Viver na sombra


Mangualde, outrora designada por Terra de Azurara, cujo foral foi concedido em 1102 pelo Conde D. Henrique, é uma cidade recente. A vila de Mangualde, foi a 23 de Agosto de 1986, declarada Cidade, sendo Presidente da Câmara Mário Videira Lopes (a quem muito deve a classificação) e com apenas 35 anos de idade, esta cidade pode considerar-se uma jovem em plena fase de crescimento. A sua juventude, torna-se ainda mais evidente se comparada com a sua vizinha, Viseu, cidade antiga, anterior à nacionalidade, tomada aos mouros por Fernando I de Leão em 1057. E como qualquer jovem, precisa de orientação, de forma a aproveitar o seu potencial na totalidade.
Com aproximadamente vinte mil habitantes é atualmente a quarta maior cidade do Distrito de Viseu. No entanto, a fraca capacidade de regeneração da população, devido à baixa natalidade, leva ao inevitável envelhecimento, fenómeno comum a toda a região interior do país. É assim uma cidade jovem, mas com população envelhecida.
O que aconteceu entretanto?
O IP5, a via rápida que ligou Albergaria-a-Velha a Vilar Formoso na década de 80, substituindo a velhinha e sinuosa estrada N16, revelou-se bastante perigosa, tendo sido remodelada e convertida em auto-estrada entre 2003 e 2006, dando origem à atual A25.
A Barragem de Fagilde, projetada em 1979, foi inaugurada em 1984. Outro grande empreendimento.
A Fábrica da actual PSG- Peugeot-Citroen, teve origem em 1962 e tem-se desenvolvido nos últimos anos muito para além do seu primeiro veículo produzido, o conhecido Citroen 2CV. Seguiu-se a criação do grupo Patinter em Portugal, para dar resposta às necessidades de transporte desta unidade fabril, com início da sua atividade no ano de 1968 e sede em Mangualde e de outros que entretanto se localizaram no Concelho.
Sem desprimor a todos os projetos que naturalmente a Cidade de Mangualde levou a cabo nos últimos anos, o que merece maior destaque é a Praia Artificial de água salgada inaugurada em 2011 e que trouxe de facto alguma atratividade, inovação e zona de entretenimento para graudos e miudos. Mas será suficiente?
Tendo Mangualde dois terços da sua população ativa, questiono-me como passam os seus tempos livres? Onde fazem as suas compras?
Numa cidade onde a agricultura tem muita expressão e onde os serviços existentes são essencialmente relacionados com o sector agricola, tudo o resto é adquirido fora, naturalmente em Viseu, cidade já de média dimensão, dada a sua proximidade.
É bom saber que a Câmara aprovou o projeto de regeneração do Cineteatro Império, atualmente em ruina em pleno centro da cidade, mas anseia-se pela notícia de quando será construido o primeiro centro comercial em Mangualde.
Mangualde precisa assumir a sua identidade, a sua diferença, beneficiando das suas características para criar atrativos e qualidade de vida de forma a fixar população. Tem que plantar as suas proprias árvores para que não precise de viver na sombra de outros.