Recordando a importância do Associativismo

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Quem andou um pouco mais atento nos últimos anos já deve ter reparado na enorme facilidade com que se argumenta e contra-argumenta sobre os diversos assuntos nas redes sociais e entre indivíduos de uma alargada faixa etária. Em si mesmo, não é um facto negativo ou censurável se for comedido e regrado com bom senso. No entanto, quantos destes indivíduos, tão disponíveis para teclar e versar sobre tudo e mais alguma coisa estão disponíveis para participar na vida activa de uma Associação?
Esta minha reflexão inicia-se quando, numa qualquer escola do 2º e 3º ciclo deste país, apercebo-me que os alunos estão a sair das salas de aula concentrados em percorrer os corredores olhando para os seus smartphones numa procissão interminável de zombies à espera de ver quem fez um like na foto X ou de quem partilhou uma foto com Y. Ora, longe vão os tempos em que me imaginava sair de uma sala de aula a correr e a berrar para ver se chegava primeiro ao campo de futebol ou à fila para comprar o bolo no bar dos alunos. Que saudades…
Estes pensamentos e divagações, associados a outros factores, levaram-me a pensar no futuro das diversas associações deste país e na importância das gerações mais novas poderem participar activamente nos destinos das comunidades locais enquanto agentes e actores no desenvolvimento comunitário, na preservação da memória, na busca de uma identidade própria e de um território inigualável!
Cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo, o que me leva a concluir que o ser humano não consegue viver isolado, faz parte de um todo, de uma comunidade. Comunidade essa organizada por pessoas que partilham de algum interesse comum ou com consciência de pertença a algo. Assim sendo, a comunidade será a base para a construção ou desenvolvimento de territórios capazes de gerir sinergias criativas focadas no desenvolvimento das populações e para o bem comum. O desenvolvimento local aparece sustentado no exercício de uma cidadania activa e transformadora das condições culturais, económicas, sociais e educativas das populações através de iniciativas de base popular ou histórico.
O património é a afirmação da identidade de uma comunidade constituído por ideias e por objectos com os quais as sociedades afirmam as suas diferenças perante os outros, e é hoje fundamental na celebração da memória e na construção/reconstrução das identidades. Identidade e cultura são quase tudo e, outras vezes, quase nada.
E é nesta dicotomia que a construção da identidade na sociedade deve valorizar a interacção do indivíduo com o meio social em que está inserido e é neste preciso momento que o papel das associações, enquanto elemento catalisador da memória identitária da comunidade, deve ser realçado e enaltecido.
O associativismo mais não é que imprescindível motor de desenvolvimento local e regional. Os valores inerentes ao movimento associativo guardam uma intrínseca afinidade com aqueles que fazem parte do espólio histórico-cultural da saga humana: humanizar a cultura e humanizar-se através desta. No movimento associativo encontramos valores como a liberdade; a solidariedade; a paixão pela causa pública; o espírito de iniciativa; a valorização do trabalho e da partilha, muitas vezes feito na penumbra do silêncio; a defesa de identidades e diversidades; a resistência às adversidades; a mobilização e participação das colectividades em torno de objectivos comuns; a promoção da coesão social, o desporto, a ecologia, entre outros. No espaço do movimento associativo valorizam-se as pessoas, apoia-se a comunidade e previnem-se ou atenuam-se as fracturas sociais. A força do movimento associativo radica na sua representatividade, participação e capacidade reivindicativa.
No entanto, o movimento associativo, a exemplo da sociedade actual, encontra-se hoje numa encruzilhada, onde os desafios não estão devidamente compaginados com perspectivas sólidas. Os tempos de hoje são marcados por uma contínua mudança. O ritmo de vida do cidadão acelerou perigosamente. O homem vive confrontado e voltado para o futuro, o qual chega rapidamente depressa. A realidade é efémera, o tempo transitório, mas o indivíduo, esse, não espera.