimento do estado geral da União de Freguesias, falamos com Rui Valério, Presidente da Junta.

RENANCIMENTO - Como Presidente da Junta de Freguesia de Santiago de Cassurrães e Póvoa de Cervães, como é que explica o facto de terem surgido situações de contágio epidémico do COVI-19, com consequências trágicas, 11 mortes, no espaço territorial da sua Junta?
RUI VALÉRIO - Infelizmente surgiu como em muitas tantas IPSS por todo o país e no mundo e todos nós sabemos como tem sido trágico devido á idade dos utentes e já com algumas patologias associadas muitos deles. 

RENASCIMENTO - A ocorrência do COVI-19 aconteceu só numa instituição da sua junta, ela não se propagou a outras, ou mesmo à sociedade civil. Poderemos explicar essa situação como produto, só, do isolamento social, proposto, em situação de emergência, pelas estâncias governamentais?
RUI VALÉRIO - Desde o primeiro minuto que soubemos que havia um caso positivo na nossa freguesia, fizemos todos os esforços para que não se espalhasse mais na comunidade e fizemos uma grande campanha de sensibilização por toda a freguesia, através da Unidade local de Proteção Civil, outros voluntários que se juntaram a nós e apenas só com um objetivo na mensagem FIQUE EM CASA.

RENASCIMENTO - Que outro tipo de atitudes a Junta de Freguesia mobilizou perante tais acontecimentos?
RUI VALÉRIO - Não havia muito mais a transmitir á população, apenas seguirmos as orientações da DGS.

RENASCIMENTO - A Junta, face à situação descrita, assumiu, mesmo, outras posições, ao nível da informação que transmitiu?
RUI VALÉRIO - A informação era simples e com a carrinha da Unidade Local da Proteção Civil, com uma mensagem gravada, apenas pedíamos para todos, por nós, pelos nossos por todos que Ficassem em Casa.

RENASCIMENTO - Presidente de uma Junta Freguesia, perante as situações relatadas, que tipo de experiência adquiriu para lidar com novas situações, que possam vir a ocorrer? 
RUI VALÉRIO - São sentimentos, emoções, tudo vem tudo aparece, tornando-nos mais fortes para outras situações que possam ocorrer, mas cada situação será sempre uma nova situação e cá estarei para estar ao lado do meu povo, das minhas gentes, dos meus fregueses, na linha da frente do campo de batalha por todos eles.

RENASCIMENTO - Como sente, hoje, o clima social da sua junta de freguesia? Será que a estabilidade foi restabelecida?
RUI VALÉRIO - Sinto me uma pessoa feliz por ter pessoas ao meu lado capazes e prontas a ajudar quem mais precisa. Aproveito para deixar uma palavra de louvor a todos que têm ajudado neste momento na Freguesia, no Centro Paroquial de Santiago de Cassurrães, a pessoas anónimas, empresas, aos elementos da ULPC têm sido incansáveis, á Direção da instituição, às funcionárias da instituição, á Sra Enfermeira da instituição, aos jovens voluntários que nos vieram ajudar,  têm sido uns guerreiros e por fim aos mais importantes no meio disto tudo e por eles eu fiz tudo e voltaria a fazer, aos utentes aos nossos idosos vocês merecem esta estabilidade vocês merecem esta dignidade, obrigado por tudo que nos deram que nos ensinaram.

Porque é o mês de Maio, mês de Nª Senhora e, também, mês em que se celebrou o Dia da Mãe, terminamos com duas orações que nos foram enviadas pelo Sr. Pe. Celestino
Consagração a Nossa Senhora
Ó Senhora minha, ó minha Mãe,
eu me ofereço todo a Vós
e em prova da minha devoção para conVosco ,Vos consagro neste dia e para sempre
os meus olhos, os meus ouvidos,
a minha boca , o meu coração, e inteiramente todo o meu ser.
E porque assim sou vosso, ó incomparável Mãe,
guardai-me e defendei-me como coisa propriedade Vossa .
Lembrai-vos que Vos pertenço ,terna Mãe Senhora nossa .
Ah! guardai-me e defendei-me como coisa própria Vossa .

À vossa proteção
Á vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas
em nossas necessidades,
mas livrai-nos de todos os perigos,ó Virgem gloriosa e bendita.