7 MARAVILHAS DA CULTURA POPULAR – BORDADOS DE TIBALDINHO

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O Concurso 7 Maravilhas de Portugal existe desde 2007 e procura divulgar e comunicar os valores positivos de uma identidade nacional, com o passar dos anos, várias foram as áreas a concurso para o reconhecimento como maravilha do País.
Este ano, Mangualde, participou no concurso e ao mesmo levou três referências de Mangualde, na categoria de “Artesanato” os “Bordados de Tibaldinho”, em “Festas e Feiras, a “Feira do Santos” e nas “Procissões e Romarias” a “Romaria à Senhora do Castelo”. Destas três referências, os Bordados de Tibaldinho foram selecionados e chegou à fase distrital, onde no passado dia 23 de julho ficaram eliminados, tendo passado a Romaria da Srª dos Remédios.
A data mais antiga dos Bordados de Tibaldinho remonta a 1810. Esta data, surge da necessidade de uma data especifica para a certificação do produto e, depois de grande procura em peças particulares de família, foi possível chegar a 1810, se bem que, segundo Cidália Rodrigues, os Bordadores deverão ter tido origem muito antes, visto que, na data referida o seu rigor já era muito grande, levando a pensar que, teriam que ter começado muitos anos antes para, em 1810, já estarem naquele nível de perfeição.
O Bordado de Tibaldinho distingue-se dos demais pela sua matéria prima. Linho e linha de algodão, simples ou especial. O desenho a lápis de carvão é feito sobre o pano e depois bordado com a linha de algodão, onde os vários pontos formam motivos como sementes, espigas, malmequeres, uvas, etc., dando origem a peças simples ou elaboradas.
Com o passar dos anos e as Bordadeiras a envelhecer, houve necessidade de certificar os Bordados para que o “testemunho” pudesse ir passando para as mais novas através da formação certificada. Assim, Cidália Rodrigues que há 32 anos tem o seu atelier e foi também aprofundando a arte dos Bordados de Tibaldinho, tornou-se na primeira Bordadeira certificada, ministrando vários cursos de formação que têm ensinado a muita gente como se faz o Bordado de Tibaldinho.
O registo do Bordado pela Junta de Freguesia foi em 2012 e a sua certificação em 2017, tornando-se uma mais valia comprovando que este, é um produto artesanal, único e genuíno, de tal forma, que lhe foi permitido entrar a concurso nas 7 Maravilhas da Cultura Popular.
Para sabermos um pouco mais da participação dos Bordados de Tibaldinho no concurso “As 7 Maravilhas” fomos falar com Cidália Rodrigues que amávelmente nos recebeu no seu atelier.

RENASCIMENTO - Como é que surge o concurso as “7 Maravilhas” para os Bordados de Tibaldinho?
CIDÁLIA RODRIGUES - O concurso saiu, foi anunciado na televisão e na internet, quando eu e o meu marido vimos que era a cultura, a arte popular e já estava a concorrer o bordado da madeira, pensamos fazer a candidatura. Podia fazer-se particularmente, mas achei que sendo a câmara a fazer a candidatura seria muito melhor. Decidimos ir à Câmara Municipal e nessa altura foi-nos informado que estavam a preparar várias candidaturas de Mangualde, onde estavam incluídos os Bordados de Tibaldinho.
Foi muito bom. É um orgulho para Tibaldinho, porque houve 540 candidaturas no total e nós ficamos nas 140. Entramos logo, selecionadas por um júri, na pré-seleção para as 7 maravilhas.
Gostávamos de ganhar e ir a mais uma semifinal, mas contam os votos, os votos são do público e nós somos mais pequenos. Não é uma Comissão de Festas, como a Comissão de Festas da Srª dos Remédios ou a que organiza as Cavalhadas de Vildemoinhos, que têm muito dinheiro e depois podem ligar, porque têm um fundo de maneio que lhes permite ligar muito mais vezes que a Câmara. A Câmara investiu, investiu bem, fez uma boa divulgação e nós também, pedimos a muitos clientes, amigos, família para ligarem, mas houve quem tivesse ligado mais. Repare, como se costuma dizer, “quem tem dinheiro toca viola”, portanto para eles era mais fácil ligar. Mas, é muito bom, a divulgação, o estarmos, é um orgulho para Tibaldinho, porque é o único Bordado, no Continente e nas Ilhas que tem o nome da própria aldeia. É de Tibaldinho, depois começou a fazer-se na freguesia e com as formações passou ao concelho de Mangualde e depois de Nelas e Viseu. Na certificação a sua área geográfica são os concelhos de Mangualde, Nelas e Viseu (Viseu concelho).

RENASCIMENTO - E a votação?
CIDÁLIA RODRIGUES - A primeira seleção é feita por um júri e depois a votação depende muito de vários fatores. Eu em Viseu ia divulgando os Bordados, mas certamente as Cavalhadas de Vildemoinhos eram muito mais divulgadas, até mesmo que a Feira de S. Mateus, viu-se nos resultados. Também há o facto das pessoas envelhecidas que não sabem como se liga. Eu tive que ensinar algumas pessoas a fazer a chamada e depois, há pessoas que têm os telemóveis bloqueados a estas chamadas “760…”, eu própria tinha, e tive que pedir para desbloquear. Nós andamos do 5º para o 4º, depois voltamos ao 5º e as colocações iam alterando com o decorrer do programa e das votações. É transparente, é decidido na hora, não há nada de ilegalidade.

RENASCIMENTO -Podemos dizer que a candidatura foi um trabalho conjunto da D. Cidália e da Câmara Municipal?
CIDÁLIA RODRIGUES - De todos…. Todos nós gostávamos que entrasse nas “7 Maravilhas”, é uma mais valia. Não foi só em Portugal que deu, foi também a nível internacional, porque também foi transmitido pela RTP Internacional e então, só o estar presente, já é bom. Só o estar ali, para mim já ganhou.

RENASCIMENTO - Então este concurso, terá sido o evento que mais destaque deu ao Bordado?
CIDÁLIA RODRIGUES - Sim, sim. Apesar de estarmos na BTL ou na FIA, posso estar a falhar, mas este foi o que deu mais visibilidade ao Bordado.

RENASCIMENTO - D. Cidália, o que é que espera agora com esta visibilidade que se alcançou para os Bordados?
CIDÁLIA RODRIGUES - Espero que haja muito mais encomendas, que os jovens comecem também a fazer, nem que seja peças mais pequeninas. Por exemplo, eu já tive um casal de Lisboa, que viu e veio aqui para a nossa zona em turismo rural e uma filha, ainda novinha, pediu para vir ver o Bordado de Tibaldinho. Já tive outra senhora de Faro que não conhecia, e que, só pelo facto do Bordado ser tão clarinho e não ter linhas de cor mostrou o seu interesse. Uma outra, tinha lençóis com o Bordado de Tibaldinho, que não usava e só depois de me ter ouvido, numa entrevista, falar sobre o Bordado, decidiu mudar o quarto e usar os lençóis, tendo-me telefonado depois a dizer que ficou lindíssimo, com uma frescura que não tem explicação. Sabemos bem que as televisões também vendem.

RENASCIMENTO - O programa permitiu ainda mostrar outras utilidades do Bordado. Vimos blusas, saias…
CIDÁLIA RODRIGUES - Sim, sim, eu tenho, porque antigamente já se fazia a roupa de vestir. Eu fiz o vestido de batizado da minha filha com tudo cosido à mão. Estava em Lisboa, mas sempre fui Bordadeira. Sempre fiz Bordado de Tibaldinho e tapetes de Arraiolos também. Agora, se a pessoa, tem uma blusa bonita, com um algodão bonito, já tenho pessoas que fazem isso, mandam-ma e dizem: “aplique-me um motivo de Tibaldinho” e nós aplicamos um já antigo, ou fazemos ali o desenho na hora, ou então, aplicamos até um esboço que o cliente mande. É um bordado diferente, porque permite sempre que a bordadeira vá criando, e o que distingue o bordado é que quantos mais buraquinhos se façam no tecido, mais bonito fica.

RENASCIMENTO - Há quantos anos está neste espaço D. Cidália?
CIDÁLIA RODRIGUES - Tenho este espaço há 32 anos e pago renda deste espaço, não vou estar aqui toda a vida. O que mais me entristece, é que eu não queria fechar os olhos sem ter aqui a Casa do Bordado, ou o Museu do Bordado, onde as pessoas viessem e pudessem ver. Quando eu abri este atelier, foi já porque as pessoas se queixavam. Toda a minha família é daqui. Casei fui para Lisboa e depois tive dois filhos seguidos, quando regressei, decidi comprar um apartamento em Viseu e quando me abordavam eu dizia “vão a Tibaldinho”, mas as pessoas não viam aqui nada aberto, nada exposto. Agora, quando eu fechar, vão onde? A casa das pessoas? Não, agora também têm medo. Devia haver um Museu, um espaço com peças, com bordadeiras a trabalhar, de forma rotativa, porque a minha maior tristeza é esta, de hoje para amanhã fecho este espaço e onde é que vão ver o Bordado.

RENASCIMENTO - Mas então e das Bordadeiras que há, daquelas a quem a D. Cidália deu e dá formação, a sua filha, não há quem mostre interesse em abrir assim um espaço?
CIDÁLIA RODRIGUES - Fazer um espaço, sim, elas até podem fazer, mesmo na casa delas, mas as casas são muito grandes e querem ter a sua privacidade. Mas insisto na necessidade de haver aqui um Museu. Uma casa antiga que não fosse muito grande, haver o Museu do Bordado, a Casa do Bordado ou então fazer-se a Confraria do Bordado.

RENASCIMENTO - Já tentaram isso junto de alguma entidade competente?
CIDÁLIA RODRIGUES - Eu sou muito chatinha, ando sempre a falar nisso.

RENASCIMENTO - A D. Cidália tem dado muita formação, têm sido muitas pessoas. Num futuro, não digo próximo, mais daqui a largos anos, o Bordado poderá acabar?
CIDÁLIA RODRIGUES - Não… Desde que me conheço que escuto dizer que o Bordado vai acabar, mas é assim, ele não acaba, porque aquelas que fizeram a formação, nas horas livres fazem e depois torna-se viciante e calmante, por isso eu digo que não. Não vão acabar, mas também, tem que haver pessoas que tenham poder de compra para o comprar. Por exemplo um pano de tabuleiro, o mais simples possível, custa 25 euros.
Tenho duas primas que, penso e espero, devem ficar a fazer a 100%. Não é fácil. Um casal que comprou casa, uma parte do dinheiro vai para o banco e depois? É preciso haver dinheiro para investir nos materiais.
Quando abri há 32 anos era com um sonho, ter 8 pessoas nos tapetes e 5 nos bordados, mas em pouco tempo, nos Bordados, vi logo que não dava para ter 5 pessoas.

RENASCIMENTO - Tem esperança que o concurso dê agora outra visibilidade e possa ajudar a levar esse sonho da D. Cidália para a frente?
CIDÁLIA RODRIGUES - Repare, eu estou aqui ao sábado todo o dia. Ao domingo, de manhã não que é para a familia, mas se marcarem comigo, de tarde eu estou cá, para mostrar, para receber excursões, mas volto a reforçar, há necessidade de haver um espaço.

RENASCIMENTO - E a certificação? O Bordado é um produto certificado?
CIDÁLIA RODRIGUES - Sim. Em 2012 a Junta de Freguesia pediu o registo do Bordado, até porque, era necessário para se pedir a certificação, depois, o Bordado foi certificado, e esta certificação, para já, é a nível individual. Neste momento somos 4 as bordadeiras certificadas do Bordado de Tibaldinho, se existisse uma Confraria, esta pedia a certificação e tudo era mais simples. Por exemplo, agora vem o “Prato” do concurso “As 7 Maravilhas”, se existisse uma Confraria, viria tudo para a Confraria, para o Museu, para aquele espaço.

RENASCIMENTO - Alguma coisa que queira deixar para finalizar?
CIDÁLIA RODRIGUES - Foi um orgulho, ter ficado nas 140. Vi que todas as bordadeiras estavam felizes. É sem dúvida uma maior divulgação. Agradeço também, a todas as pessoas que votaram nos Bordados de Tibaldinho