REFLEXÕES

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PATRIMÓNIO CULTURAL (3)
Citânia da Raposeira
Vou então direcionar a minha análise- crítica para diversos casos reais de deformação de exemplares do Património Cultural Construído e anulação de muitos outros por incúria ou ignorância. E já agora ficarei pela minha terra e concretamente pela área da Citânia da Raposeira. Recuando um pouco no tempo recordo que já se tem falado e escrito bastas vezes sobre a ocupação romana nesta zona. E sabe-se que quem despoletou as primeiras acções no sentido de se conhecer a sua história foi o Dr. Alberto Osório de Castro, o qual, amante da Arqueologia e com o apoio da Sociedade Martins Sarmento sediada na cidade de Guimarães avançaram em 1889 para pesquisas arqueológicas em terrenos da Raposeira. Trabalhos que deram frutos porquanto descobriram vestígios de estruturas pétreas e materiais que asseguravam estar-se na presença de uma pequena área de banhos de características romanas que estariam integradas num complexo arquictetónico ainda por definir. Porém, houve preciosos achados, material variado comprovando a sua origem e datação onde se incluía, também, o chamado “tesouro” de moedas do tempo dos Antoninos (imperadores).
Este facto provocou alvoroço nos donos das quintas em redor que sentiam uma possível riqueza a sair-lhe das mãos e logo puseram os pesquisadores em debandada dadas as ameaças de que foram alvo. Ficou assim anulada a hipótese de se conhecer a verdadeira dimensão da área construída. Tentaram-se negociações com proprietários e autoridades, porém nada se concretizou. Assim ficou-se com a tristeza de que se iria perder a história dos ocupantes ancestrais daquele território. E, sim, muito se perdeu. Os trabalhos agrícolas que se seguiram ao longo de décadas por pequenas e largas quintas trouxeram a sua inevitável destruição. E a citânia ficou suspensa no tempo… até 1985.
Foi no início desta década que mercê dos entusiasmos revolucionários de 74 um grupo de cidadãos de Mangualde se propuseram criar uma Associação de Defesa do Património Cultural da região, conhecida por ACAB. Foi a partir de 1982 que, tendo-me fixado na minha terra, o então primeiro presidente e motivador da ACAB dr. Marques Marcelino me solicitou a participação neste grupo tendo ocupado o lugar de vice-presidente. Pela minha formação académica e pela sensibilidade em relação à Arte, à História e à Arqueologia senti que tínhamos entre mãos a elevada tarefa de pesquisar o nosso concelho nas diversas vertentes do Património Cultural. Teríamos realmente de o conhecer em profundidade para se poder planear e desenvolver processos da sua preservação. Foi um período extremamente dinâmico e produtivo que ainda merece ser dado à luz da imprensa, para que conste. Mas isso ficará para mais adiante. É um assunto com alguns meandros muito apertados que terão de ser tratados com pinças, como se costuma dizer.
A entrada da ACAB nestas reflexões vai ter a sua justificação nos próximos rabiscos/ memórias.
Por agora deixo a porta aberta para a avaliação e conhecimento da área arqueológica da Raposeira e já agora das Quintas da Fonte do Púcaro e das Campas. Lá chegaremos com cuidado, que o trabalho é árduo.
Junho 2020