GRUPO DESPORTIVO DE MANGUALDE

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Conflitos com os dirigentes dos escalões da formação originam momento menos bom no Grupo Desportivo de Mangualde.
Renascimento ouviu Ricardo Lopes, Presidente da Direção sobre este ou outros temas, entre eles, a sua recandidatura para mais um mandato.

RENASCIMENTO - Esclareça-nos, se fizer o favor, do seguinte. Na opinião publica surgiu a informação de que o Grupo Desportivo de Mangualde iria acabar com os escalões de formação. O clube, contudo, continua com os referidos escalões abertos. O que é que se passou, verdadeiramente, Sr. Ricardo Lopes?
RICARDO LOPES - Eu, sou presidente do GDM há 13 anos e estava convencido no final desta época que era o último. Que estava a fechar um ciclo, porque há cansaço, desmotivação de alguns elementos que me acompanharam desde o início neste percurso e pensávamos que seria o momento indicado para sair. Até porque a próxima época futebolística, na nova conjuntura desportiva, terá, obrigatoriamente que existir grande motivação, grande trabalho, perante a incerteza que se vive na sociedade e vive ainda muito mais no mundo futebol. Eu transmiti essa ideia a quem de direito. Ao presidente da assembleia geral, do conselho fiscal e aos restantes membros da direção. Dei conhecimento, de igual modo aos dirigentes da formação, para que não assumissem nenhum compromisso para o futuro, uma vez que eu ia terminar o mandato durante este mês, junho. As pessoas, a quem eu transmiti a minha mensagem, estavam motivadas, a dar continuidade a este projeto, que é um projeto que começou em 2007. Este constituiu-se com coisas boas, coisas más, mas que teve um crescimento exponencial nos últimos anos, em termos de número de escalões de formação e do número de atletas. Perante a vontade dos diretores da formação em avançar para a liderança do GDM, eu predispus-me a ajudá-los desde o início. E disse-lhes duma forma aberta que podiam contar comigo para fazer uma transição suave, para apresentarem em assembleia um projeto que passasse por ser um projeto semelhante ao que tem sido nos últimos anos. Este projeto tinha de ser alicerçado nos seguintes aspetos: grande respeito pela história do clube; pelas pessoas que fizeram a história do clube; por uma equipa sénior competitiva; e por uns escalões de formação que têm de ser sustentáveis do ponto de vista económico.

RENASCIMENTO - O que é que pode acrescentar mais, neste assunto, para esclarecimento dos nossos leitores?
RICARDO LOPES - Com base no referido, expliquei a minha situação em relação ao Grupo Desportivo de Mangualde. A partir daí, imagine qual é o meu espanto, passado alguns dias, ter conhecimento de que estavam a ser tomadas decisões, nomeadamente a contratação de um novo treinador para equipa sénior, a substituição de algumas pessoas dos atuais órgãos sociais que me acompanham desde 2007, sem que lhes tivesse sequer sido dada uma palavra. Naturalmente, não gostei dessa situação e como não gostei, fiz questão de transmitir às pessoas que se era por ali que queriam ir, eu seria contra e que assumiria isso em assembleia. Estaria contra o projeto deles, porque não era o projeto com o qual eu me identificava e não era o projeto que julgo que o Desportivo necessita para o futuro. Tenho que esclarecer que o Desportivo não é nem só a equipa sénior, nem só os escalões de formação.
O Grupo Desportivo de Mangualde vai fazer este ano 75 anos de história, foi campeão em todos os escalões de formação, escolas, infantis, iniciados, juvenis e juniores, conquistou vários títulos no futebol sénior. Eu próprio, enquanto presidente, conquistei 10 títulos, 6 no futebol sénior e 4 na formação. É nesta simbiose, numa harmonia, entre jogadores, dirigentes e adeptos, que o clube tem que viver. Não pode haver fraturas entre o futebol sénior e o futebol de formação, pois, o Grupo Desportivo de Mangualde tem que ser um todo. O atleta que tem hoje 13 anos e que passa seis ou sete horas por semana nas instalações do Desportivo de Mangualde, tem que ser olhado da mesma forma que um atleta da equipa sénior que passa as mesmas horas. Todos vestem a camisola do GDM, e, por isso, todos têm de ser tratados da mesma forma. Assim, eu, quando sinto que há um sobrevalorizar de um atleta da formação e um desvalorizar daquilo que é um atleta do futebol sénior, serei sempre contra. Estou hoje e estarei no futuro sempre contra qualquer pessoa que tente implementar no Desportivo um projeto desses, simplesmente porque choca de frente com a história do Desportivo de Mangualde.

RENASCIMENTO - O Senhor Presidente não considera estranho estarem a viver uma situação destas, quando, neste ano, atingiram uma plenitude na formação dos jovens. Não considera que atingiram um nível de formação excelente e, por esse motivo, o atual momento não é o mais oportuno para se gerar um conflito interno?
RICARDO LOPES - Acho, estou perfeitamente de acordo consigo. Contudo, face ao que atrás referi, no tocante ao surgimento de um grupo, o qual produziu um comunicado, que estava a assumir posições de gestão contrárias às da Direção do Clube, eu só quero esclarecer , e aproveito esta entrevista para o fazer, de que , não citando nomes, transmiti a essas pessoas que ia avançar com uma lista candidata, novamente, ao GDM, com um projeto que passava por ter escalões de formação sem haver quebra nenhuma com aquilo que é a história do clube, porque os escalões de formação no Desportivo sempre existiram. Não foram estas quatro pessoas que assinaram o comunicado, que inventaram os escalões de formação.
Estas quatro pessoas que assinaram aquele comunicado fraturaram, digamos assim, a história do clube, ou seja, o comunicado que por elas foi feito, está ferido de veracidade. Os próprios foram convidados, por mim, para integrar e dar continuidade a este projeto. Essas quatro pessoas sabiam perfeitamente aquilo que estava a ser feito. Inclusive deslocaram-se à Câmara Municipal para falar com o Sr. Presidente da Câmara, na passada sexta feira, 22 de maio, que antecedeu o comunicado que foi lançado no domingo, 24 de maio. Na sexta feira citada, falaram, como já referi, com o Senhor Presidente da Câmara, apresentando-lhe a sua preocupação sobre a orientação do clube, no tocante aos escalões de formação. Ele, entretanto, disse que ia agendar uma reunião com a direção do clube, porque há um documento escrito, que é um contrato programa do desenvolvimento desportivo, que obriga o GDM a ter todos os escalões de formação. Nessa reunião, o Senhor Presidente da Câmara pediu-lhes para não fazerem nada publicamente, enquanto não falasse com a direção do clube, o que viria a ocorrer na segunda feira, dia 25 de maio. Mesmo assim, as pessoas, no domingo, lançaram um comunicado de enorme gravidade, porque lança atletas jovens contra atletas seniores. Eles referem, no citado comunicado, que 85% do orçamento do GDM é canalizado para o futebol sénior, o que é falso. Eles sabem que é falso. Depois, mais grave que isso, desdobraram-se em contatos telefónicos e em mensagens a oferecer jogadores do GDM a clubes, aqui, nossos vizinhos. Eu, felizmente, tenho algumas dessas mensagens guardadas para, em reunião de Assembleia do Clube, mostrar quem tentou lançar o caos no clube. Uma de exemplo: “O Mangualde vai acabar com todas as camadas jovens, menos os juniores”. Face a essa situação, eu perguntei: quem disse isso? As pessoas diziam que foram esses quatro elementos, os que assinaram o comunicado e mais algumas pessoas ligadas à formação do clube.

RENASCIMENTO - Sente que houve uma tentativa de lançar o clube no caos?
RICARDO LOPES - Sim, quero dizer que houve uma tentativa, a partir do momento que eu assumi que seria candidato, de lançar o caos no clube, oferecendo jogadores, fazendo contactos para pais, transmitindo a ideia de que o clube ia acabar com a formação, quando isso nunca esteve em cima da mesa, nem pode estar, porque o clube assinou, em janeiro do corrente ano, um documento com a autarquia onde se compromete a ter todos os escalões de formação. Por isso, ninguém, mesmo o atual Presidente do GDM, pode, porque lhe dá na real gana ou porque um dia acorda maldisposto, acabar com os escalões de formação dos jovens. As coisas não são assim. Até poderei levar a uma Assembleia do GDM um projeto que conte só com dois ou três escalões de formação e equipa sénior, mas tem que ser legitimado pelos associados. Terei todo o direito de o propor, e mesmo de o implementar, se ele for aprovado em Assembleia, mas, neste momento, enquanto presidente da direção, isso não faz sentido. Não fez no passado, não o faz no presente, nem fará no futuro, algo que seja contra a vontade dos associados. Quem manda no clube, ao contrário do que essas quatro pessoas quiseram fazer parecer, no comunicado que emitiram, não são os diretores, quem manda no clube são os associados. E é em assembleia geral, que se devem apresentar os resultados dos atos de gestão e os projetos para o futuro do clube. É isso que eu irei fazer. Submeter à votação dos associados um projeto de gestão do clube para os próximos dois anos. Se for votado favoravelmente, continuarei a servir o GDM, mas se os sócios o rejeitarem, se quiserem outro projeto, então, afastar-me-ei, mas nunca deixando de seguir e estar atento ao clube.

RENASCIMENTO - O que referiu, explica os motivos que estiveram na origem de alguns jogadores dos escalões de formação do clube irem para outros clubes, por exemplo, de Viseu?
RICARDO LOPES - No presente momento, não lhe posso dar essa informação, ou resposta, porque a nova época desportiva inicia-se no próximo dia 1 de agosto. Nesse dia, o GDM inscreverá na Associação de Futebol de Viseu todos os escalões de formação. Repito, todos os escalões de formação. A partir daí, os pais são livres. Falo neles, não falo em atletas, porque muitos deles são menores. Por essa razão, vão para onde os pais pretenderem, ou seja, dêem a sua autorização. Os pais são livres de escolher os clubes que lhes dão as melhores condições de formação aos seus filhos. Sobre isso, não há dúvidas. A mim, enquanto presidente da direção do GDM, cabe-me defender o clube e por essa razão, desde já informo que o GDM não passará qualquer carta de transferência. Se o clube tiver direito a ser ressarcido, não vai ser esta direção a libertar livremente os atletas. E também isto será colocado a decisão dos associados. Jamais irei pactuar com atitudes que sejam contrárias a um projeto dos sócios para o GDM. Neste último fim-de-semana, de 24 e 25 de maio, eu e a minha direção preparámos um projeto para o clube, com os patrocinadores, com as entidades responsáveis, que são, atualmente, dos maiores financiadores do clube. Preparar um orçamento, hoje, não é a mesma coisa que preparar um orçamento há um ano atrás. Preparar, presentemente, um orçamento é viver com uma grande incerteza. Teremos de dar passos muito seguros, sabendo antemão que terão sempre elevado grau de incerteza, em consequência da situação social que vivemos.

RENASCIMENTO - Esclareça-nos, por favor, essa situação?
RICARDO LOPES - Sem problemas. Recordo o seguinte: eu não tive problema nenhum em assumir, quando cheguei ao GDM, que o objetivo passava pela componente financeira, a redução do passivo e a aposta nas infraestruturas. Foi esse o projeto que apresentei na altura aos associados. Esses objetivos foram conseguidos. Se eu, hoje, perceber, que a prioridade tem que ser a parte financeira deixando um bocadinho de lado a vertente desportiva, irei fazê-lo e apresentarei essa proposta aos associados, porque este clube não pode voltar a cair numa situação que caiu em 2005, 2006… Quando chegámos em 2007, o clube tinha um passivo de 250 mil euros, o Campo Conde de Anadia penhorado pela segurança social, três ou quatro de escalões de formação, cerca de 60/70 atletas. Hoje, 13 anos depois conquistámos 10 títulos, temos quase duzentos jogadores, o Campo Conde de Anadia com um relvado sintético, um passivo residual, uma equipa de futebol sénior na Divisão de Honra. No entanto, para sustentar tudo isto é preciso um projeto credível. É preciso que as pessoas tenham muita responsabilidade, nas palavras e nos atos. Quando pessoas que trabalham no GDM, emitem um comunicado contra a atual direção do clube, fazem contactos diretos com pais, (farei questão de mostrar isto, pois, as informações transmitidas e recebidas, felizmente, ficam guardadas nos telefones) a oferecer os nossos atletas ao Académico de Viseu, ao Repeses, ao Lusitano, ao Viseu United e por aí fora, demonstram não ser as pessoas certas para o clube e isso explica, em grande parte, as razões do meu volte-face. Prestaram, na minha opinião, um mau serviço ao GDM e também à Cidade de Mangualde.
Agora, volto a repetir, não é o Ricardo Lopes, enquanto presidente da Direção, que decide o que deve ser feito ou não no GDM, quem decide são os associados, todas as atitudes que o Ricardo Lopes toma estão legitimadas pelos associados. Foi sempre assim. Todas as medidas estruturantes do clube, como a que retirou o GDM da 3ª Divisão Nacional e o recolocou na 2ª Divisão Distrital, permitindo dessa forma a requalificação do Campo Conde de Anadia, foram colocadas a votação em assembleia.

RENASCIMENTO - Como é que se verificou, ou aconteceu este caso em pormenor?
RICARDO LOPES - Recoloquei o GDM na 2ª Divisão Distrital, na época, num escalão inferior ao Santiago de Cassurrães e do Moimenta do Dão. Provavelmente só a minha mulher e a minha família sabem o que passei, porque era um jovem com 20 e poucos anos e estava prestes a tomar a decisão mais difícil da história do clube. Retirar o GDM da 3ª Divisão Nacional e colocá-lo abaixo de clubes, que respeito, mas não têm a história do GDM. A situação desportiva referida foi concretizada, porque os associados concordaram com esse caminho. No próximo mês, se for legitimado no meu projeto e naquilo que eu acho que deve ser realizado, o GDM no futuro fará ruturas com pessoas, ruturas com instituições, porque as mudanças provocam obrigatoriamente ruturas, quer queiramos quer não. O futebol não vai ser o que era há um ano atrás, porque a sociedade não será, e o futebol, de igual modo, não o poderá ser. Nós, atualmente, temos um orçamento de 100 mil euros por época, no futuro vamos ter que contar com grande incerteza, se calhar, vamos ter que preparar uma diminuição de 20%, 25%, porque não sabemos se vamos ter capacidade para angariar receitas como habitualmente fazíamos. Isto é gerir com responsabilidade, e quem pensar que pode fazer o GDM uma rampa de lançamento para se projetar no mundo do futebol, para se projetar na sociedade de Mangualde, está enganado. Eu serei sempre contra essas pessoas garantidamente, no presente e no futuro. Não colherão, julgo eu, grandes apoios junto dos associados, porque os associados do GDM, felizmente, conhecem o percurso do Ricardo Lopes, conhecem o trabalho que as direções do Ricardo Lopes fizeram e estarão sempre atentos a estas manobras menos claras.