Turismo de massas, ou turistas com massa?

Todos sabemos que o turismo de massas interessa pouco. A Secretária de Estado do Turismo Rita Marques, em entrevista ao Jornal Renascimento afirmava: “Mais do que trabalhar para acolher o maior número de turistas possível, Portugal deve trabalhar para acolher os melhores turistas”.
O que ganhamos com o turismo de massas? A resposta é cidades desertas e em crise. Voltar a ter turistas é uma prioridade para as cidades, mas há mudanças necessárias na recuperação, por forma a evitar os erros do passado e criar um turismo sustentável.
O crescimento exponencial do turismo nas cidades, atingiu níveis de massificação excessivos, com efeitos perversos para os próprios habitantes e arquitetura das cidades. Gruas, gruas e mais gruas, é esta a paisagem que ainda hoje se vê em muitas cidades. O alojamento local alimentou a especulação imobiliária, descaracterizou, alterou arquitetonicamente as casas, tornando-as em cacifos minúsculos, capazes de alojar o tal turista pouco exigente e de baixos recursos, que pernoita um ou dois dias e não volta mais. Afastou as famílias dos centros históricos e agora as casas estão vazias, mas incapazes de voltar a alojar uma família comum.
O Turismo é uma atividade económica e como tal deve ser um negócio. Por isso, o que mais interessa é captar pessoas altamente qualificadas, que muitas vezes trazem conhecimento, têm dinheiro para gastar e que gostando da nossa terra, voltam e por vezes até empreendem no nosso pais. Estes turistas qualificados querem simplicidade, qualidade, bom acolhimento e procuram a tradicionalidade. Não vêm à procura de estrelas, porque essas têm-nas e melhores nos seus países. Procuram acima de tudo autenticidade. De uma forma geral procuram a nossa Cultura e por isso a oferta cultural é fundamental. Querem ver Museus, Arte, Música. Vêm para ver e sentir, degustar a nossa Gastronomia e relembrar o nosso pais com uma bonita peça de Artesanato. A Cultura não é um parente pobre do Turismo. Bem pelo contrário é complementar. Sem Cultura não haveria Turismo.
A promoção do País e dos seus valores é primordial. E é preciso distinguir ente promover o País ou uma Região e saber promover o Produto. E, esta promoção tem de ser feita pelos donos da oferta. Estamos a concorrer com o mundo inteiro!
São diversas as medidas anunciadas pelas várias cidades do mundo para combater o turismo de massas e os seus efeitos, como a desconcentração da oferta dos centros históricos para zonas periféricas, um maior investimento no espaço público e áreas ao ar livre, uma melhor gestão do número de visitantes nas atrações turísticas, a digitalização de bilheteiras, a aplicação de taxas de entrada e limite de visitas, a proibição da emissão de licenças para construção de novos hotéis ou alojamentos, entre outras. Eu destaco o cross-selling de cidades, que consiste em incentivar os turistas a complementar a estada com outros territórios, promovendo ativamente as suas atrações e lançando iniciativas de venda cruzada. O turista globalmente fica mais noites, o que multiplica o volume de dormidas e receitas, retirando a pressão dos centros históricos e impulsionando o turismo de cidades menos procuradas como o interior.
O Turismo é uma atividade nobre e isso ainda não foi perfeitamente assumido. É preciso refletir nas estratégias de desenvolvimento futuro, para criar um turismo mais sustentável.