O COMÉRCIO DE VISEU – CRISE PANDÉMICA E RECUPERAÇÃO

Gualter Mirandez, Presidente da Associação Comercial do Distrito de Viseu, analisa para o Jornal Renascimento o Comércio na Cidade de Viseu, a crise pandémica e a recuperação.

COMO FOI A CRISE PANDÉMICA NO COMÉRCIO DE VISEU?
A crise pandémica foi, e continua a ser visto ainda não ter acabado, sobretudo no que diz respeito às suas consequências de efeito prolongado no tempo, uma das maiores provações de que temos memória. Esta crise foi transversal a todos os povos, a todas as atividades económicas, sociais e culturais, a todos os Países, enfim, a todo o Mundo.
Assim sendo, o comércio, e em particular o comércio de Viseu, também não ficou imune a toda a conjuntura pandémica.
Sendo este sector, e mais ainda, o comércio de rua, uma atividade que vive da dinâmica criada pelos fluxos de pessoas, quando se estancam todos esses fluxos e se encerra, literalmente, um País, cria-se uma situação catastrófica para toda a economia, empurrando muitos agentes económicos para uma via de não retorno. E de facto, assim aconteceu, muitas pequenas unidades comerciais encerraram portas por via legislativa, e não puderam abrir mais.

Embora conscientes da premência que ditou esta e outras decisões que levaram a uma brusca alteração do quotidiano das empresas e das pessoas, pensamos que não foram acauteladas muitas situações para que os efeitos negativos fossem atenuados. Foram anunciados e criados apoios para as empresas, aos quais, em teoria, todos poderiam aceder. Mas na prática, as mais flexíveis condições de acesso, condicionaram muitas empresas no momento de candidatura aos apoios. E mais uma vez, constatámos, que os núcleos de decisão, centralizados na realidade da Capital, ficam distantes e alheios da realidade do resto do País.

Houve emendas, avanços, recuos, celeridade e lentidão nas tomadas de decisão e na sua tradução prática, e enquanto isso, houve um País suspenso do seu quotidiano. Assim como, houve milhares de lojas que viram adiados os seus negócios, milhares de transações não concretizadas e demasiado tempo de inatividade.

COMO ESTÁ A SER FEITA A RECUPERAÇÃO?
Chegados ao final do segundo ano de crise pandémica, a questão que se coloca, é se podemos falar de recuperação? E que recuperação é essa? Total ou parcial? Definitiva ou temporária?
Muitas questões continuam em aberto. A começar pela própria evolução da propagação do vírus. É certo que temos mais conhecimento do comportamento desta doença, mas não sabemos tudo. A falta de conhecimento total, faz com que possamos não controlar todas as variáveis da evolução pandémica. E consequentemente surgem outras questões: iremos mais uma vez encerrar? Iremos ter de viver por quanto mais tempo com esta realidade, ainda que de forma epidémica?
Salientamos aqui a capacidade de resiliência da maioria dos lojistas e de todos os empresários que assim vai resistindo até chegarem melhores dias.

QUE APOIOS FALTAM PARA AJUDAR O COMÉRCIO LOCAL?
Para começar os apoios nunca são demais, e muito menos agora em que a generalidade das empresas do comércio, serviços e restauração, continuam ainda muito longe do atingir o volume de negócios que obtinham antes da pandemia, e os apoios ou já terminaram ou estão a terminar, pelo que mais que apoios de momento, seria importante apoios que ajudem efetivamente as empresas a estabilizarem e poderem sobreviver no futuro, nomeadamente, apoios ao investimento, mas principalmente ao nível da fiscalidade e segurança social, através da redução da do IRS, IRC, e TSU das entidades empregadoras.

A RUA DIREITA ERA UM “EX-LIBRIS” DE VISEU. QUEM MATOU A RUA DIREITA?
Infelizmente o problema da Rua Direita, não se confina apenas a esta rua e poderíamos até dar exemplos de outras ruas da nossa cidade e de outras cidades até, embora é a nossa que nos preocupa.
O problema é extenso e com várias causas, nomeadamente, o aumente exponencial da oferta comercial, com o aparecimento de novas formas de comércio, nomeadamente grandes, médias superfícies, e centros comerciais, contra as quais nada temos, apenas com o exagerado número e completo desregulamento no que diz respeito à sua abertura.
Também o comércio eletrónico que conquistou em pouco tempo a preferência de muitos consumidores, não acautelou atempadamente o comércio de rua para esta nova realidade, e também, embora os menos culpados, alguma responsabilidade dos empresários do comércio que com alguma resistência à mudança desvalorizam esta nova tendência e não se prepararam convenientemente para a mudança.
Portanto e antes assim fosse, o problema não só da rua Direita, mas também de várias outras, outrora com comércio pujante e na nossa e noutras cidades hoje com evidentes sinais de decadência

QUE FUTURO SE ESPERA PARA A CIDADE DE VISEU?
O futuro que se espera para a cidade de Viseu, é um futuro onde o comércio continuar a ter o seu papel, e terá que se renovar e desenvolver como a própria cidade, porque uma coisa e outra são indissociáveis, o comércio cria emprego, dá segurança, desenvolve económica e socialmente as ruas, praças e avenidas, promove a atividade turística, um dos seus principais polos de atração.

O futuro da cidade terá de ser necessariamente também o futuro do comércio, aonde todos terão a sua responsabilidade, desde o governo central, as autarquias, as associações empresariais, mas também os empresários do setor. Todos serão importantes na mudança, mas também na continuidade.
A maioria das cidades nasceram através do comércio e assim terão de continuar atrativas dinâmicas, a par do seu comércio.