REFLEXÕES

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Património Cultural (7)
Citânia da Raposeira
Realizadas estas primeiras sondagens em 1985, os resultados foram satisfatórios e sugeriam que estes trabalhos teriam de ter sequência, pensando-se já em campanhas futuras. No entanto estas actividades teriam de ficar reservadas para o verão de 1986 pelas razões que já expus na descrição anterior – a mão de obra era constituída por jovens estudantes, em férias. Fez-se o Relatório da execução dos trabalhos exigido e também o Relatório de contas sendo enviados às entidades competentes cumprindo a lei. Com o trabalho de campo concluído era necessário tratar do material arqueológico retirado das terras e que era constituído fundamentalmente por pedaços (fragmentos) de cerâmica variada, alguns pedaços de ferro com muita oxidação, vidros, etc. Todo este material teria de ser limpo para se poder identificar seguindo-se a marcação e descrição numa pasta arquivo. Estes trabalhos que têm de se realizar após as escavações era todo feito à mão e descrito. Nos dias de hoje, muitas das operações realizadas em trabalhos arqueológicos em campo e posteriormente na investigação, têm o suporte extraordinário da informática, porém nesses tempos passados tudo era manual…
Estas minhas descrições poderão tornar-se enfadonhas, mas refletem a intenção de tornar conhecidas tarefas que foram desenvolvidas por força duma vontade imensa de tornar conhecido um património que se encontrava escondido há muitos séculos. Hoje ninguém imagina o que foram as canseiras e o degaste ao longo de treze campanhas- uma em cada verão de 1985 a 97- desde a sua programação, toda a logística, até ao Relatório final. Esta 1ª campanha foi decisiva para a continuação das prospeções neste local, já que se encontraram partes de muros comprovadamente romanos, além da cerâmica identificada.
Porém, não poderíamos nós imaginar, nem havia informações, de que já há muitas décadas, em 1889 se haviam realizado pesquisas precisamente neste mesmo local por iniciativa do Senhor Dr. Alberto Osório de Castro, em colaboração com a Sociedade de Martins Sarmento, este ao tempo um eminente historiador e arqueólogo. Só puderam trabalhar duas semanas. No final fizeram um ligeiro esboço elucidativo das estruturas encontradas numa pequena área, no entanto não apareceu a sinalização exacta em levantamento topográfico com coordenadas, inviabilizando a sua localização no caso de haver possibilidade de dar continuação às suas descobertas. Por razões conhecidas tiveram de abandonar o campo ao fim de duas semanas Assim, com escorrimentos de águas invernais e terras, em poucos anos se devem ter ocultado estes vestígios passando a ignorar-se este local. Bom foi para os agricultores que puderam utilizar o terreno por todo este tempo, destruindo no cultivo e nas suas buscas de tesouros, vestígios importantes. Seguiu-se um século parado e perdido para o conhecimento da Citânia.
Setembro 2020