O Covid-19 apareceu no final do ano passado na China. Daí para cá, o Mundo não mais foi o mesmo. Tudo se alterou. Sem avisar ou pedir licença, foi tomando conta dos vários países e da vida das pessoas. Agora, tudo é limitado e tudo se faz em função deste vírus, restando a esperança que rapidamente surja uma vacina que permita retomar a liberdade que antes se vivia.
Todos, sem exceção foram afetados e tantos, tantos exemplos poderíamos trazer às nossas páginas mas, porque o verão é a época por excelência dos casamentos, procuramos saber como tem sido a vida na restauração.
Falámos com o Sr. António Lopes, proprietário da Quinta do Cisne, uma referência a nivel de eventos. Nesta conversa, ficámos a conhecer um pouco melhor a Quinta do Cisne e a sua atual situação provocada pelo Covid-19.
RENASCIMENTO – Sr. António Lopes, como é que surgiu a Quinta do Cisne em Gandufe?
ANTÓNIO LOPES - A Quinta do Cisne surgiu pela necessidade de um espaço. Há uns anos atrás, fazíamos muitos casamentos e batizados mas não tínhamos um espaço próprio e por isso estávamos a perder quota de mercado. Então, sob a influência de minha mãe, como tínhamos aquele espaço, orientou-nos para que fossemos para lá e ali nasceu a Quinta do Cisne.
RENASCIMENTO - Então, a escolha ter recaído sobre Gandufe não foi por nenhuma razão especial?
ANTÓNIO LOPES – Não, nenhuma. Como disse, tínhamos o espaço, depois, eu já lá habitava e já tinha investido bastante dinheiro em piscina, jardinagem e árvores e então, porque necessitávamos de um espaço próprio para podermos competir e manter-nos no mercado dos casamentos, optamos por ficar lá. Construímos o salão e, do que posso avaliar, foi uma boa ideia.
RENASCIMENTO – Na Quinta do Cisne têm o salão e um bonito espaço exterior. E cozinha para confeção? Tem confeção própria?
ANTÓNIO LOPES - Temos tudo. Qualquer serviço que façamos é orientado por nós, com material próprio, do princípio ao fim, ou seja, as nossas instalações têm todo o equipamento para produzir o necessário para mil pessoas. Temos câmaras frigoríficas e de congelação adequadas com a dimensão necessária que nos permite que toda a confeção seja feita no local.
RENASCIMENTO - Que tipo de serviços presta?
ANTÓNIO LOPES - Os serviços que nós prestamos vão desde um simples almoço de amigos, com um mínimo de 30 pessoas, até casamentos e batizados, almoços e jantares de empresas e partidos políticos, ceias de natal, passagem de ano, dia dos namorados, dia da mulher. No fundo, todo o tipo de evento com, no mínimo, o equivalente a 30 pessoas.
RENASCIMENTO – Qual a visibilidade e aceitação da Quinta dos Cisne? Os clientes são maioritariamente de Mangualde, ou recebe também de outros locais?
ANTÓNIO LOPES – Posso dizer que os clientes mais fracos são os de Mangualde. Analisando o leque de clientes aqueles que temos menos, são realmente os de Mangualde. Depois, temos clientes de Seia, de Viseu, de Gouveia, do Sátão, de Vila Nova de Paiva. É sempre mais difícil ser reconhecido na nossa terra, se bem que, agora já estão a aderir mais. Os nossos preços também não são dos mais baixos, há aqui na zona quem faça mais baixo. Nós para fazermos bom serviço também temos que cobrar, porque senão não conseguimos fazer um bom serviço. Os empregados também têm que ser pagos e têm que ser pagos adequadamente é todo um conjunto de coisas.
RENASCIMENTO - E como tem sido o sucesso a nível da restauração?
ANTÓNIO LOPES - O sucesso, olhe, este ano está complicado mas, se não estivéssemos em pandemia, estávamos cheios até ao fim de outubro. Desde abril até ao fim de outubro não parávamos, e agora é claro, está um pouco mais complicado porque foi tudo adiado. Este ano estávamos cheios, 2021 estávamos quase cheios, ou seja, estamos a vender com 1 a 2 anos de antecedência. Cancelamentos não houve nenhum, houve sim adiamentos, ficou tudo adiado. Por exemplo para o ano, em julho e agosto temos casamentos quase todos o meses, inclusive durante a semana.
Nós somos reconhecidos. Há uma plataforma, uma empresa multinacional que é o casamento.pt onde nós estamos inseridos que abrange Portugal inteiro, mas falando na nossa zona, o distrito de Viseu, já à 3 anos seguidos que ganhamos o prémio de Wedding Awards, ou seja, somos considerados os melhores no distrito de Viseu. 3 anos seguidos, isso é muito bom, muito gratificante.
RENASCIMENTO - Acha que a Quinta do Cisne e todo o seu movimento está a ter implicações no meio onde está inserida, ou seja, em Gandufe?
ANTÓNIO LOPES - Nós contratamos algumas pessoas de Gandufe para trabalhar, ou seja, damos emprego a pessoas locais. Há certas coisas que nós não vendemos, como por exemplo tabaco, deixamos para os cafés locais. Sabemos que as pessoas por vezes, saem da Quinta e dão uma caminhada pelas ruas de Gandufe e vão até aos cafés locais. Depois, também ajudamos as várias organizações de Gandufe com o que nos é possivel, a Junta, a Igreja…
RENASCIMENTO - Qual é a relação que tem com a Junta de Freguesia?
ANTÓNIO LOPES - Com a Junta, com o António? É boa. Tem colaborado connosco dentro do possível, nós também colaboramos com ele. Como disse, ajudamos bastante, às vezes quando fazem alguma comemoração damos alguma comida, bebidas. Já aconteceu. Quando precisam alguma coisa falam comigo e nós ajudamos, quando eu preciso de alguma coisa, geralmente também colaboram connosco dentro do possível.
RENASCIMENTO – E a nível económico-social, acha que a Quinta do Cisne também tem ajudado, tem contribuído para a melhoria, direta ou indiretamente, da qualidade de vida nesta região?
ANTÓNIO LOPES – Penso que sim, tem dado alguma ajuda. Nós gostávamos de fazer mais, mas também não é fácil porque não há como. Por vezes, nos nossos serviços é difícil controlar o que as pessoas comem e cresce comida. Nós também não gostamos de deitar comida fora, então, na altura falamos com o Pe. João, o pároco anterior, e alguns restos que tínhamos que estavam em condições iam para o lar. Nós também gostávamos de fazer isso na aldeia, mas não há uma estrutura para fazer esse trabalho, já falei com o Presidente da Junta, até porque há uns anos atrás escutou-se que iam lá criar no edifício da escola um Centro de Dia, mas ainda não se concretizou.
RENASCIMENTO – Mas em Gandufe, não há nenhum lar, nem centro de dia?
ANTÓNIO LOPES – Não, estamos a falar da Cunha Baixa. Quando ajudávamos era o Centro de Dia da Cunha Baixa, mas eles também tinham falta de espaço, de câmaras. Quando damos alimentos também queremos ter a certeza que vão ser conservados como deve de ser para que ninguém fique doente. Gostávamos de dar para aquelas pessoas mais necessitadas, ou mesmo não sendo mais necessitadas as pessoas que já são mais idosas, precisam mais ajuda mas não há nenhuma estrutura de apoio.
RENASCIMENTO - Mas agora já não dão essa ajuda?
ANTÓNIO LOPES - Não. Eles não tinham as câmaras frigoríficas para poderem armazenar os produtos. Agora, muitas vezes, dou aos empregados, vale mais que deitar fora. Deitar fora é mesmo o último recurso.
O que nós fazemos é para o bem da nossa terra e do nosso concelho. Temos que ficar bem vistos. Temos pessoas que vêm de longe e então gostamos de representar aquilo que de melhor se faz aqui na zona e nesse aspeto acho que temos tido um bom sucesso.
Na semana passada fizemos um casamento em que eram quase todos de Setúbal, 130 pessoas. Correu muito bem, inclusive, estava lá um funcionário da DGS que ficou admirado e disse que nos vai recomendar à Drª. Graça Freitas.
RENASCIMENTO – São precisos muitos cuidados?
ANTÓNIO LOPES – Sim, muitos cuidados. Falando aqui dos Galitos por exemplo, temos muito mais despesas. É um empregado a mais por piso só para desinfetar. Fechamos a cozinha duas semanas, depois começamos a fazer o Takeway, mas a sala esteve fechada dois meses. É complicado. A Quinta do Cisne está pior. Tínhamos um serviço em 14 de março, e a dois dias do serviço, era dos finalistas de Penalva do Castelo, os pais recusaram-se a ir, porque já havia muita preocupação, imagine como ficou tudo! Agora fizemos um casamento, temos 2 em agosto, e uns 4 ou 5 batizados e depois em outubro.
Não fazemos um serviço com o qual não nos sintamos à vontade, ou seja, quando pegamos garantimos mesmo o serviço mas, tudo isto veio afetar e muito, tivemos quebras muito altas e temos ainda algum pessoal em layoff.
Entrevista realizada em Julho/2020
Fotos: Quinta do Cisne