PRODUÇÃO e DISTRIBUIÇÃO


O contexto de crise, forçado pelos efeitos da pandemia seguidos dos efeitos da guerra da Ucrânia, tem fomentado múltiplas manifestações reivindicativas de vários setores. Os reformados reivindicam aumentos de pensões, que pelo menos reponham a perda do seu poder de compra real. Os funcionários públicos que tiveram aumentos muito inferiores á inflação apresentam as mesmas reivindicações. Também as empresas solicitam apoios imediatos de natureza fiscal e financeira. Os utentes dos serviços públicos reivindicam melhores serviços. O poder local reivindica mais fundos para compensar a inflação, a crise e a transferência de poderes.
Por seu lado o governo, que até tem aumentado as suas receitas, induzidas pela inflação, tem apresentado programas de apoio às famílias e às empresas.
O governo diz que dá o que é possível dar sem pôr em causa a sustentabilidade das finanças públicas, enquanto as forças sociais manifestam um sentimento de insuficiência.
Em geral a “física económica” não engana. Em tempos de vacas gordas distribuem-se “farturas” e em tempos de vacas magras distribuem-se “misérias”. É assim em todo o tempo e em todo o lugar.
É por isso uma ilusão pensar-se de que é possível haver crise, traduzida em baixas de produção ou de inflação e todos os setores manterem a sua situação, como se nada se passasse. A implacável realidade impõe-se sempre.
Mas nem todos os setores, nem todos os países, sofrem as crises da mesma forma. Cada um sofre os ajustamentos á sua maneira e tão mais dolorosamente quanto menor for o seu nível de riqueza.
E é por isso que os governos para além da sua ação imediata e conjuntural, devem preocupar-se permanentemente com ações estruturais que levem a níveis de produção e a níveis de vida muito superiores. Com mais PIB per capita, com salários mínimos e médios mais altos a capacidade de resistência é muito superior. É diferente a situação de baixa para uma pessoa com um rendimento de 2000 euros para 1800 euros, do que de 1000 para 900.No fim do dia, apesar da mesma baixa relativa, um tem 1800 para viver e o outro só tem 900.

O próprio Estado de um país em que o nível de produção seja muito superior tem, com menos taxa de esforço dos cidadãos e das empresas, mais recursos para a governance do país.
Por isso deveria haver permanentemente uma ambição ativa e apelativa de mais produção nacional. A começar pelo Presidente da Républica, pelo Governo, pelas forças partidárias e por diversas instituições. Mas constata-se sobretudo um acento tónico na distribuição. Fala-se muito em distribuir e pouco em produzir. Há uma grande inércia política em falar em produzir mais e melhor. Mas há algumas exceções. Uma boa exceção, entre outras, é o caso da SEDES, que consciente do problema, proclama a ambição de duplicar o PIB em 20 anos. Outros organismos seguem semelhante ambição.
Ainda temos níveis de pobreza significativos e preocupantes. Salários mínimos e médios baixos. 30% dos pobres é gente que trabalha, mas ganha pouco. Sem mais produção só há ilusão!
Precisamos de modernizar o país e a economia, de aumentar a eficiência do estado e baixar a fiscalidade.
Precisamos de mais qualificações, de melhorar o nível tecnológico das empresas, de reforçar o ritmo de inovação e de I&D, de reforçar o Investimento e as exportações.
Em 2012 investíamos em I&D 1,5% do PIB e tínhamos como ambição para 2020 chegar a 3,3%. Temos ainda hoje cerca de 1,5%. e temos a ambição de ter 3% em 2030. Recentemente tem havido várias medidas nesse sentido. Ou fazemos esse caminho ou seremos, todavia, medianos. Precisamos de inovar, de investigar por via individual ou colaborativa, de subir de patamar de valor, de criar propriedade intelectual. De escalar na dimensão das empresas e de as capitalizar.
Podemos e devemos defender todas as justiças sociais e todos os direitos, é um imperativo moral e político, mas no fim do dia, precisamos dos meios necessários. Precisamos de mais e melhor produção. Sem mais produção todos ralham e ninguém tem razão.