REFLEXÕES

PATRIMÓNIO CULTURAL (14)
CITÂNIA DA RAPOSEIRA
Esta estória do Património Cultural é tão vasta que me levaria a desdobrar em muitos capítulos tudo o que me parece importante abordar para conhecimento das voltas e reviravoltas do passado. Vou tentando, embora possa sobrepor ideias ou até insistir em factos que me dançam na memória. E procurarei não perder o fio à meada. Estava em escrita anterior a trazer à liça a criação dos organismos oficiais que a partir de 1980 passaram a superintender nos trabalhos da pesquisa arqueológica. Foram realmente fundamentais na estruturação de todos os trabalhos dessa índole a nível nacional e logo assim no apoio à sua concretização neste sítio da Citânia da Raposeira. Aquilo que aqui teve início numa curiosidade imensa de conhecer o que se esconderia sob aqueles terrenos de hortas, lameiros e milharais, deveria tornar-se tarefa de carácter oficial e não apenas fruto do entusiasmo duma Associação (ACAB) ficando assim, como é óbvio, dependente do visionamento Superior e passando também a usufruir como todos os trabalhos deste carácter no país ao direito de ser apoiado fìnanceiramente pela CMM e IPPC. Só assim se tornaria uma estação arqueológica e não um espaço de mera improvisação.
Foi possível então, oficialmente, contar com o apoio logístico da Câmara e alguma participação financeira que iria compor a verba facultada pelo IPPC. Este percurso só foi iniciado quando já em 1986 se descobriram testemunhos suficientemente importantes. E assim, depois de muito labutar a revirar terras e a perder serões na elaboração do processo legal da actividade, sentímo-nos verdadeiramente motivados para nos lançarmos nesta tarefa sabendo que ano a ano se tornaria cada vez mais desgastante. Com as campanhas de 1986 a 1990 puseram-se a descoberto as principais estruturas, restos de muros e pavimentos que nos possibilitavam a visualização daquilo que se estava a definir como uma enorme habitação com os seus anexos. Foram campanhas de muito trabalho. Em cada mês de junho abriam-se inscrições para alunos do ensino secundário acima dos dezassete anos participarem em regime de voluntariado (contando sempre com uma pequena semanada, em dinheiro, para manterem o entusiasmo). E, depois do primeiro tempo de experiência, este campo arqueológico passou a campo de férias para os intervenientes, embora o trabalho fosse bem duro, era de certo modo original para o grupo de jovens, os quais para além do suor que o sol de Agosto lhes fazia escorrer era também um período de alegre e são convívio. Ainda os recordo a meio da manhã a gritarem “é malta! Hora da “Bóia”! Esta da “bóia “ foi divinal! E todos largavam as ferramentas numa corrida para a sombra das árvores, de farnel na mão! Belos tempos‼ Se algum deles ler estas memórias com certeza se emocionará, penso eu. Foi no tempo mais belo da sua juventude. Hoje já vou encontrando alguns, por aí, com os seus cabelos brancos a despontar… que direi eu!!!
Dezembro 2020