A CRIANÇA E O DIREITO DE BRINCAR


Lembro-me de ter ouvido uma notícia acerca de um pai que, na China, investira muito dinheiro para que o filho aprendesse a pilotar, com êxito, um avião. Preocupado também com o desenvolvimento intelectual do filho, providenciara para que pudesse aproveitar o tempo disponível a resolver exercícios de matemática. E para não descurar o seu aspeto físico levava-o a correr nu pela montanha nevada, com temperaturas que chegavam a descer a 13º negativos. Em suma, preocupava-se com muitos dos aspetos do desenvolvimento do filho, quando este era ainda uma criança com a idade de cinco anos.
Quem recebe a notícia fica não apenas perplexo, mas desenvolve um sentimento de comiseração em relação à criança pelo atropelo aos seus direitos.
A Convenção Universal dos Direitos da Criança foi aprovada em 20 de Novembro de 1989 e entrou em vigor internacionalmente em 1990. Até 1997 foi objeto de ratificação por parte de 191 Estados que a ela aderiram.
A Convenção encara a criança já não apenas como objeto de proteção, mas também como titular de um conjunto de direitos civis e políticos. Pela primeira vez, a criança é tida como titular de direitos e liberdades fundamentais, em que se prevê a necessidade de ser olhada com especial atenção, de modo a garantir o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade num ambiente familiar.
Um desses direitos é o direito de brincar. Hoje é consabido que a brincadeira constitui uma atividade fundamental para o desenvolvimento da criança. Brincar não é hoje considerado como uma pura perda de tempo, entendimento que havia ocasionado inúmeros prejuízos ao desenvolvimento harmonioso das crianças e jovens e constituiu durante muito tempo o principal obstáculo à erradicação do trabalho infantil.
Toda a criança tem o direito de viajar para o “país encantado” que a sua fantasia criar. É por meio do ato de brincar que aprende a conhecer melhor o outro, pois introduz a criança no quotidiano das relações sociais, aprende regras de convivência em grupo. Aprende também a lidar com as frustrações e a ultrapassar os seus limites.
Brincar é essencial para a sua saúde física e mental, faz parte do seu processo de formação como ser humano. Quando brincam as crianças recriam e repensam os acontecimentos da sua vida familiar e comunitária. Interiorizam determinados modelos de adulto, imitam alguém, imitam uma experiência vivida na família ou em outro ambiente, servindo, por vezes, de base o relato de um colega, as cenas vistas na televisão, no cinema ou as narrações de um livro.
Brincar tem uma função social, na medida em que contribui para que as crianças se integrem num determinado grupo, e uma função cognitiva, visto que ajuda o desenvolvimento mental. Por esta via, as crianças interagem com o meio, que passam a conhecer melhor, e desenvolvem a sua criatividade, a sua habilidade, a sua inteligência, a sua imaginação. Além disso, desenvolvem, a sua personalidade e têm oportunidade de se conhecerem melhor a si próprias, enquanto lhes é permitida a comparação com as outras crianças. Enquanto brincam compartilham mais, tornam-se menos agressivas e constroem um melhor relacionamento com suas famílias.
Em suma, enquanto brinca, a criança desempenha os mais variados papéis fictícios. Inventa, a brincar, a forma de executar as mais diversas profissões, de manifestar os seus sentimentos, de praticar vários jogos. Vai até onde a sua imaginação a consegue transportar.
Atualmente, os telemóveis e os computadores são duma importância para o desenvolvimento da criança que não podemos pôr em causa. No entanto, tudo o que é excessivo se torna pernicioso. É bom que os progenitores saibam orientar as suas crianças no sentido de poderem dosear convenientemente a sua utilização.